Entrevista com Robin Trower

O lendário guitarrista falou sobre suas passagens pelo Paramounts, Procol Harum e Bryan Ferry Band! Trower ainda foi franco ao falar sobre as comparações eternas ao grande Jimi Hendrix, relembrou do inesquecível companheiro James Dewar, mas se recusou a comentar algo sobre a polêmica ao redor dos direitos autorais de “A Whiter Shade Of Pale”

por Bento Araujo     09 mar 2015

trios_robin_trowerComo foi tocar rock and roll e rock progressivo com os Paramounts/Procol Harum?

Da época dos Paramounts, as minhas melhores lembranças são das noites em que tocamos no Shades Coffee Bar, onde nos divertíamos ao máximo… Já quando me juntei ao Procol Harum eu estava me desenvolvendo como músico, então foi bem natural tocar a maioria do repertório do grupo.

Na época dos Paramounts, você chegou a abrir shows dos Beatles e dos Stones, qual dessas bandas te impressionou mais?

Digamos que obviamente os Stones eram mais a minha praia… Fazíamos parte da mesma agência que cuidava dos shows do grupo, então era comum a gente abrir o show deles. Tanto os Beatles como os Stones eram excelentes ao vivo. Os Beatles eram bem bacanas, assim como os Stones, que nos recomendaram para os donos dos bares em que eles tocavam. Foi através deles que conseguimos o nosso primeiro contrato.

Robin, compartilhe conosco a sua opinião a respeito da controvérsia entre Gary Brooker e Matthew Fisher a respeito da co-autoria do último em “A Wither Shade Of Pale”. Você acredita que os arranjadores que participam decisivamente na elaboração de uma peça musical inédita devam ter reconhecida sua importância na criação desta mesma música?

Me desculpe, mas prefiro não comentar nada a respeito disso…

Seus dois últimos discos no Procol Harum (Home e Broken Barricades), mostraram uma certa mudança no direcionamento do som do grupo, e uma participação maior de sua parte, inclusive mostrando o que estaria por vir em sua carreira solo. Como foi esse processo de mudança, e por que você deixou o Procol Harum?

Creio que nessa altura eu estava me desenvolvendo mais como compositor. Principalmente em Broken Barricades as canções permitiam mais sons de guitarra como parte dos arranjos. “Song For A Dreamer”, por exemplo, foi uma música que abriu as portas para mim… A partir dela comecei a compor mais e mais voltado para a guitarra. Ficava claro que não haveria muito espaço para isso dentro do Procol Harum…

Muitos fãs consideram Bridge of Sighs como seu melhor trabalho em estúdio. Fale um pouco sobre o processo de criação deste magnífico álbum.

Bridge of Sighs é definitivamente um dos melhores discos que lancei na vida… Creio que ele seja tão forte em função de três coisas: muito do material contido naquele álbum foi executado ao vivo antes de entrarmos em estúdio; a minha criatividade em termos de composição estava em sua melhor forma; e os vocais de James Dewar… A combinação desses vocais com um som cru de guitarra foi o que fez esse disco ser tão bem sucedido.

Muitas pessoas falam sobre guitarras e Hendrix mas gostaria de saber suas impressões sobre dois grandes artistas que trabalharam com você: o baixista e cantor James Dewar e o produtor Geoff Emerick, responsável por registrar magistralmente o melhor som de Stratocaster plugada em um Marshall da história da guitarra elétrica!

Obviamente, James era um músico e um vocalista muito especial; sua voz completava a minha guitarra de forma perfeita… O dia em que o conheci foi um dos dias mais felizes de toda minha vida. Geoff Emerick, por sua vez, era também um engenheiro de som brilhante, com um ouvido abençoado. Sua habilidade em capturar sons de guitarra era simplesmente única, original.

Quando você surgiu como artista solo, comentou-se que, ao ouvir pela primeira vez a guitarra de Jimi Hendrix, você ficou tão frustrado que ficou seis meses sem encostar a mão na guitarra. Essa historia é verdadeira? Você teve a oportunidade de ver Hendrix tocando ao vivo?

Não é verdade que eu desisti depois de ter visto Hendrix tocar… Eu pensei em me aposentar quando vi tanto Hendrix como o Albert King tocar… (risos).

TrowerÉ verdade que no começo de sua carreira você declarou “receber” o espírito de Jimi Hendrix enquanto tocava?

Eu nunca disse isso, que incorporava o espírito de Jimi no palco… Talvez isso tenha sido algo manipulado pela imprensa da época… Essa conexão com Hendrix provavelmente não elevou a minha reputação naqueles tempos… Pelo menos ser comparado com ele sempre foi um elogio; quero dizer, se for para ser comparado com algum outro guitarrista que seja com Jimi certo? Quem seria melhor do que ele? (risos). De qualquer forma essa comparação acabou ficando algo bem cansativo e maçante…

Existem ou não existem gravações suas com Robert Fripp? Se existem, elas serão lançadas algum dia?

Nunca gravei nada com ele Denilson… Mesmo assim, Fripp tem sido um grande amigo através dos anos.

Como foi gravar três álbuns com Jack Bruce, sendo o terceiro também como um trio, um formato tão “esquecido” hoje em dia?

Fiz questão de gravar com Jack, pois o considero um dos maiores nomes da música. Ele tem a habilidade de tocar e cantar estilos diferentes com total confiança e veracidade. A idéia de lançar Seven Moons com ele mais recentemente, pintou pelo fato de escrevermos duas ou três novas canções para incluir de bônus nos nossos primeiros álbuns juntos. Curtimos tanto voltar a tocar que decidimos ir adiante e criar um novo álbum completo de faixas inéditas e nada melhor do que fazer isso em formato “trio”.

Como foi tocar com Bryan Ferry? Você teve que mudar seu estilo para acompanhá-lo? Como você se adaptou à filosofia “cool” do cantor?

Bryan curtiu meu estilo e minha maneira de trabalhar, então o manager dele me convidou para participar de um disco seu chamado Mamouna. Eles queriam que eu gravasse algumas guitarras para o disco e acabei ficando: co-produzi alguns álbuns e fiz algumas tours ao lado dele. Bryan é uma pessoa sensacional, ele possui um excelente instrumento: sua voz. Foi fácil de trabalhar com Bryan.

Você esteve uma vez no Brasil, como guitarrista da banda do Bryan Ferry. Alguma lembrança daqueles shows? No Brasil existem muitos fãs do seu trabalho solo. Por que nunca houve uma turnê sua por aqui?

Eu adorei conhecer o Brasil ao lado de Bryan. Nossos shows por aí foram bem legais… Espero poder voltar com a minha banda num futuro próximo. Curioso que em 2006 eu quase fechei uma tour pela América do Sul. Infelizmente não aconteceu… Se algum promotor brasileiro me convidar eu irei com certeza!

A primeira banda que você formou após deixar o Procol Harum foi o Jude, um pequeno super-grupo ao lado do vocalista escocês Frankie Miller, James Dewar (ex-Stone The Crows) e o Clive Bunker (ex-Jethro Tull). Por que essa super banda não foi pra frente?

O Jude infelizmente não durou muito pois não “funcionou” musicalmente. Pelo menos a banda serviu para me colocar em contato com Frankie Miller e foi através dele que cheguei em James Dewar.

Com todas essas “voltas” que os grandes nomes do rock vem promovendo, qual seria a sua posição caso Gary Brooker te chamasse de volta ao Procol Harum?

“Nunca digo nunca”, mas uma reunião do Procol Harum parece algo muito improvável…

Existe alguma banda que você se juntaria, mesmo que para apenas um show?

Se James Brown estivesse vivo, e se ele me convidasse, eu estaria dentro na mesma hora! Seria como realizar um antigo sonho…

Artigo originalmente publicado na pZ 23

  1. Marco tulio

    Esse cara, que já foi chamado de Jimi Hendrix “inglês”, tocava bem legal, curto muito os primeiros 5 lps dêle, e o “For Earth Below” pra mim o melhor. Longa vida ao Sr. Trower !!

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