Autor da conceituada série de livros Record Collector Dreams, o colecionador austríaco é o responsável por praticamente ditar o valor de mercado das “bolachas perdidas” ao redor do mundo
Autor da conceituada série de livros Record Collector Dreams, o colecionador austríaco é o responsável por praticamente ditar o valor de mercado das “bolachas perdidas” ao redor do mundo. Pokora respondeu as perguntas dos leitores da pZ diretamente de sua casa, em Viena, na Áustria.
Numa entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, em agosto de 2005, voce disse que não tinha iPod e nem mesmo CD Player. Atualmente você possui algum desses aparelhos para conhecer novas bandas e/ou gravações?
(Anderson Carvalho Carrion Cianorte/PR)
Muitos colecionadores do mundo todo curtem me enviar arquivos pela internet de bandas obscuras e desconhecidas, então esse tipo de arquivo eu escuto no meu computador. Eu não gosto de CDs e até hoje não tenho iPod. O único formato que eu gosto é o vinil.
Como começou essa sua busca por “bolachas perdidas”?
(Haroldo Pires Filho – Duque De Caxias/RJ)
Por volta do final dos anos 60 eu comecei a colecionar LPs de jazz e de blues. A coisa se intensificou mesmo no início dos anos 70, quando assisti ao vivo por inúmeras vezes a minha banda favorita, o Colosseum. Comecei então a colecionar outros discos onde os integrantes do grupo estavam envolvidos: Chris Farlowe, Dick Heckstall-Smith, John Hiseman, etc. Foi através do Colosseum que eu entrei em contato com a música maravilhosa de grupos ingleses como Graham Bond Organisation, Alexis Korner’s Blues Incorporated e outros. Daí já não tinha mais volta…(risos).
Quando você começou a sua gigantesca coleção qual foi o disco que mais te impressionou?
(Rita Manuela Dias – Belém/PA)
Naquela época eu comecei a visitar lojas de discos usados em Londres e em outras cidades da Inglaterra. Eu curtia muito também os famosos “mercado de pulgas” que eles organizavam. O meu primeiro grande achado nessas andanças foi o disco de estreia do Masters Apprentices; fiquei maluco com o som selvagem deles! Num primeiro momento o dono da loja não quis me vender esse álbum por preço algum. Fiz várias ofertas durante a semana em que eu estava pela cidade e ele recusava todas elas… No último dia da minha viagem fiz uma oferta totalmente irrecusável e ele aceitou. Naquele instante então eu me tornei o orgulhoso proprietário dessa maravilhosa obra-prima. Foi depois de adquirir esse disco que o meu desejo de sair à caça de discos obscuros e desconhecidos do mundo todo ficou mais aguçado.
Como você mantinha sua coleção sempre atualizada durante os anos 70? Sem internet era difícil manter contato com colecionadores de países distantes?
(Sandro Alpes – Palmas/TO)
Nessa época começaram a surgir revistas especializadas como a inglesa Record Collector, a americana Goldmine e a alemã Oldie-Markt. Os principais colecionadores e lojas anunciavam seus produtos nessas publicações, então eu comecei a entrar em contato com todos eles, fazendo trocas, comprando, etc. A minha coleção estava crescendo e eu sempre queria mais e mais elepês do mundo todo. Mais tarde eu visitei pessoalmente as principais lojas e os grandes colecionadores da Europa, e muitos deles são meus amigos até hoje. Também nessa época começaram a pintar as primeiras feiras de discos pela Inglaterra e era uma delícia visitá-las.
Seu gosto musical foi mudando com o decorrer do tempo? Digo, no começo você colecionava somente um determinado estilo e depois foi naturalmente ampliando seu paladar musical?
Marcelo Rios (Salvador/BA)
Dos anos 70 até os anos 90 eu colecionava principalmente beat e garage do mundo todo, e curtia também sair atrás de capas bonitas de discos de todas as partes do globo. No início da década de 90 eu comecei a me interessar em colecionar bandas psicodélicas e um pouco mais tarde bandas folk e também progressivas. Para tentar descolar discos nessa praia eu comecei a negociar e fazer trocas de discos dos Beatles com colecionadores de toda parte: capas diferentes, lançamentos exclusivos de determinados países, versões diferentes, etc. Esse tipo de coisa sempre chama muita atenção dos colecionadores de Beatles; foi assim que a minha coleção começou a aumentar consideravelmente.
Quais discos brasileiros da sua coleção foram os mais difíceis de arrumar?
(Tiago Vieira da Silva – Alvorada/RS)
Sound Factory, Outcasts, Spectrum, Módulo 1000 e Marconi Notaro.
Eu gostaria de saber qual é o critério de avaliação para uma obra figurar no seu livro, já que não existe texto, penso que seria a arte gráfica e não a musical… Ou seria outro critério?
(Luiz Calanca – São Paulo/SP)
São basicamente dois critérios para um disco entrar no meu livro. Um é a capa ser única e fantástica; o outro é o álbum conter uma música interessante, diferente; de algum grupo ou artista independente de qualquer país mais exótico.
Qual foi o seu primeiro disco?
(Edmilson Batista da Silva – Uberlândia – MG)
Foi um compacto de 45 rotações do P.J. Proby, contendo “Hold Me” / “Together”.
Você compra LPs pela internet? Se sim, quais as dicas pra não ser enganado?
(Caio Alexandre Zini – São Paulo/SP)
Eu compro sim pela internet, mas normalmente só compro de quem eu já conheço bem, ou de alguém que já possua uma boa e sólida reputação no ramo. Monetariamente, o melhor jeito de evitar aborrecimentos é comprar sempre via Paypal, pois sua compra é feita de maneira segura e rápida.
Você já veio ao Brasil para comprar discos?
(Jairo Guedes – Leopoldina/MG)
Infelizmente eu ainda não visitei o Brasil, mas meu grande amigo Luiz Antonio Torge (Rato) é brasileiro e me ajuda a achar os discos mais raros dos grupos brasileiros.
Na sua opinião, quais países da América Latina faziam a melhor música nos anos 60 e 70?
(Djalma Jorge – Curitiba/PR)
Perú, Chile, Brasil e México.
Seus livros estabelecem o valor de mercado de álbuns raros para colecionadores do mundo todo. Essa sempre foi a sua intenção desde o início ou foi algo que simplesmente “acabou acontecendo”?
(Horacio Razzi – Buenos Aires/AR)
Eu comecei na metade dos anos 90 com o Rare Record Cover Book, que não trazia nenhuma cotação de valor de mercado. Pouco depois eu saquei que a maioria dos colecionadores gostaria de saber quanto valia aproximadamente cada uma de suas raridades. Era algo que eles tinham muita curiosidade. Assim sendo, quando criei a série Record Collector Dreams passei a listar o valor de cada LP, e devo confessar que essa é a parte mais difícil de todo o processo de confecção e criação do livro. Tenho por obrigação contactar colecionadores, lojistas e fornecedores do mundo todo para chegar num consenso de quanto realmente vale cada item do meu livro… Atualmente é mais fácil de chegar nesse valor, pois basta conferir o preço que cada disco é abocanhado nos leilões pela internet.
Quantos discos você tem na sua coleção?
(Jair Pimentel – São Paulo/SP)
Provavelmente alguns milhares de discos… Ainda não contei, nunca tive vontade de fazer isso, é engraçado…
Qual a melhor loja de discos do mundo na sua opinião?
(Luana Só – Florianópolis/SC)
Atualmente eu sinceramente não tenho achado boas lojas de discos nas minhas andanças. Os melhores e mais raros discos eu acho na internet e em listas particulares de colecionadores. No entanto, para relançamentos, a melhor loja do mundo é a Wah Wah Records, em Barcelona, Espanha (www.wah-wahsupersonic.com). Eles costumam relançar muitos álbuns que estão fora de catálogo há tempos…
Qual país exótico nunca produziu uma banda de rock n’ roll? Faltam discos de quais países na sua coleção?
(Roberto Marins – Recife/PE)
Iraque, Coréia do Norte, Egito, Arábia Saudita e Síria.
Que tal lançar um livro contendo somente os mais raros compactos de sete polegadas de todo o mundo?
(Jacinto Correia – São Paulo/SP)
Confesso pra você que acho muito mais divertido colecionar somente LPs, no entanto, existem dois ótimos livros no mercado que abordam esse mundo colecionável dos compactos. Um deles é o Singles and EPs der 60ER Jahre, por E. Weikert. O outro é Die Deutschen Beatbands, que inclui bandas da Alemanha, Áustria e Suíça, e é de autoria de Heinz Dietz e Mathias Buck.
Qual foi a banda mais estranha que você já ouviu?
(Ricardo Seelig – São José/SC)
White Noise (Inglaterra), Brain Sound (Áustria), People (Japão) e Waipot Petsuwan (Tailândia).
Hans, já passou algum disco pelas suas mãos, mas por alguma razão qualquer você não o adquiriu e nunca mais o encontrou?
(Benny Fischer – São Paulo/SP)
Sim, isso aconteceu com um 12 polegadas, de um só lado, de uma banda britânica chamada Jokers Wild.
Qual disco raro ainda falta na sua coleção?
(Wagner Motta – Aceburgo/MG)
Um que ainda me falta é o acetato do elepê do Jesse Harper.
Em se tratando de psicodelia, quais os melhores trabalhos do gênero na sua opinião? Seria um sonho se você pudesse listar os seus discos psicodélicos favoritos…
(Luiza Passos – Porto Alegre/RS)
Ah sim Luiza, sonho realizado então (risos). As principais jóias psicodélicas são essas: Los Macs – Kaleidoscope Men (Chile), Flying Karpets – Same (México), Bentwind – Sussex (Canadá), New Dawn – There´s a New Dawn (USA), Tea Company – Come and Have Some Tea (USA), Eric Burdon and the Animals – Winds of Change (UK), Pan Y Regaliz – Same (Spain), Pink Floyd – The Piper at the Gates of Dawn (UK), Erkin Koray – Same (1st album) (Turquia), Plastic Cloud – Same (Canadá), Cold Sun – Dark Shadows (USA), Beauregard Ajax – Deaf Priscilla (USA), Please – 68 / 69 (UK), Music Emporium – Same (USA), Sound Factory (Brasil), Arcadium – Breathe Awhile (UK), Arzachel – Same (UK), Eugene Carnan – Same (País de Gales), Kaleidoscope – Same (México), Mystic Siva (USA), Twink – Think Pink (UK), e muitos outros…