As aventuras do editor da pZ em New Orleans
Gov’t Mule – Mahalia Jackson Theater, New Orleans (30/04/2010)
Texto e fotos de Bento Araujo
O show extra dos shows extras. Confesso que não pude conter a euforia assim que tomei conhecimento do fato que o Gov’t Mule iria se apresentar num teatro durante o Jazz Fest. Além que assistir a banda no Festival eu ainda teria a possibilidade de conferir o (longo) show completo dos caras, com as tradicionais jams, covers, canjas e tudo mais… Além disso, o show extra da banda durante o Jazz Fest em New Orleans é uma tradição que já dura cerca de dez anos, e foi exatamente numa dessas ocasiões que o grupo registrou seu CD/DVD The Deepest End, com diversos baixistas convidados, em 2003. Como todo bom fã eu costumo acessar com bastante frequência o excelente site da banda, então esse foi outro show que garanti com antecedência.
O Mahalia Jackson Theater foi o primeiro teatro da cidade a reabrir após a devastação do furacão Katrina e é considerado pela banda e pelos die hard fans como um dos três locais preferidos para os longos shows promovidos por eles pelo país.
Chegando no local, passamos na inevitável banca de merchandising, para adquirir camisetas e principalmente o pôster oficial (e psicodélico) do evento daquela noite, numerado e assinado pelo autor (agora ele está na sala de casa, é claro). Enquanto isso, corremos para os nossos assentos, pois no palco estavam os 7 Walkers, banda que conta com Bill Kreutzmann (ex-Grateful Dead) e Papa Mali, além de apresentar letras fresquinhas de Robert Hunter (o letrista oficial do Dead). Para essa “perna” da tour deles, um convidado muito especial no baixo: George Porter Jr. (The Funky Meters).
Depois de um breve intervalo o Gov’t Mule subiu ao palco e ouvimos os primeiros acordes de “Railroad Boy”, uma das faixas mais legais do disco novo da banda. Em seguida, tivemos uma versão irretocável de “Gameface”, do álbum Dose. Foram mais de dez minutos de arregaço, pra já ir deixando todo mundo no clima e a par do que estaria por vir… A terceira faixa da noite foi o que podemos dizer como algo surpreendente: “Since I’ve Been Loving You”, do Led Zeppelin, o melhor blues branco já cunhado nesse planeta chamado Terra. O cover do Led foi seguido por “No Need To Suffer”, do injustiçado grande álbum Life Before Insanity.
Três do disco novo (“Frozen Fear”, “Steppin’ Lightly”, “Any Open Window”), a belíssima “Banks of The Deep End” e “Kind of Bird” encerraram a primeira parte do show. Essa última é um original de Warren Haynes e Dickey Betts que apareceu pela primeira vez no álbum Shades Of Two Worlds, do ABB. Ela também está no Live at Roseland Ballroom do Mule e nessa noite recebeu uma de suas mais inspiradas versões, com 14 minutos de muito improviso.
O som estava perfeito, com Warren Haynes e Matt Abts brilhando como de costume, assim como Danny Louis nos teclados e até guitarra base e Jorgen Carlsson no baixo, que claro, não é nem uma fagulha do que foi Allen Woody, mas segura a onda numa boa. Depois daquela intensidade toda, Warren avisou que teríamos um intervalo antes da “segunda entrada” da banda, tempo de ir ao banheiro e pegar mais uma cerveja…
Para a segunda parte, fizemos uma pequena loucura (principalmente em se tratando de um show no primeiro mundo). Descemos pelo corredor do teatro até encostar a mão no palco e ali permanecemos na maior cara de pau, porém sem atrapalhar ninguém, há apenas alguns metros de Warren e Abts. Logo o pessoal mais freak começou a se juntar ali também, para dançar e curtir o show mais intensamente. Para nossa sorte, nenhum segurança veio nos tirar daquele posto privilegiado. Era uma loucura, drogas por todo lado e uma garota que estava “ficando” com pelo menos três caras diferentes ao mesmo tempo! Free love total, sixties a beça…
Nesse pique levamos uma bordoada nos sentidos, uma versão de 17 minutos para “When The Music’s Over” dos Doors. Quando Warren gritou “We want the world and we want it…Noooooowwww” parecia que mais um Katrina estava passando pelo Mahalia Jackson Theater… Tinha um coroa que estava tão stoned, que enquanto o som rolava ele deitava e abraçava o palco! Surreal!
A agitada e animada “Slackjaw Jezebel” foi a segunda faixa da segunda entrada, logo emendada na grande balada “Fallen Down”. Em “The Other One Jam”, Warren ecoou versos de “Gimme Shelter” dos Stones, antes de partir para uma versão com um novo e agradável arranjo para “The Shape I’m In”, clássico da The Band.
Foi a deixa para o fabuloso solo de bateria de Matt Abts, bem na pegada Bonham, com ele abusando de viradas clássicas do mestre, “trocando os braços” no ar e abandonando as baquetas para tocar com as mãos. A noção de ritmo de Abts é algo de outro mundo e ele ainda teve a manha de começar seu solo com uma levada jazz que muitos poucos bateristas de rock sabem fazer e terminou tudo detonando no djembê, instrumento de percussão africano.
A próxima da noite foi a instrumental “Sco-Mule” com canja de Eric Krasno (olha ele aí de novo!) na guitarra. Brian Stoltz (ex-guitarrista dos Meters) subiu ao palco para “Feel Like Breaking Up Somebodies Home”. Ali ele permaneceu para a canção seguinte, “32/20 Blues”, que também contou com Ivan Neville nos teclados. A última da noite foi “Broke Down On The Brazos”, a primeira do disco mais recente deles, e que em sua versão de estúdio conta com a guitarra de Billy Gibbons do ZZ Top.
Estava terminado, foram exatas três horas de show! Um exemplo perfeito do que é um tradicional show do Gov’t Mule… Deu vontade de largar tudo e virar roadie dos caras, apenas pra assistir mais shows desses pelos EUA. Será que eles estão precisando de um roadie? Alguém aí quer assumir a pZ?