poeiraCast 280 – O Formato da Música
por Bento Araujo 18 Maio 2016
Neste episódio a conversa é sobre como ouvimos música: em vinil, CDs, fitas, MP3, streamings… Vantagens, desvantagens e valor sentimental das diversas mídias para nós, ouvintes, e como lidamos com elas.
Agradecimentos especiais aos apoiadores: Adriano Gatti, Alexandre Guerreiro, Artur Mei, Bernardo Carvalho, Caio Bezarias, Carlos Albornoz, Claudio Rosenberg, Dario Fukichima, Ernesto Sebin, Fabian Santos, Fernando Costa, Flavio Bahiana, Gabriel Garcia, Haig Berberian, Hugo Almeida, Marcio Abbes, Mateus Tozzi, Neigmar (Lado A Discos), Pedro Furtado, Raphael Menegotto, Rodrigo Vieira, Rodrigo Werneck, Ronaldo Nodari, Rubens Queiroz e Saulo Carvalho.
Eu ouça em todas as mídias, mas em momentos distintos e com propósito bem definidos: Escuto, por exemplo, no celular ou no computador para conhecer (descobri muita coisa no streaming), ou relaxar durante o trabalho, mas quando quero apreciar de verdade uma música ou álbum, dai tem que seguir o ritual de sentar na poltrona, apreciar o encarte e botar o som na minha aparelhagem modular.
Independente do formato, o importante é ouvir música.
Como antigo assinante do Poeira Zine e atual do Poeira Cast, gostaria de sugerir um tema para o programa, até porque, pelo que vocês andam dizendo, ele pode acabar. Portanto fica aqui a sugestão: um super duelo de gigantes entre Beatles x Stones, comparando disco a disco. Valeu!
É chato mas concordo com o Fabian, infelizmente a meta que vocês colocaram para manter esse fantástico podcast no ar beira o impossível pelos tempo atuais e pela, digamos, “disponibilidade” dos ouvintes… Acho que o sentimento de “queremos coisas de qualidade mas DE GRAÇA” vem de tempos imemoriais: o Leonardo Nahoun tentou obter ajuda lá atrás com sua publicações impressas, tentou também continuar com sua Associação do Rock Progressivo (uma ideia copiada de nossos irmãozinhos argentinos, parece que por lá FUNCIONA), outra tentativa de “se manter vivo” veio lá de Campos dos Goitacazes com a bíblia do rock progressivo que foram os dez exemplares do jornal Metamúsica e outras tantas… Desejo ardentemente que vocês consigam (estou me juntando somente agora por motivos estritamente financeiros) e que em conseguindo continuemos a ter esse bate papo de qualidade sobre boa música… Quanto à ouvir música, primeiro (e sempre) o vinil depois o cd (ou dvd), lá atrás rolava um fitinha cassete (chromo, sempre!!!), não gosto de ouvir em celular (exceção feita à Kiss FM, emissorazinha boa essa – rolaram “Ready An’ Willing” do Whitesnake outro dia!)… Um forte abraço em todos e toquemos o barco… Ainda na esperança de ouvir algo sobre UFO e/ou Nazareth antes do “fim” (é engraçado mas, apesar dos 54 invernos nas costas e saber QUASE tudo (o que foi publicado, claro) sobre essas e outras bandas não há como descrever o prazer sobre ler ou escutar alguma coisa sobre as bandas que a gente ama, neste mês por exemplo, a Roadie Crew fêz mais uma edição especial sobre discos lá do longínquo 1986 – faltaram suas considerações por lá, Bento).
É interessante ouvir música até do vizinho, desde que ele tenha um bom gosto. Cheguei a ouvir disco importado na minha vitrola Roxinol. Isso era muito engraçado. O disco valia mais do que a minha vitrola. Nunca revelava para os meus pais o valor verdadeiro de um disco importado. Depois, o meu pai comprou uma Gradiente, mas lutei bastante para isso ocorrer. O meu formato preferido é o LP, já tive uma coleção de vinil na minha adolescência. O meu irmão mais novo se tornou músico e levou a coleção. Bem, resolvi adotar o CD e nunca mais abandonei. Adoro ouvir o CD no computador. Momento em que escrevo e faço alguns comentários sobre a minha audição. Em relação à tal meta de assinantes, não vou medir esforços para batê-la. Vamos em frente! Abração!
Excelente. Penso que as reflexões dos amigos tocaram a todos nós. Bacana demais, me emocionei de verdade, como colecionador há quase quarenta anos. O que importa é a música e não o formato, como o que importa é a estrada e não o veículo. Abraços.
otima sonoridade -manter sempre limpo aparelhagem(agulhas,visor otico,desmagnetizador de cabeçote vinyl limpo-som cristalino anti-skate) EVOLUÇAO E QUANTO MAIS DIVULGADORES DE MUSICA MELHOR E NAO IMPORTA O MEIO e coleçoes surgirao
Um dos melhores programas que voces fizeram. A citação de Bunuel foi genial. Descreve com perfeição nossos sentimentos como colecionadores de discos
Fala Bento, vou dar uma sugestão a respeito do podcast (não sei se ajudaria mas não custa). Há uma rádio virtual chamada Rádio Central 3, com podcasts de muito boa qualidade, especialmente sobre música e esportes (tem gente muito boa lá, e o nível do profissionalismo deles parece ser bom também). Alguns podcasts são parcerias entre a rádio e o site ou blog (por exemplo o que fala de basquete). Quem sabe essa não pode ser uma alternativa, atingindo um público maior, etc?
Eu entendo o romantismo dos bolhas do cast, mas uma coisa é ir ao centro da cidade pra comprar o In Rock a R$10,00, outra coisa é investir R$50,00 numa versão em CD só com um encarte mais bacaninha. O fato é que colecionar discos hoje virou uma atividade para a classe alta. Criaram essa falácia que o vinil estava de volta para aumentar o preço do LP e junto veio o aumento do CD. Por isso mesmo, coincidentemente, estou assinando a conta premium do Spotify que começa hoje. Era muito resistente a isso, mas não dá para ficar separando R$300,00 todo mês só para adquirir 7 ou 8 discos em formatos simples e muitas vezes com qualidade de som bem inferior ao próprio formato digital. Pela praticidade, pela economia e pela rapidez eu estou mergulhando no universo do streaming provavelmente num caminho sem volta. Quem sabe se a indústria colocar a cabeça no lugar e abaixar o custo do formato físico em não volte a me aventurar pelas lojas da cidade aos sábados de manhã como já fiz centenas de vezes nos últimos 15 anos.
Há anos que ouço música somente no formato digital, preferindo sempre os arquivos com qualidade maior, mas mesmo quando isso não é possível, ouço em baixa qualidade. O importante é ouvir música. Mas devo explicar o contexto pelo qual sou acostumado com o formato digital. Cresci em uma cidade de 36 mil habitantes (365km de SP), na qual não tinha nem uma mísera loja de discos (quando encontrava, era sertanejos em lojas de presentes). A loja de disco com um pouco mais de variedade se encontrava na cidade vizinha, a 50km, mas ainda assim os discos eram restritos aos clássicos das bandas clássicas. Até os meus 20 anos (2008 – que foi quando tive acesso a internet de banda larga) eu só conhecia as bandas consagradas e para mim o universo da boa música se resumia a isso. Após a internet, fui descobrindo os blogs especializados e a partir daí foi um caminho sem volta. Cenas como prog italiano, rock brasileiro dos 70s, rock peruano, e por aí vai, só se tornaram possíveis com a internet. (Para terem uma idéia, eu não tinha acesso a bandas tidas como básicas, como ELP, King Crimson, Gentle Giant, etc). Se não fosse o formato digital, até hoje meu universo musical estaria restrito a pouco mais de 20 bandas.
Concordo com o Diogo… vira e mexe a gente encontra um cd a um preço bom por aí, e pensa ‘meu, se todo cd custasse isso, eu compraria muito mais’. Sobre o vinil, o povo realmente perdeu a noção, pagar 70 reais num de fabricação nacional em estado nem sempre tão bom é demais.
Excelente programa, dos melhores de todo PoeiraCast: assunto importante e instigante, papo de altíssimo nível, repleto de afirmações muito precisas.
O relato acima do Artur Mei é emocionante, mostra de modo cabal como a música em formato digital é importante e enterra de vez qualquer prurido nostálgico que insiste em desqualificar esse formato.
Também sou dessa época em que o vinil era o máximo que tínhamos à disposição, do ritual de juntar grana e ir à loja, adquirir aquela pérola e desfilar feliz com ela. E também sou vítima dessa exuberância fazer com que frequentemente fique lapsos de tempo enormes sem ouvir os artistas favoritos, mas é o preço de tantas possibilidades.
Sobre essa pretensa ressurreição do vinil: um disco novo a cem reais ou mais? É assim que ele derrotará o ‘pobre’ mp3? Como uma extorsiva modinha de hypsters? Pode desaparecer de vez então!!!
Abraço a todos e que alcancem a meta para a continuidade do programa.
Primeiramente, junto-me ao coro dos elogios: excelente programa!! Por sinal, seja fase ingênua ou não-ingênua, o que importa é que neste ano os programas estão muito bons! Já ouvi todos 280 e não tenho o que reclamar de fase alguma, mas é notório que ultimamente estão emendando um programa melhor que o outro, semana após semana.
E isso faz aumentar ainda mais a ‘tensão’ de pensar na possibilidade de interrupção do poeiraCast. Os comentários aqui postados não deixam mentir: tem uma galera que curte boa música que torce pela continuidade do projeto. Pensemos o quanto tem de história sobre a música, sobre a cena brasileira, o mercado nacional de discos, etc. Existe um baita registro nesses quase 300 programas até agora.
Mas, embora isso seja empolgante para os fiéis leitores da pZ e assíduos ouvintes do poeiraCast, sabemos que há um ‘nicho’ e, infelizmente, acho difícil que seja atingida a meta dos 100 assinantes/colaboradores.
A minha esperança/sugestão reside em outras estratégias. No final das contas, há um ‘valor X’ necessário para que o podcast siga em frente. Outros ouvintes já deram sugestões de tentativa de novos meios, parcerias, etc. Outra coisa que chego a pensar é na possibilidade de apoios de ‘pessoas jurídicas’. Isto é: anunciantes. Por mais que não seja um programa de alcance popular (óbvio, já falei da existência do ‘nicho’), o poeiraCast atinge um público interessado em uma fatia do mercado: lojas de discos, equipamentos de som, publicações (impressas ou sites) sobre música, etc.
Na própria poeiraZine víamos vários anunciantes. Já entrei em muitos sites de anunciantes, já tenho nomes e endereços de lojas de disco anotados para quando um dia for ao Rio e São Paulo. E tomei conhecimento disso tudo através de anúncios da revista. Da mesma forma alguns parceiros poderiam ser uma saída pra eventual ‘salvação’ do programa.
Mesmo assim a meta financeira não sendo atingida, torço para que parta para ‘cortes’ não tão bruscos, como o poeiraCast voltar a ser quinzenal, por exemplo. Enfim, o que tá claro é que não quero que acabe. rsrs
Sei que minha sugestão toca na complicada área de vendas e marketing, e não sei como vocês lidam com isso ou se seria interessante para vocês ‘sugar’ desses anunciantes pra esse projeto. Também sei que muitos eventuais anunciantes alegam crise neste momento… Mesmo assim me apego à ‘esperança’ que vocês bem citaram na frase de Buñuel.
Longa vida ao poeiraCast!!!
(desculpem o texto disco-triplo que poderia ser álbum simples) rsrs
Excelente programa, ótimas observações, principalmente quanto aos espertalhões que querem faturar algum em cima de otários que pagam uma fortuna por discos em péssimo estado às vezes, só para dizer que está com um “vinil raro”. Quanto ao formato, creio que o streaming veio para ficar, quer gostemos ou não. Eu particularmente prefiro o CD, pois além de ser bem mais barato que o vinil, gosto de ter a mídia física, ouço no meu Ipod somente quando estou viajando todos os dias ao meu local de trabalho, e estamos falando de mais de 4 horas diárias de viagem é um tempo praticamente desperdiçado se eu não o utilizasse para ouvir música. Mas voltando ao assunto, só vale a pena alguém possuir LPs se já tinha uma vasta coleção e quer fazer compras pontuais para completar alguma coleção, do contrário é roubada; um vinil de qualidade não custa menos de R$ 70 (isso os mais baratos), e sem falar na manutenção dos bolachões, que vamos ser sinceros, só mesmo um sujeito que não faz mais nada na vida tem tempo para ficar dando banho de sabão de coco em LPs, considerando que esse cara possui uma grande coleção, vai gastar um bom tempo da sua vida fazendo isso (e curiosamente, vai faltar tempo para o principal, ou seja, ouvir música).
Este episódio do podcast me deixou pensativo.
O melhor formato da música para mim, independe de seu registro físico, se ele é analógico ou se é digital. O melhor formato da música era quando ela proporcionava este frio na barriga de ouvir um In Rock pela primeira vez com os amigos da escola, era o VHS do Ziggy Stardust alugado na locadora, era o A-Ha num bailinho feito na garagem com a hora das lentas que os meninos tiravam as meninas para dançar, é redescobrir toda a sua coleção de discos pois você tinha um aparelho de som que só funcionava um alto falante (Day in the Life virou uma nova música depois disso rsrs), era tirar sarro do amigo que gostava daquela barulheira satanista do Venom, era descobrir com a sua mãe que aquela música “da hora” do final daquele filme era Twist and Shout dos Beatles, era o barato de formar uma banda de colégio para tocar Surfin Bird, era uma amizade que você conseguiu pela sua camiseta com uma banana amarela, era um crítico de rock que você acompanhava as matérias naquela revista mensal, era uma loja de discos que você ia no centro de SP para namorar aquelas fitas K7 de shows piratas do Stray Cats, era ler uma matéria sobre aquele disco que você nunca ouviu e ficar intrigado em saber o que seria um som soturno e sincopado, era ver uma entrevista do Renato Russo onde ele cita uma banda Harper’s Bizarre que você nuca ouviu falar e conseguir ouvir isso uns 20 anos depois em MP3 (mas ainda lembrar desta entrevista) era gravar os programas de video clip para poder gravar todos os clipes dos Smiths, era o violão Gianini onde você tocava nas escadarias do colégio com os amigos usando aquelas revistas de cifras de banca de jornal, era ligar para rádio e ganhar ingresso para o show do New Order no Ibirapuera, era aquela fitinha K7 com a coletânea de músicas especiais para a namorada, era a canela roxa por levar um chute de coturno no show do Iggy Pop “Metaleiro” no Projeto SP, era se vestir com camisa de flanela no calor de SP, era pogar com os camaradas ao som dos Dead Kennedys, era sofrer bullying por cantar War Pigs como o Mike Patton pois nunca tinha ouvido a verão com o Black Sabbath, é ficar feliz vendo a filha cantando as músicas que você gosta, e assim vai. Este é o melhor formato da música.
Hoje tenho em MP3 o EP de uma ótima banda shoegazer das Filipinas. Querem conhecer ?… bem se quiserem ouvir… se der tempo… mando o link… VLW ABS BYE.
Muito interessante o tema do programa. Evidente que o principal é ouvir o que se gosta, mas o prazer de ouvir música “degustando” esse momento é com o vinil. Compro desde 83 e nunca parei com esse vício, lendo até os agradecimentos nos encartes. Mas não desprezo qualquer formato, inclusive os digitais, pois sempre gostei muito de hc/punk e metal (sou eclético, de prog a grind…) e em meados de 80 o acesso era difícil e caro e era um tal de gravar de fita para fita com outros dontes e a cada cópia a coisa ficava pior e mesmo com a chegada do CD, muita coisa não era encontrada e quando surgiu o napster da vida e podia baixar músicas que gostava e só tinha em qualidade sofrível foi o máximo. Era um tal de conectar a meia noite e acordar as seis para desligar (net discada entre esse horário era praticamente sem custo telefônico) e nesse momento ver que só havia baixado quatro ou cinco músicas. Era engraçado. Hoje temos a facilidade de conhecer muita coisa, mas a oferta em excesso também nos faz perder tempo com muita coisa ruim.