A expressão “rock progressivo” foi usada pela primeira vez na Itália num selo colado num compacto de Alan Sorrenti
ALAN SORRENTI – Aria
(1972, Harvest 3C064-17836)
No início da década de 1970 a música praticada por Sorrenti era conhecida como “milagre” entre os fãs e críticos italianos. Isso durou apenas até 1974, quando o garotão de Nápoles descambou para os caminhos menos áridos da música pop e comercial. No final daquela década era um ídolo teen das garotinhas, fazia disco music e ganhava bastante dinheiro.
Quem conhece somente essa fase mais “tenebrosa” de Sorrenti pode não saber, mas em 1972 ele lançou esta pequena obra-prima, lançada pela Harvest também fora da Itália, mas sem alguma repercussão.
Imagine se Tim Buckley tivesse ido passar uma temporada em Nápoles, no sul da Itália, tendo o Van der Graaf Generator como sua banda de apoio. A grosso modo, é assim que podemos definir a música praticada por Sorrenti em Aria, álbum que na Itália foi um sucesso, transformando seu protagonista num dos poucos nomes “solo” a bater ombro a ombro com os medalhões do gênero nos grandes festivais “open air” bem populares no país.
A expressão “rock progressivo” inclusive foi usada pela primeira vez na Itália num compacto de Sorrenti, que carregava um selo com tal inscrição. Antes, por lá, as bandas progressivas eram apenas chamadas de grupos “pop”.
O maior destaque de Aria é a sua faixa-título, uma ousada e viajante suíte que toma conta de todo o primeiro lado do elepê. Em seus quase 20 minutos, Sorrenti usa sua voz como instrumento, passeando por escalas ousadas (como Buckley fazia muito bem), e alternando momentos de pura contemplação e calmaria com momentos intensos, agressivos e nervosos, no melhor estilo Peter Hammill. Sua banda mantém o tema interessante o tempo todo, coisa rara em canções tão longas – e na reta final, o convidado Jean Luc Ponty brilha com seu violino. O segundo lado traz apenas três faixas, todas impressionantemente belas, doces e delicadas.
O selo Harvest caprichou na prensagem original. A capa texturizada e encorpada de Aria abria em três partes, compondo a enigmática foto de Sorrenti. Já a prensagem francesa, lançada um ano depois, pisou na bola: capa simples e diferente, bem fina, e sem trazer sequer uma imagem do músico italiano. Na contracapa, uma foto de Jean Luc Ponty (!), ídolo na França naquela época.
Texto originalmente publicado na pZ 41.
Que matéria bacana. Adoro rock progressivo e apreciei muito essa “preciosidade” de informações… Muito grato…