Celebramos o legado do baixista relembrando o papo que tivemos com ele em 2012
O pronunciamento veio via Facebook, Twitter e site oficial: Jack Bruce morreu aos 71 anos de idade, postou sua família. Ele que além de uma excelente carreira solo, passou por bandas como Cream, West Bruce & Laing, Graham Bond Organization, BBM e tocou/gravou com centenas de músicos como Tony Williams, Robin Trower, Gary Moore, Rory Gallagher, Carla Bley etc.
A mensagem divulgada foi: “É com grande tristeza que nós, a família de Jack, anunciamos a passagem de nosso querido Jack: marido, pai, avô e lenda. O mundo da música ficará mais pobre sem ele, mas ele sobreviverá por meio de sua música e estará para sempre em nossos corações”.
Jack morreu em sua casa, em Suffolk, rodeado pela família. Acredita-se que a causa foi uma falência do fígado. O músico inclusive havia realizado um transplante do órgão em 2003.
Abaixo relembramos a entrevista que fizemos com Jack Bruce, em 2012, quando ele estava para aportar pela primeira (e única) vez no Brasil. Jack foi inclusive capa de nossa edição número 44.
poeira Zine – Miles Davis e Frank Zappa são considerados os pioneiros na fusão de jazz com rock. Você nunca levou crédito por isso, como se sente?
Jack Bruce – O Tony Williams Lifetime, principalmente depois que me juntei, foi o primeiro grupo realmente digno de ser chamado de jazz rock ou fusion. Penso que a história é sempre escrita do ponto de vista dos vencedores.
pZ – Quando o Cream se separou, aquilo foi, obviamente, um baque enorme. Mas era aquele o caminho que você queria seguir?
JB – Minha carreira poderia ter tomado diferentes rumos. Eu poderia ter ficado em Glasgow e ter me tornado professor de música ou de inglês. De qualquer forma, o Cream proporcionou que as minhas ideias musicais alcançassem um grande número de pessoas e isso era importante pra mim naquela época.
pZ – O que você lembra do funeral de Graham Bond?
JB – No funeral dele tinha um imenso órgão de tubos e eu me senti inspirado a improvisar uma peça musical em sua memória, como forma de honrá-lo. Lembro que muitas pessoas ficaram emocionadas com aquilo. Foi a maneira que encontrei para conseguir me despedir de Graham. O poder da música é com certeza algo transcendental.
pZ – Você tocou com Zappa em “Apostrophe”. Quais as lembranças daquela sessão de gravação?
JB – Eu conhecia e admirava Zappa por algum tempo, inclusive eu e Eric Clapton íamos com certa frequência assistir seus shows vespertinos no Greenwich Village, em New York. Além disso, o Mothers of Invention tinha feito alguns shows com o Cream. Frank entrou em contato e perguntou se eu poderia gravar algo com o meu violoncelo. Como eu não estava com meu violoncelo em Nova York, ele pediu para que eu tocasse baixo, com ele e com Jim Gordon na bateria. Eu improvisei um riff, que se tornou “Apostrophe”.
pZ – Você compunha e gravava seus primeiros discos solo de uma maneira única, muito pessoal. Que tipo de som, ou sentimento, você estava buscando ao fazer aquilo?
JB – Nos meus primeiros discos solo eu gravava as bases apenas com guitarra, bateria e piano. Isso gerava suavidade e criava alguns espaços, o que fazia os músicos escutarem uns aos outros. Também me dava a oportunidade de regravar as partes de baixo por último, o que é sempre muito divertido.
pZ – No próximo mês de maio você irá completar 70 anos de idade. Qual seria o presente ideal?
JB – Meu presente de aniversário ideal seria a paz no mundo, junto talvez de uma Ferrari GTO vermelha.
pZ – Muitos dizem que você tem sempre uma necessidade constante, a de estar num supergrupo. Você concorda? Sempre se sentiu confortável nesse tipo de formação?
JB – Eu realmente não sei o que é um supergrupo. Eu só sei que adoro tocar com músicos inspiradores.
pZ – Como era a cena musical britânica antes dos Beatles?
JB – Antes deles aparecerem, a cena era realmente inspiradora, educacional inclusive. Eu e meus amigos éramos revoltados e queríamos virar o mundo de cabeça pra baixo. Quando os Beatles surgiram, tudo ficou mais colorido, mas existiam muitas outras bandas e artistas igualmente importantes e significantes pela Inglaterra, até então.
pZ – Como é vir ao Brasil pela primeira vez?
JB – Estou muito, muito excitado, por ter finalmente essa chance de tocar no Brasil e na América do Sul. Irei valorizar e aproveitar ao máximo cada momento dessa turnê. Espero encontrar os muitos amigos que fiz através dos anos, mas que ainda não tive a chance de ser apresentado pessoalmente.
pZ – Jack, uma palavra para definir o que vou dizer:
Cream? Transcendental.
West Bruce & Laing? Heroína.
Robin Trower? Dedicação.
Songs For A Tailor? Genie.
Pete Brown? Poeta.
Felix Pappalardi? Tragédia.
Harmony Row? Glasgow.
Gary Moore? Paixão.
Cindy Blackman? Supermodelo.
Things We Like? Jardim da infância.
Graham Bond? Vendedor.
Tony Williams? Gênio.
Graves mágicos e uma voz também sublime.
RIP
Gênio Indomável. Senão, seria ele a gozar do prestígio de um Clapton, por exemplo mas, para o bem e para o mal, Bruce não abria concessões. Ginger Baker que o diga. O Hendrix das 4 cordas.