Arquivo da tag: bento araujo

Kadavar faz sua primeira excursão brasileira

Power trio alemão faz quatro shows por aqui em setembro, promovendo o seu terceiro álbum

por Ricardo Alpendre     27 ago 2015

kadavarQuem desembarca pela primeira vez no Brasil em setembro é o power trio alemão Kadavar.

Promovendo o novo álbum Berlin, o terceiro de estúdio, o grupo deverá mostrar em Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro e Florianópolis seu hard rock com pegada vintage e influências de várias vertentes do metal.

Os shows nos palcos brasileiros são os primeiros de uma turnê mundial que segue daqui para Argentina, Chile e Uruguai, e depois para a América do Norte e Europa. É mais uma boa boa pedida para amantes do rock retrô setentista, mais uma promovida pela mesma Abraxas que tem trazido bandas como Radio Moscow e The Flying Eyes.

As datas das apresentações, todas em setembro, são: dia 18 em Goiânia, no Festival Vaca Amarela, Centro Cultural Martim Cererê; dia 19 em São Paulo, no Inferno Club; dia 20 no Rio, no Teatro Odisseia; dia 23 em Floripa, no Célula Showcase.

Todos os eventos têm show de abertura com bandas nacionais, e todas as informações estão na página da produtora no Facebook.

kadavar-south-america-dates

poeiraCast 248 – Rocks e Tragédias

Um papo sobre acontecimentos ruins que teriam sido motivados por músicas, discos e shows de rock, ou “The Mais

por Bento Araujo     26 ago 2015

Um papo sobre acontecimentos ruins que teriam sido motivados por músicas, discos e shows de rock, ou “The dark side of rock”, como íamos chamar o programa.

Estrelando: Judas Priest, The Beatles, Ozzy Osbourne, Marilyn Manson, The Rolling Stones, AC/DC e outros.

poeiraCast 247 – Bandas que destruíram seus legados

Depois de anos gravando obras que se tornaram clássicas, algumas grandes bandas (e também artistas solo) parecem perseverar Mais

por Bento Araujo     19 ago 2015

Depois de anos gravando obras que se tornaram clássicas, algumas grandes bandas (e também artistas solo) parecem perseverar na tarefa de prejudicar seus legados e envergonhar os fãs. Por quê, e quem são eles? Neste episódio, as opiniões do nosso time.

poeiraCast 246 – Pink Floyd

Uma das bandas mais conhecidas e influentes a trilharem o caminho da psicodelia e do rock progressivo, o Mais

por Bento Araujo     12 ago 2015

Uma das bandas mais conhecidas e influentes a trilharem o caminho da psicodelia e do rock progressivo, o Pink Floyd é o nosso assunto neste episódio.

poeiraCast 245 – Bandas com primeira fase diferente

A conversa hoje é sobre aqueles grupos que tiveram uma primeira fase em estilos diferentes daqueles que os Mais

por Bento Araujo     05 ago 2015

A conversa hoje é sobre aqueles grupos que tiveram uma primeira fase em estilos diferentes daqueles que os consagraram. E em muitos casos, o período inicial também é muito legal!

Estrelando: Deep Purple, Moody Blues, Thin Lizzy, Trapeze, UFO, Scorpions, ELO, Journey e outros.

pZ 61

Som Nosso de Cada Dia, Pink Fairies, Wattstax, John Wetton, selos de Krautrock, Hughes & Thrall, Taste, Gerardo Manuel y El Humo etc.

por Bento Araujo    

SOM NOSSO DE CADA DIA
O mais bacana na curiosa e aventureira trajetória do Som Nosso de Cada Dia é o quanto seus integrantes desdenharam dos rótulos musicais que lhes foram impostos através dos anos. Rotulada no Brasil e no exterior como uma banda de rock progressivo, o Som Nosso sempre foi muito mais do que isso. Claro que, quando surgiram, o gênero estava em alta e eles beberam em influências de nomes como ELP, Pink Floyd, Genesis e outros, mas a essência vinha de algo muito mais latino e brasileiro, seja do rock rural, ou da influência negra do soul, funk e até do samba. Era música com pedigree próprio, autêntica, sincera e livre. A emocionante e conturbada trajetória do grupo foi contada pelo seu único integrante original vivo, o baixista, vocalista e compositor Pedrão Baldanza.

PINK FAIRIES
Foi no International Times que o imortal Mick Farren deu com a língua nos dentes e escreveu em primeira mão sobre a criação do Pink Fairies Motorcycle Club And All Star Rock And Roll Big Band, uma organização cujo intuito era injetar subversão e diversão no verão britânico daquele ano de 1969. Apesar de não citar os nomes dos envolvidos, Farren garantiu que, muito em breve, os Fairies inundariam as ruas de Londres com seu barulho e sua cor. Tudo sobre a banda que sacudiu o underground britânico dos anos 70.

WATTSTAX
No verão de 1972, mais de 100 mil afro-americanos se reuniram no gigantesco Memorial Coliseum, ao sul da cidade de Los Angeles, para celebrar música e consciência, além de relembrar os sete anos dos tumultos raciais no bairro de Watts. Na plateia, uma explosão de cores e sentimentos. No palco, discursos, pregações e o balanço de grandes nomes do selo Stax: Rufus Thomas, Isaac Hayes, The Staple Singers, Tha Bar-Kays, Albert King e muitos outros. A volumosa e orgulhosa celebração virou filme, disco e retrato de uma cultura em transição. Depois de 50 anos dos tumultos em Watts, a pZ relembra o Wattstax, o maior festival de música negra da história, que, por pouco, também não terminou em tumulto.

JOHN WETTON
Seu indefectível timbre vocal, sua classe no palco, sua competência como compositor e suas poderosas e sempre seguras linhas de baixo fizeram parte da fundamental trajetória de grandes grupos como Family, King Crimson, Roxy Music, Uriah Heep, U.K., Wishbone Ash e Asia, dentre muitos outros. O que dizer de um baixista que ao invés de usar a tradicional palheta, utilizava um caco de vidro para deixar o seu som ainda mais poderoso? Inclui discografia essencial comentada.

KRAUTLABEL: OS GRANDES SELOS DO ROCK ALEMÃO
Foi no final dos anos 60 e início dos 70 que os grandes selos perceberam a força da música que vinha do underground. A psicodelia estava dando origem a toda uma nova geração, que, anos depois, ficaria conhecida como “progressiva”. O rock básico dos anos 50 parecia estar a anos luz de distância e grupos do mundo todo expandiam sua mente e sua sonoridade agregando elementos de música erudita, concreta, experimental, folk, jazz etc. Não havia limite para o que vinha pela frente. Foi então que os grandes selos criaram braços, subsidiárias, sublabels, com uma proposta mais livre, independente e em sintonia com a cena underground. Nessa onda, pintaram estampas como Vertigo, Harvest, Dandelion, Nova e muitas outras. Na Alemanha não foi diferente e uma série de novos selos foram criados a partir de 1968 para dar vazão àquilo que depois seria vulgarmente categorizado pela imprensa britânica como Krautrock. Trazemos nesta edição dez grandes selos que mudaram o rock alemão dos anos 70.

HUGHES & THRALL
O único trabalho da dupla Glenn Hughes e Pat Thrall foi bem recebido pela crítica em 1982, mas não pelo público, o que transformou o LP num completo fracasso de vendas. Certamente os fãs de Deep Purple, Trapeze, Automatic Man e Pat Travers esperavam algo mais pesado da dupla, que acabou apostando no AOR e no pop. Décadas depois, Hughes & Thrall virou um disco cult e possui muitos fãs mundo afora.

E MAIS:
Gerardo Manuel y El Humo, Taste, Boz Scaggs, Eddie Hinton, Fernando Gelbard, Lynyrd Skynyrd, Eden, Pesniary, Violinski, Cosmo Drah, Ivinho, Chris Squire, Slim Harpo, Os Irmãos Carrilho, Love Affair, Lucifer’s Friend, Paêbirú etc.

poeiraCast 244 – Terceiros Álbuns

“O difícil terceiro álbum”, ou o que define o som da banda… Várias conjecturas são feitas sobre esse Mais

por Bento Araujo     29 jul 2015

“O difícil terceiro álbum”, ou o que define o som da banda… Várias conjecturas são feitas sobre esse momento particular na carreira dos artistas de rock. Nesta conversa, lembramos alguns dos terceiros álbuns mais interessantes.

poeiraCast 243 – Sabotage (Black Sabbath)

Neste episódio a conversa é sobre o álbum Sabotage, do Black Sabbath, que está completando 40 anos.

por Bento Araujo     22 jul 2015

Neste episódio a conversa é sobre o álbum Sabotage, do Black Sabbath, que está completando 40 anos.

poeiraCast 242 – 1001 Músicas

Vamos abrindo o livro 1001 Songs You Must Hear Before You Die (no Brasil, 1001 Músicas Para Ouvir Mais

por Bento Araujo     15 jul 2015

Vamos abrindo o livro 1001 Songs You Must Hear Before You Die (no Brasil, 1001 Músicas Para Ouvir Antes de Morrer) e comentando as músicas e artistas que aparecem. No mínimo, nós nos divertimos bastante!

Estrelando: Sex Pistols, Talking Heads, AC/DC, The Clash, The Police, MC5, The Stooges, Funkadelic…

poeiraCast 241 – Rock Progressivo Decadente

Uma conversa sobre os sons ainda inspirados e às vezes misteriosos das bandas progressivas que se adaptavam aos Mais

por Bento Araujo     08 jul 2015

Uma conversa sobre os sons ainda inspirados e às vezes misteriosos das bandas progressivas que se adaptavam aos tempos sob o cerco da disco music, do punk e da new wave.

Estrelando: Genesis, Camel, Gentle Giant, Yes…

poeiraCast 240 – Guitarristas Subestimados

Nossa conversa é sobre aqueles heróis da guitarra que geralmente não são citados entre os maiores mas têm Mais

por Bento Araujo     01 jul 2015

Nossa conversa é sobre aqueles heróis da guitarra que geralmente não são citados entre os maiores mas têm calibre para estar lá.

poeiraCast 239 – Roxy Music

Uma das bandas mais inventivas e classudas do rock da década de 70, o Roxy Music contava com Mais

por Bento Araujo     24 jun 2015

Uma das bandas mais inventivas e classudas do rock da década de 70, o Roxy Music contava com a sensibilidade de Bryan Ferry, o ímpeto vanguardista de Brian Eno e a excelência instrumental de Phil Manzanera. Por essas e outras, eles criaram discos memoráveis e são nosso assunto neste episódio.

poeiraCast 238 – The Heart of Rock and Soul

Neste episódio fazemos, de improviso, um jogo: abrimos aleatoriamente as páginas de um livro sobre música e vamos Mais

por Bento Araujo     17 jun 2015

Neste episódio fazemos, de improviso, um jogo: abrimos aleatoriamente as páginas de um livro sobre música e vamos comentando o assunto que aparece. A bola da vez é The Heart of Rock and Soul, do conceituado autor norte-americano Dave Marsh. A respeito do livro, basta ver seu subtítulo: “Os 1001 maiores compactos já feitos”.

poeiraCast 237 – Samplers: Picaretagem ou Arte?

A conversa neste episódio é sobre a criação da música com auxílio (ou a partir) de sons “sampleados”, Mais

por Bento Araujo     10 jun 2015

A conversa neste episódio é sobre a criação da música com auxílio (ou a partir) de sons “sampleados”, prática controversa, odiada pelos ouvintes mais puristas.

Estrelando: Afrika Bambaataa, Grandmaster Flash, Beastie Boys… E os sons originais de James Brown, Led Zeppelin, Marvin Gaye, Stevie Wonder e incontáveis outros.

poeiraCast 236 – Os 40 anos de Snow Goose (Camel)

Clássico do rock progressivo inglês, o álbum instrumental de 1975 do Camel é nosso assunto neste episódio.

por Bento Araujo     03 jun 2015

Clássico do rock progressivo inglês, o álbum instrumental de 1975 do Camel é nosso assunto neste episódio.

pZ 60

Beck Bogert Appice, Mott The Hoople, Hawkwind, Alex Harvey, entrevista com Rudolf Schenker (Scorpions), The Who, Climax Blues Band, Os Mutantes, Rock Hasta que se ponga al Sol, Piedra Roja, Beckett etc.

por Bento Araujo     31 Maio 2015

BECK BOGERT APPICE (BBA)
A conturbada e meteórica trajetória do BBA até hoje parece um mistério, mesmo para os profundos conhecedores do hard rock setentista. Brigas, volume ensurdecedor, bebedeiras, egos inflados e até um patriotismo desnecessário perseguiu nossos três heróis no um ano e meio em que estiveram juntos. Um disco de estúdio e um álbum duplo ao vivo exclusivo para o mercado japonês. Foi tudo o que o grupo conseguiu deixar para a posteridade, já que o segundo e abandonado disco de estúdio estava sendo finalizado quando o trio encerrou suas atividades, em 1974. As lendas e as verdades sobre esse segundo e inédito álbum e a rápida, porém fascinante, trajetória do trio formado por Jeff Beck, Tim Bogert e Carmine Appice, você confere nessa edição. Inclui o disco de estúdio resenhado pelo próprio Jeff Beck e o ao vivo resenhado pelo lendário Lenny Kaye.

HAWKWIND
Errado está aquele que pensa que o Hawkwind só prestou quando Lemmy Kilmister cuidava das quatro cordas mais graves do conjunto. Após a saída de Lemmy, o Hawkwind ainda lançou álbuns impecáveis como Astounding Sounds Amazing Music, Quark Strangeness and Charm e Levitation, seu décimo disco de estúdio com convidados como Ginger Baker e Tim Blake. Levitation foi também um dos primeiros discos de rock gravados com tecnologia digital.

MOTT THE HOOPLE
Surgido numa época de acirrada concorrência musical, o Mott The Hoople nunca mereceu a devida atenção do público e da crítica. No auge do glam rock britânico, lá pelos idos de 1972, mesmo com o grupo sendo um dos principais nomes do movimento, figuras como David Bowie e Marc Bolan roubavam as manchetes, sempre deixando o Mott pra trás. O artigo inclui a discografia comentada da banda e um papo com o líder Ian Hunter.

ENTREVISTA COM RUDOLF SCHENKER (SCORPIONS)
A fase terminal do Scorpions está se tornando uma das mais longas despedidas da história do rock. Em 2010 eles anunciaram a aposentadoria e em 2012 terminaram aquela que seria a sua turnê de despedida. Mas o capitão do time, por acaso, percebeu que este ano a sua banda completa 50 anos de carreira. Sendo assim o Scorpions está de volta, com um novo álbum e uma nova turnê. Aproveitamos o ensejo para bater um longo papo telefônico com Rudolf Schenker, diretamente da Alemanha, onde o guitarrista conta como foi liderar o Scorpions por cinco décadas de rock ‘n’ roll.

BUENOS AIRES ROCK E PIEDRA ROJA
O início dos anos 1970 ficou especialmente marcado na história do rock argentino pelas três edições do B.A. Rock (Buenos Aires Rock), um dos principais festivais já realizados somente com artistas locais na América do Sul. A terceira edição, em 1972, não apenas reuniu grande parte das bandas importantes de então como foi o principal evento documentado no longa-metragem Rock Hasta Que Se Ponga El Sol, lançado no ano seguinte, o primeiro filme argentino sobre rock. Nessa edição, Ricardo Alpendre desvenda os mistérios tanto do Buenos Aires Rock como do Piedra Roja, o “Woodstock Chileno”, que vem ganhando as telas dos festivais com um documentário recém lançado de mesmo nome.

NA ESTRADA COM OS MUTANTES
Sempre se fala dos discos clássicos dos Mutantes, mas pouco se comenta sobre o pioneirismo do grupo ao sair levando, praticamente na raça e na coragem, o seu inovador rock ‘n’ roll pelas estradas do enorme Brasil no início dos anos 70.

ALEX HARVEY
Passados mais de 30 anos de sua morte, Alex Harvey permanece sendo um ícone da cena roqueira europeia. Se nos Estados Unidos o astro escocês nunca obteve o merecido reconhecimento, no velho mundo o papo é diferente: biografias são lançadas, discos clássicos merecem reedições caprichadas e sites em sua homenagem surgem na internet. Inclui uma discografia essencial comentada.

PÉROLAS ESCONDIDAS
Beckett, Estus, Energit, Exodus, Jimmie Haskell e Steve Baron Quartet.

E MAIS:
The Who, Diego Mascate, ruído/mm, Climax Blues Band, Percy Weiss, Ned Doheny, Trapeze, She, Spinetta, Canned Heat, John Mayall, Daniel Cardona Romani, Egidio Conde etc.

poeiraCast 235 – Os Grandes DJs do Rock

Eles levaram as principais tendências do rock para o público, ajudando a formar o gosto musical de várias Mais

por Bento Araujo     27 Maio 2015

Eles levaram as principais tendências do rock para o público, ajudando a formar o gosto musical de várias gerações. Os DJs que plugaram o rock nas rádios são o nosso assunto neste episódio.

poeiraCast 234 – Marillion e o Neo-Prog

Se é discutida a data de origem do estilo neo-prog, filho do rock progressivo, não há questão sobre Mais

por Bento Araujo     20 Maio 2015

Se é discutida a data de origem do estilo neo-prog, filho do rock progressivo, não há questão sobre qual banda mais o difundiu no mercado: Marillion. Além da famosa banda inglesa, também opinamos um pouco sobre outros baluartes como IQ, Pendragon, etc.

poeiraCast 233 – Heavy Metal em 1985

O assunto deste episódio é o heavy metal e o hard rock há exatos 30 anos: melhores discos, Mais

por Bento Araujo     13 Maio 2015

O assunto deste episódio é o heavy metal e o hard rock há exatos 30 anos: melhores discos, bandas que se destacaram, os estilos que estavam em evidência…
Estrelando: Megadeth, Slayer, Possessed, Celtic Frost, Anthrax, Motley Crue, Savatage e outros.

Entrevista Rodrigo Pinto (Minha Loja de Discos)

Ele é produtor e diretor do programa Minha Loja de Discos, exibido pelo Canal Bis. Rodrigo atendeu a pZ direto de Londres, onde mora atualmente, e falou sobre as duas temporadas do programa, sua exploração artística e cultural das cidades por onde passa e seu apreço por esses diversos templos vinílicos ao redor do mundo

por Bento Araujo     11 Maio 2015

Ele é produtor e diretor do programa Minha Loja de Discos, exibido pelo Canal Bis. Rodrigo atendeu a pZ direto de Londres, onde mora atualmente, e falou sobre as duas temporadas do programa, sua exploração artística e cultural das cidades por onde passa e seu apreço por esses diversos templos vinílicos ao redor do mundo.

Rodrigo PintoComo surgiu a ideia de produzir um programa como o Minha Loja de Discos?

Eu filmei uma boa quantidade de material sobre a Polysom, a fábrica de vinil de Belford Roxo (RJ), a única do Brasil. Isso aconteceu quando todos estavam evitando que a fábrica fechasse, antes dela ser reativada. Quando eu constatei que eles estavam numa crise brava, cheio de dívidas, fiquei sabendo do interesse do João Augusto, então presidente da Deckdisc e hoje um dos sócios da Polysom, em comprar e reativar a fábrica. Entrei em contato e o João veio a Londres, então eu o levei nas lojas de discos daqui que eu conhecia. Presenciamos uma garotada comprando LPs de diversas bandas, todas elas lançando seus novos trabalhos em vinil… O meu interesse, sendo sincero, foi colocar uma pilha para ele reabrir a fábrica no Brasil. Chegando em casa, conversei com a Elisa (Kriezis), que é a minha parceira no crime (risos). Já tínhamos trabalhado juntos numa série para a GNT (Londres Assim), foi então que tivemos a ideia de fazer algo sobre as lojas de discos.

Fale um pouco mais sobre você, a sua produtora (Ton Ton) e a parceria com o Canal Bis.

Eu tinha os contatos do Canal Bis porque trabalho há muitos anos para o Multishow, comentando festivais, pesquisando conteúdo etc. Hoje eu sou basicamente um documentarista, um videomaker, e a Ton Ton cresceu muito nesse sentido de produzir conteúdo próprio. A Ton Ton é uma produtora brasileira independente, então temos o benefício da cota federal de produção independente nacional, e o Canal Bis queria dar um gás em sua programação musical. Eles gostaram da ideia e foi muito legal, pois o Canal Bis realmente abriu muitas portas para diversas produtoras brasileiras e para programas relacionados com música.

O sucesso de filmes como Alta Fidelidade, a popularidade do Record Store Day e a volta do vinil no imaginário popular ajudaram a criar um interesse maior ao redor do programa?

Sim, totalmente. O Alta Fidelidade, até mesmo o Durval Discos no Brasil, uma série de livros sobre o assunto e também a própria discussão sobre a decadência desse segmento da indústria, geraram um novo fôlego e turbinaram o interesse no programa e no assunto em geral.

A primeira temporada do Minha Loja de Discos passou pelas lojas do Reino Unido, fale um pouco mais sobre ela.

A Elisa praticamente produziu tudo, pois eu trabalhava fixo na BBC. Nas minhas folgas e férias, a gente viajava para gravar nas lojas das outras cidades ou aqui por Londres mesmo. Fizemos um piloto sobre a Sister Ray, que é uma loja bacana do Soho, que surgiu junto com o movimento punk dos anos 70. Eles representam muito uma faceta da cena local que eu me interesso muito, que é sobre a influência da música caribenha, do reggae e do dub, e como tudo isso se misturou ao punk. Mas o programa que fizemos sobre a Sister Ray não tem porra nenhuma disso (risos). Mostramos umas bandas mais recentes (risos).

Ainda existem muitas lojas de discos aí na Inglaterra, certo?

Existem umas 300 lojas pelo Reino Unido. Esse número aumenta ou diminui um pouco a cada ano, pois tem loja que abre, dura apenas um ano, e depois fecha. Nessa primeira temporada, eu percebi que as lojas que duram décadas são aquelas que possuem uma relação muito forte com a comunidade ao redor de onde estão instaladas. São estabelecimentos patrocinados não monetariamente, mas culturalmente pelos músicos locais, que agem como patronos de determinadas lojas. Geralmente são lojas que vendiam os discos dos grupos desses músicos, quando totalmente independentes. Daí eles estouram e fazem questão de retribuir tudo isso à loja. A Monorail, na Escócia, começou tendo o seu estoque cedido pelas bandas locais. O mais caro pra montar uma loja é o estoque, e nesse caso em específico, o pessoal do Mogwai ajudou. O pessoal do Franz Ferdinand, por exemplo, também está totalmente conectado à Monorail e por aí vai…

A segunda temporada, que está sendo exibida atualmente, foi rodada pelos EUA. Sendo um país de proporção continental, creio que foi importante mapear o território pra traçar de maneira mais abrangente todas as diferentes culturas e cenas de locais como Chicago, New Orleans, Detroit, Mississippi, Nashville, L.A. e NYC. Como foi planejar essa nova temporada num país tão grande?

Na primeira temporada, mapeamos tudo antes, mas contamos com uma flexibilidade maior na produção, porque estávamos perto. Foi possível viajar e entrevistar uma banda, por exemplo, num dia diferente daquele em que a gente filmava, em tal cidade. Nos EUA, com aquela proporção toda e a distância, tivemos que produzir tudo com antecedência. Foi necessário ter a certeza que quando estivéssemos numa cidade, encontraríamos com todos os artistas, lojistas etc. Saímos daqui então com 70% de tudo marcado, agendado. Temos um episódio no Havaí, e eu queria muito entrevistar o Taj Mahal, que foi pra lá no início dos anos 80, fundou a Hula Blues Band e foi um músico que ajudou a trazer de volta para o blues o que o blues havia dado para a música havaiana nos anos 50. Mas como ele nem vive na principal ilha do Havaí, mas sim numa ilha menor, fomos entrevistá-lo em Nova York. Esse tipo de coisa precisou ser agendada com muita antecedência. Rodamos milhares de quilômetros e usamos todos os meios de transporte possíveis.

Nos episódios, a loja de disco acaba sendo o ponto de partida para a exploração artística e cultural das cidades. O principal papel do programa é mostrar o quão fundamental para a vida das cidades é ter a sua própria loja de disco, certo?

Exato, isso mesmo, perfeito. Algo recorrente nessa série, e que você percebe de imediato, é o impacto que essas lojas causam na região onde atuam, ajudando a desenvolver aquela vizinhança. Muitas vezes são locais deteriorados, sem atenção do poder público, e a loja movimenta a região, que teoricamente encontra-se degradada. A loja de disco traz então uma função cultural e marcante para aquela vizinhança, atrai artistas e intelectuais e, por fim, o poder público. Assim, algumas cidades e bairros vão crescendo graças às lojas de discos. Outras formas de negócio vão abrindo nas redondezas, pois trata-se de um local com aluguel barato… Isso é muito importante pra comunidade, pois toda ela necessita de uma boa livraria, um bom teatro, um bom café, um bar legal, para as pessoas se encontrarem etc. Em alguns casos, as lojas são agentes dessa gentrification, ou gentrificação como andam dizendo no Brasil, mas acabam depois sendo prejudicadas, pois tudo aumenta de preço na região, inclusive o aluguel. E para uma loja de discos sobreviver, o aluguel precisa ser barato. Essas lojas foram criadas para o povo, na verdade. Creio que o programa mostra muito essa coisa toda.

O programa sobre a Somewhere in Detroit, um dos meus favoritos, mostra muito isso que você comentou…

Pois é. A Jazz Record Mart, em Chicago, por exemplo; se você reparar as pessoas que a frequentam, vai constatar que não são pessoas de muita grana, que estão ostentando. Todos estão ali garimpando, buscando absorver alguma coisa maior, interagindo. Esse processo urbano é muito interessante. Buscamos mostrar isso, indo pela cena local, dando espaço também na série para esses artistas não muito conhecidos. Essas lojas criam esse circuito de renovação, então são essenciais também para oxigenar o ambiente além do esquema das rádios.

Das chamadas college radios americanas…

Sim, essas rádios universitárias americanas são diferentes das rádios britânicas. A Inglaterra é um país muito menor e tem uma estação que ajuda bastante as novas bandas nesse sentido, a Radio 6. Mas nos EUA é necessário sair do esquemão comercial, então é aí que entram as lojas independentes de discos e essas college radios. Se depender do esquemão e não houver essa oxigênação, ferrou, ninguém vai conhecer nada de novo.

Outra grande sacada do Minha Loja de Discos são as entrevistas com músicos locais, todos exaltando a sua relação com determinada loja. Como vocês chegaram nesses artistas?

Das mais diversas formas: através de um contato aqui na Inglaterra, do Facebook, dos selos independentes – que dominam boa parte desse mercado que as lojas estocam. Mas nunca deixamos de pegar dicas preciosas com os próprios donos das lojas, nos informando sobre os músicos que são seus clientes e tudo mais. A Aquarius Records de São Francisco, por exemplo, é uma loja especializada em black metal. Você nunca iria imaginar que São Francisco possui um intensa cena de black metal (risos). Mas então, eles tinham o contato de todo mundo do gênero no pedaço, o que foi incrível. Muitos desses músicos que entrevistamos também trabalham nas lojas. São caras que tocam duas vezes por semana e vivem também do salário da loja.

Tanto o roteiro como a edição, e as trilhas do programa, são bem legais. Como você trabalha isso com o restante da equipe?

O roteiro quem faz é a Kika Serra e seu irmão, Pedro Serra. A Kika manja muito de música e é responsável pelo Caipirinha Appreciation Society, o podcast de música brasileira mais ouvido no mundo, com milhares de seguidores. Já o Pedro Serra é DJ no Rio de Janeiro, e também conhece bastante. A edição e a trilha sonora é do Felipe David Rodrigues, que também é diretor de cinema e foi editor do Som do Vinil, do Charles Gavin. Passamos um briefing pra o Felipe e ele executa um trabalho maravilhoso, com o ritmo próprio dele, de imagens e sons. A sensibilidade dele é incrível pra isso e ele gosta muito de música psicodélica. Uma das virtudes dessa série, talvez a maior delas, é que todos os envolvidos possuem uma relação especial com música, uma relação de vida mesmo, um lance de militar pela música. Algo muito além de uma simples ambição profissional. A Elisa gosta de ressaltar que é um grande time e, sem ele, nada disso seria possível. Rola uma vibração aí (risos).

Existe o desejo, ou a possibilidade, de rodar uma temporada no Brasil, apresentando lojas e cenas daqui?

Sim, o desejo existe. Não conseguimos fazer uma temporada inteira no Brasil, a menos que sejam feitas algumas mudanças no formato do programa. Dentro do formato atual, o que a gente quer fazer é com algumas lojas do Brasil e outras da América Latina. No Brasil, seria muito bacana fazer com lojas como a Baratos Afins, por exemplo, que além de loja é também um selo essencial. Já gravei entrevistas com o Luiz Calanca, sobre discos de vinil, isso há uns oito anos. A Colômbia tem uma cena musical maravilhosa e o México também, então seria muito bacana fazer isso. Tem muitos outros lugares que ainda não exploramos e que dariam programas sensacionais, como Canadá, França, Alemanha, Japão, Austrália, África do Sul e Mali. No Mali, inclusive, existe uma grande loja especializada somente em fitas K-7. A música do Mali também é muito essencial, principalmente para a música do Ocidente. A teoria de que o blues veio originalmente de lá também é bastante provável. Na África do Sul tem ainda o lance de que a ideia para o filme do Rodriguez saiu de dentro de uma loja de discos. Enfim, temos fôlego para uma temporada internacional que abrangeria o Brasil, mas focar uma temporada inteira no Brasil eu acho complicado, pelo menos no momento. Pode ser que daqui algum tempo pintem outras lojas no Brasil, o que é natural acontecer, e daí aconteça também mais esse tipo de relação entre lojas, cenas musicais e regiões que mostramos no programa. Sei que além de São Paulo e do Rio de Janeiro, existem boas lojas em Porto Alegre e Recife, por exemplo. No Rio, que eu conheço melhor, o forte são os sebos, as lojas de discos usados. Os lançamentos em vinil estão sendo comercializados mais pelas livrarias e grandes redes, como Fnac, Livraria Cultura, Saraiva e outras. Infelizmente essas grandes lojas não criam uma relação evidente com a cena musical local, ao contrário da Baratos Afins, por exemplo.

Pra encerrar: É verdade então que o vinil matou a indústria do MP3?

Cara, eu não sei, mas esse slogan é muito bom, sem dúvida (risos). A Elisa nesse ponto talvez tenha uma visão menos romântica e mais justa que a minha; talvez eu tenha uma visão mais passional. Ela diz que uma coisa anda junto da outra hoje em dia, ou seja, quem mais compra vinis é quem também pesquisa mais, e se beneficia do MP3 como ferramenta. Ou seja, as pessoas ouvem o MP3 nos dispositivos móveis na rua, mas, em diferentes circunstâncias, escutam também o LP em casa. Daí o hábito dos discos de vinil de hoje em dia virem acompanhados de um código para o download do arquivo digital. Como portabilidade, o MP3 é válido mesmo com uma qualidade sonora inferior, assim como era o walkman, ou o radinho de pilha. Agora em casa, se você quiser se aprofundar, o vinil é imbatível. A arte requer tempo. Não dá pra absorver arte, ou música, fazendo dez coisas ao mesmo tempo, é preciso parar e ouvir. Música não é ginástica aeróbica, não é multitasking. Música é a forma de arte mais revolucionária que a humanidade já conheceu. Falo isso sem medo, porque a música está na vanguarda até mesmo da tecnologia. A música tem uma ligação muito objetiva com os meios de comunicação, dos mais primitivos aos mais contemporâneos. Como forma de arte e usando a tecnologia do seu tempo, ela está sempre muito na frente. Mais uma vez é a música que está dizendo para o ser humano: “Bicho, para e ouve, para e escuta!”. No Brasil da atualidade, isso é mais que essencial…

Entrevista originalmente publicada na pZ 57

poeiraCast 232 – Rock É Juventude?

Inspirados por uma lista publicada no site U Discover Music, conversamos sobre a ligação entre o rock e Mais

por Bento Araujo     06 Maio 2015

Inspirados por uma lista publicada no site U Discover Music, conversamos sobre a ligação entre o rock e a juventude, comentando álbuns hoje clássicos, sendo que alguns já têm mais que o dobro da idade dos artistas quando os gravaram.
Estrelando: Hendrix, Elvis, Dylan, Stones, Beatles e muitos outros.

poeiraCast 231 – Família Purple

Carreiras solo, bandas e projetos: hoje conversamos sobre a enorme família formada pelos outros trabalhos dos integrantes do Mais

por Bento Araujo     29 abr 2015

Carreiras solo, bandas e projetos: hoje conversamos sobre a enorme família formada pelos outros trabalhos dos integrantes do Deep Purple.

poeiraCast é o podcast da revista poeira Zine
www.poeirazine.com.br

poeiraCast 230 – Discos de estreia que fracassaram

Hoje falamos sobre discos de estreia que não colocaram a banda no patamar em que ela esperava chegar Mais

por Bento Araujo     22 abr 2015

Hoje falamos sobre discos de estreia que não colocaram a banda no patamar em que ela esperava chegar (e, em alguns casos, no qual nem chegaria durante sua existência).
Com Big Star, Kiss, Aerosmith, Allman Brothers, The Velvet Underground e outros…

poeiraCast 229 – A revalorização do rock nacional

O assunto do programa seria outro, mas a conversa fluiu tão naturalmente para o culto do velho e Mais

por Bento Araujo     15 abr 2015

O assunto do programa seria outro, mas a conversa fluiu tão naturalmente para o culto do velho e bom rock nacional, que resolvemos seguir o programa nesse tema.

Estrelando: Som Nosso de Cada Dia, Mutantes, Made in Brazil, Terreno Baldio, A Bolha, Moto Perpétuo e muitos outros.

Playlist pZ 59

Preparamos um playlist da pZ 59 no Spotify para você escutar degustando a sua nova edição

por Bento Araujo     10 abr 2015

Playlist da poeira Zine 59, para escutar degustando a sua nova edição. Ouça músicas de bandas e artistas que abordamos nesta edição: Rainbow, Aphrodite’s Child, Faust, The Sonics, Tim Buckley, Muddy Waters, Tages, Motörhead, Jackson C. Frank, The Strangeloves etc.

Veja mais sobre essa edição no http://www.poeirazine.com.br/loja/numero-59/

poeiraCast 228 – Gal Costa

Uma das maiores cantoras brasileiras, Gal passou por diversas fases da MPB, conquistando inclusive a admiração dos roqueiros Mais

por Bento Araujo     08 abr 2015

Uma das maiores cantoras brasileiras, Gal passou por diversas fases da MPB, conquistando inclusive a admiração dos roqueiros com suas interpretações ousadas durante e depois da Tropicália. Ela é nosso assunto neste episódio.

poeiraCast é o podcast da revista poeira Zine
www.poeirazine.com.br

poeiraCast 227 – Os Índios no Rock

Comentamos a presença indígena no rock, desde a influência na temática até os próprios índios roqueiros. Estrelando: Redbone, Mais

por Bento Araujo     01 abr 2015

Comentamos a presença indígena no rock, desde a influência na temática até os próprios índios roqueiros. Estrelando: Redbone, Blackfoot, Hendrix, Link Wray, Xit etc.

Aeroblus em São Paulo

Trio vai se apresentar com guitarrista convidado no Sesc Belenzinho, no final de abril

por Ricardo Alpendre     27 mar 2015

Aerolus 2010

Um sonho será realizado para os fãs do Aeroblus. O grupo argentino/brasileiro, que foi capa da poeira Zine 58, irá se apresentar no Sesc Belenzinho no dia 25 de abril. É a primeira vez que a banda faz um show no Brasil.

No lugar do inesquecível Norberto “Pappo” Napolitano, a formação desta reunião do grupo tem os guitarristas Juan Cavalli (da Medinight Band) e Danilo Zanite (da Patrulha do Espaço). O outro argentino do trio é Alejandro Medina, um dos principais baixistas da história do rock argentino e sul-americano. E na bateria, é claro, está Rolando Castello Junior, fundador da Patrulha do Espaço e único integrante brasileiro do Aeroblus.

Castello, Medina e Pappo formaram o Aeroblus em Campo Limpo Paulista em 1976. No ano seguinte, eles se apresentaram nas casas de shows da Argentina, e lá gravaram para a Philips o único álbum do grupo, homônimo, o qual se tornou extremamente cultuado entre o público do rock pesado. Enquanto é preparado o lançamento de um CD contendo gravações de ensaios do período clássico, a nova encarnação do Aeroblus pode tocar composições inéditas daquela fase, além do material do LP de 1977.

O Aeroblus subirá ao palco na Comedoria do Sesc Belenzinho às 21h30 do sábado, 25/4.

Os valores de ingressos são padrão Sesc: de R$ 7,50 para comerciários matriculados no Sesc até R$ 25,00 para o público em geral. Portanto, é melhor correr.

Mais informações no site do Sesc.

poeiraCast 225 – Discos de Sobras

Algumas vezes o álbum é compilado pela gravadora ou pelo artista a partir de sobras de estúdio. E Mais

por Bento Araujo     18 mar 2015

Algumas vezes o álbum é compilado pela gravadora ou pelo artista a partir de sobras de estúdio. E daí podem sair discos muito bons!
Os discos de sobras são o nosso assunto neste episódio.

poeiraCast 224 – A Era de Ouro dos Box Sets

Caixas, caixas e mais caixas. Hoje o programa é sobre aquelas coleções e compilações encaixotadas, os chamados box Mais

por Bento Araujo     11 mar 2015

Caixas, caixas e mais caixas. Hoje o programa é sobre aquelas coleções e compilações encaixotadas, os chamados box sets!

poeiraCast 223 – Rock e Religião

Às vezes o rock trata de religião. Seja em louvor ou com o mais solene desprezo, músicas geniais Mais

por Bento Araujo     04 mar 2015

Às vezes o rock trata de religião. Seja em louvor ou com o mais solene desprezo, músicas geniais já foram feitas no tema. Nesta semana, falamos sobre elas e seus autores.

poeiraCast 222 – Les Paul

O criador de um dos mais célebres modelos de guitarra foi também um grande artista, engenheiro de som Mais

por Bento Araujo     25 fev 2015

O criador de um dos mais célebres modelos de guitarra foi também um grande artista, engenheiro de som e produtor musical. Neste programa falamos de algumas das peripécias de Les Paul.

Um encontro com o Aguaturbia

Eles lançaram apenas dois discos, mas entraram para a história como uma das bandas mais ousadas da virada dos anos 1960/1970. A pZ foi até Santiago, Chile, para conhecer de perto o fenômeno psicodélico Aguaturbia

por Bento Araujo     24 fev 2015

Aguaturbia

O conquistador espanhol Pedro de Valdivia não imaginava que, ao fundar a cidade “Santiago de Nueva Extremadura” (em honra ao Apóstolo Santiago, santo patrono da Espanha), estava dando início a uma das cidades mais interessantes e charmosas da América Latina. Hoje, Santiago pode ser conhecida pelos turistas por sua proximidade às estações de esqui localizadas na Cordilheira dos Andes, ou por seus vários atrativos históricos e culturais, museus, palácios, mirantes, shows, vida noturna intensa, compras etc. Apesar disso, meu interesse na bela Santiago era outro: conhecer Denise e Carlos Corales, fundadores e linha de frente de uma das principais bandas psicodélicas da virada dos anos 1960/1970: Aguaturbia.

Após contatos virtuais e telefônicos agendamos nosso encontro no estúdio particular da dupla, localizado na casa onde vivem, num agradável bairro residencial de Santiago. Chego e sou recebido com entusiasmo por Denise e Carlos, animados por estarem prestes a conversar com um veículo musical do Brasil.

Quando descemos para o estúdio para começar nosso bate-papo, Denise me conta que é minha conterrânea, pois nasceu Climene María Solís Puleguini, em São Paulo, antes de, aos três anos de idade, ir morar com seus avós no Chile: “Toda a minha família era brasileira, com exceção de meu pai, que era chileno”. Muito cedo, ela já escutava a música de Maria Callas e cantava em português, espanhol e inglês. Logo passou a cantar em programas de rádio, mas desenvolveu uma paixão por um gênero musical específico: “A minha vida e a minha música está muito ligada ao blues, é o que me representa. O rock tem essa coisa louca, selvagem, urgente; algo que grupos como Stones, Who e Zeppelin praticavam. Hoje as pessoas vêm me falar de rock e me falam em Foo Fighters…”.

O próximo passo de Denise foi ligar para os escritórios da Odeon chilena, dizendo que era uma cantora chilena/brasileira que queria gravar um repertório internacional. Esbanjando confiança e força de vontade, Denise foi ao poucos adentrando ao mercado fonográfico da música pop e beat chilena. Quando se deu conta, já tinha três compactos gravados e lançados pela Odeon. Corria o ano de 1968 e Denise ainda era menor de idade, mas já sabia o que queria. Influenciada por Beatles, seu desejo era gravar algo mais rock e experimental, de preferência com uma banda de apoio. Foi assim que apareceu o conjunto Los Tickets em seu caminho, grupo que contava com o mais conceituado guitarrista chileno do período, Carlos Corales. Conhecer Carlos pessoalmente foi uma grande honra e ele me contou um pouco sobre essa época: “Tivemos um movimento bem forte no Chile, nos anos 1960, chamado Nueva Hola, onde muitos artistas locais faziam covers de sucessos internacionais (N.E. algo similar ao que tivemos aqui sob o nome Jovem Guarda). Na rádio só tocava esse tipo de música. A partir de 1965 as coisas mudaram, a influência do blues e do rock aumentou, assim como a necessidade de escrever canções de protesto. Foi uma revolução contra a música comercial que tocava no rádio. Creio que isso aconteceu no mundo todo, tinha de ser assim. A rebeldia jovem necessitava de novos representantes”. Certamente, um desses representantes era uma mulher, Cecilia Pantoja, ela que foi um ícone da Nueva Ola, e segundo Carlos, a primeira artista com uma atitude genuinamente rock na música chilena, esbanjando personalidade, sem imitar ninguém.

aguaturbia foto

Já Denise, então amparada pelos Tickets e pela guitarra de Carlos, também estava pronta para a revolução, principalmente depois de ouvir os mais quentes LPs que chegavam importados ao Chile, discos de nomes como Jefferson Airplane, Janis Joplin, Jimi Hendrix e Melanie. A paixão pela música e por criar uma nova banda acabou unindo Denise e Carlos, que depois de um curto tempo namorando resolveram se casar, no início de 1969. Na verdade, o pai de Denise era muito conservador e trabalhava na polícia. Não permitiu sua filha cantar numa banda de rock pesado. Como era menor de idade, a única opção encontrada pela dupla foi o casamento.

O próximo músico a cruzar o caminho da dupla foi o baterista Willy Cevada, que aprendeu seu ofício com um músico brasileiro chamado Falcão. Fã de Cream e Ginger Baker, Willy foi o primeiro baterista chileno a tocar com uma bateria de dois bumbos. Na sequência a dupla foi apresentada a outro fã de Cream, o baixista Ricardo Briones, ou “Popeye”, apreciador da técnica de Jack Bruce. Nascia o Aguaturbia, nome que surgiu de forma espontânea na mente de Carlos Corales, cuja ideia seria juntar, numa única palavra, algo claro e cristalino com algo escuro e sombrio: agua + turbia. O nome seria um reflexo da sonoridade praticada pelo novo conjunto, sonoridade que Jimmy Page também buscava com seu Led Zeppelin do outro lado do mundo, tentando unir “luz” e “sombra”, como ele mesmo diz. Nesse sentido, Carlos estava totalmente sintonizado com Page.

“A influência do rock inglês e norte-americano era cada vez maior na América do Sul. O que aquele pessoal dizia musicalmente com uma união entre baixo, guitarra e bateria era algo incrível e muito popular. Foi fácil de assimilar, pois era a nossa língua”, conta Carlos, explicando como sua nova banda ampliou sua sintonia com aqueles turbulentos meses de 1968.

Mas estaria o Chile, e a América do Sul de 1968, preparados para uma banda como o Aguaturbia?

Denise: “Eles nunca imaginaram que poderia existir algo desse tipo. Assumimos uma imagem agressiva, que era a mesma de Hendrix, Joplin e Jefferson Airplane. Éramos quatro jovens, porém com experiência em se portar num palco. Quando Carlos me mostrou um disco do Airplane eu disse a ele: ‘posso cantar dessa maneira’. Deixei meu cabelo enorme, passei a usar roupas ousadas e chamativas e a cantar de maneira mais agressiva, ou seja, fui no caminho oposto das demais cantoras caretas chilenas. O Aguaturbia caiu como uma bomba no Chile, foi um momento de ruptura”.

Foi em 1969, o ano em que tudo aconteceu (Woodstock, Altamont, Mason, Vietnã, homem na Lua etc.), que o Aguaturbia moldou sua sonoridade ácida, fazendo inicialmente covers. Foi também nesse ano que Carlos fez sua primeira viagem aos EUA. No Fillmore East, em New York, assistiu ao Jeff Beck Group, ainda contando com Rod Stewart e Ronnie Wood. As intuições do guitarrista chileno foram confirmadas naquela noite, via os feedbacks alucinantes de Beck. Para soar como um guitarrista do primeiro mundo, era preciso não só de técnica e inspiração, mas também de um aparato tecnológico. Consciente de que poderia fazer algo similar, Carlos voltou para o Chile com uma Fender Stratocaster, alguns amplificadores e a memória do que havia conferido ao vivo no Fillmore – Jeff Beck Group, The Who, Ten Years After etc.

aguaturbia_3Assim como no Brasil, ser roqueiro e músico no Chile, em 1970, era sinônimo de ser perseguido e ridicularizado. Músico cabeludo era bicha, drogado ou vagabundo, ou as três coisas juntas. Pra piorar, eram acusados também de copiar o estilo musical norte-americano e, com isso, foram chamados de filhos do imperialismo. Cantar em inglês naquela altura era considerado um sacrilégio. Esse contingente ia na contramão. Eram minoria, mas se encontravam em franca expansão.

Nada disso impedia os shows do Aguaturbia, que topava qualquer parada, desde apresentações em comunidades hippies, festas em colégios e aniversários, até participar em grandes festivais, ao lado de outras bandas locais como Los Blops, Escombros, Beat 4 e Inside. Rapidamente, a banda sentiu que estava pronta para registrar aquele material em disco. Assim, entraram em contato com o produtor Camilo Fernández, proprietário do selo Arena, respeitado no underground por gravar obras de nomes como Victor Jara sem se preocupar com o teor comercial da coisa, priorizando apenas a liberdade artística.

Cientes disso, Denise e Carlos sentiram que poderiam jogar limpo com Camilo, sujeito que provavelmente apoiaria suas ideias em nome da arte. Como todo disco começa pela sua capa, a arte gráfica que embalaria a estreia do Aguaturbia teria de ser arrasadora. Era preciso entrar derrubando a porta da frente. Uma banda totalmente fora do convencional precisava de uma capa idem.

Assim, sugeriram uma foto no estilo de Two Virgins, de John Lennon e Yoko Ono, onde o quarteto apareceria completamente nu. Camilo adorou a ideia e a foto foi encomendada, como relembra Denise, com exclusividade para a pZ: “Aquilo foi uma mistura de talento e ingenuidade. Foi como se a banda tivesse se transformado depois dessa capa, que na verdade foi uma cópia, mas teve seu impacto em nossa sociedade. O fotógrafo e o nosso empresário disseram: ‘tirem tudo’. Foi uma loucura. Claro que para uma mulher é mais difícil tirar a roupa, principalmente na frente de outros rapazes, mas Carlos me apoiou e fui em frente. O Chile sempre foi um país muito machista, então os homens podiam fazer muitas coisas, mas as mulheres não. Uma mulher não podia mostrar seus seios em 1969. Minha mãe quase enfartou e meus sogros não queriam sentar comigo numa mesma mesa. Para eles foi muito difícil entender o que eu havia feito. Precisamos então andar pelas próprias pernas e montar nossa própria família”.

A foto utilizada na capa, ousadíssima para a época, acabou se tornando uma das imagens definitivas e emblemáticas não somente do rock chileno, mas do rock latino-americano. Denise estava contente, aliviada e orgulhosa ao mesmo tempo, já que, no Chile de 1970, diziam que tanto Janis Joplin, como Rita Lee, haviam tentado fazer o mesmo com suas respectivas bandas, Big Brother e Os Mutantes. Haviam tentado estampar uma foto como aquela na capa de seus discos, porém suas gravadoras vetaram. Em Santiago foi diferente e olha que o Chile estava apenas adentrando a sua década mais sangrenta e decisiva, politicamente e socialmente falando.

Mas o que ninguém imaginou é que a capa de Aguaturbia, o disco, acabou simbolizando uma suposta cena rotineira das muitas comunidades hippies daquela época, onde tudo era compartilhado: comida, bebida, drogas, dinheiro e, por que não, corpos. Como eles dizem por lá, a “partuza” estava sugerida. Ou seja, a orgia, a “suruba”. Evidentemente, Denise já era esposa de Carlos naquela altura, e estão juntos até hoje, então essa ideia acabou ficando apenas no imaginário coletivo. Bom para o disco e para a banda, que se alimentava da polêmica assim que o álbum chegou às lojas chilenas, em janeiro de 1970. Carlos: “Aquela linguagem era natural para a gente, pois vínhamos fazendo rock desde os tempos do Elvis. Nossa proposta foi totalmente diferente dos demais grupos, que baseavam sua música no folclore chileno, no lance mais acústico e folk. Era valiosa essa proposta, mas nosso lance era oferecer algo diferente. Nossa apresentação em cena também foi diferente, alguém precisava fazer isso. A capa foi no mesmo caminho, era uma questão, ou melhor, uma necessidade, de romper com o estabelecido. Vivíamos uma época de mudança”.

O escândalo fonográfico atrevido do Aguaturbia foi gravado num único dia, em dois canais, tudo ao vivo, apenas os vocais e a guitarra principal à parte. A mixagem foi feita no dia seguinte e o resultado foi um álbum histórico, mesmo sendo composto de covers em sua maioria. A sonoridade, no entanto, era lisérgica, blueseira, garageira, experimental, elétrica e metálica, compondo um tipo de rock desinibido e moderno, como ninguém tinha feito até então por aqueles lados. Nesse sentido, o Aguaturbia estava ao lado dos argentinos do Manal e Almendra, dos peruanos do Traffic Sound e de nossos Mutantes e Módulo 1000.

O impacto foi tamanho e a banda vivia uma fase tão proveitosa e intensa, que Camilo Fernández não perdeu tempo e resolveu capitalizar em cima das ótimas vendas da estreia. Apenas cinco meses depois ele convenceu o Aguaturbia a gravar seu segundo disco, Volumen II.

Naquela altura, o Aguaturbia sentia o peso de sua ousadia na pele. Qualquer roqueiro sulamericano sentia exatamente isso, então foi essa hostil incompreensão que a banda quis representar. Tanto que a capa trazia Denise crucificada, semi-nua, vista de cima, assim como na pintura de Dali. A ideia original era que Denise fosse crucificada totalmente nua, porém uma vocalista de rock nua simular o sofrimento de Cristo numa capa de disco pareceu além da conta, ainda mais num país católico como o Chile, onde, décadas depois (em 1992), a igreja católica chegou a proibir o primeiro show do Iron Maiden no país, simplesmente por serem considerados uma banda “satânica”.

aguaturbia-volumen-2Volumen II foi lançado em novembro de 1970, novamente pelo selo Arena. Naquele mesmo mês, Salvador Allende tomava posse do Chile, ele que foi o primeiro presidente da república e o primeiro chefe de estado socialista e marxista eleito democraticamente na América Latina. Com a esquerda no poder, Carlos e Denise perceberam que tempos difíceis estariam por vir em encontro ao Aguaturbia. O sentimento anti-USA estava mais impregnado do que nunca na população, então a banda certamente seria acusada por cantar em inglês e tocar rock pesado, assim como os norte-americanos. Naquela altura, ou você estava do lado do governo (esquerda) ou do lado da oposição (direita). Por mais que o Aguaturbia não desejasse se envolver com política, seria impraticável continuar se apresentando e gravando discos de rock, ou seja, eles não teriam como continuar vivendo de música no Chile. Aproveitando o convite para uma audição da RCA norte-americana, a banda partiu de mudança para os EUA, se instalando em New York.

Com a ameaça de serem deportados a qualquer instante, precisaram trabalhar para se manter nos EUA, pagar as contas, comprar discos e assistir shows. Arrumaram emprego numa boate, onde Denise cantava em português e a banda caprichava numa mistura de blues e Bossa Nova. Quanto aos shows que assistiram, Denise gosta de relembrar: “Robert Plant era Deus para mim, e fomos assistir ao Led Zeppelin no Madison Square Garden, na terceira fileira. Assistimos Elvis ao vivo também e foi incrível, assim como o Concerto para Bangladesh. Vimos muitos outros shows por lá: Mountain, Humble Pie, Cactus, Grand Funk Railroad, Santana, Rare Earth, Sly & The Family Stone, Spirit, ELP, Johnny Winter, Bloodrock, Allman Brothers, Grateful Dead etc.”.

O primeiro problema grave aconteceu com o baixista Ricardo Briones, que se recusava a tocar qualquer estilo musical que não fosse rock e blues. Deprimido e sofrendo de esquizofrenia, Ricardo sumia por vários dias e teve problemas com drogas pesadas. Chegou a ser admitido como indigente num sanatório mental, nas imediações de New York. Tempos depois, voltou ao Chile, assim como o baterista Willy Cevada. Em 1973, Denise e Carlos também estavam de volta, trazendo com eles a primeira filha do casamento, Indira. Haviam saído do país num momento político delicado, e para completar o panorama, voltaram num momento mais difícil ainda, com inflação galopante e um índice assustador de desemprego. Naquele ano, Augusto Pinochet liderou o golpe militar que derrubou o governo de Allende.

Aguaturbia++groupA turbulência política não foi correspondida na música do Aguaturbia, que lançou um compacto bem pop, com “El Hombre de la Guitarra”, uma versão para “Guitar Man”, do Bread, no lado principal. Foi o último lançamento do grupo antes do fim, que veio em 1974, com uma série de concertos de despedida reunindo a formação clássica e original da banda. O derradeiro show acabou sendo interrompido pela polícia, depois que um fã mais exaltado resolveu pular da plateia superior em direção à plateia inferior, em êxtase completo com o som que vinha do palco.

Denise e Carlos continuam na ativa até hoje, fazendo shows e gravando discos. Fazem aparições constantes em programas de TV e rádio e também em eventos e festivais de música pelo Chile. Depois de anos trabalhando em outros projetos, assistiram um ressurgimento e um culto à obra do Aguaturbia primeiramente na Inglaterra, onde foi lançada a compilação (em CD) Psychedelic Drugstore. De lá pra cá a popularidade da banda só aumentou entre os colecionadores, que pagam centenas de dólares nas versões originais dos álbuns do Aguaturbia.

Depois de quase duas horas de conversa, agradeço Carlos e Denise pelo agradável papo e por me receberem de forma tão calorosa. Conhecer o QG da banda em Santiago foi uma experiência e tanto. Peço então para Denise encerrar e definir a sua banda: “O Aguaturbia foi uma banda tremendamente talentosa, ingênua e marginal. Não éramos da elite e trabalhamos desde muito cedo – gravei meu primeiro disco com 15 anos! O Chile é um país pop, poucos artistas aqui têm a coragem e a atitude de assumir uma postura rock, como o Aguaturbia fez. É um desafio constante, mas mesmo assim continuamos na ativa”.

DISCOGRAFIA COMENTADA

AQUATURBIA (1970)
“Alguien Para Amar”, versão caliente para “Somebody To Love”, acabou carimbando o grupo, injustamente, de “Jefferson Airplane chileno”. Mas esse álbum prova que o Aguaturbia era muito mais que isso. Capa ultrajante à parte, a estreia da banda chilena trazia ótimos momentos, muitos deles inéditos na cena sulamericana da época. A sensualidade lasciva da funkeada “Erotica” coloca Denise entre as grandes intérpretes do rock feminino, já “Ah Ah Ah Ay” posiciona Carlos Corales como um Hendrix dos Andes. Versões de temas blues como “Rollin’ And Tumblin’” e “Uno De Estos Dias” (ou “One Of These Days”) pintam ao lado de versões inventivas para “Eres Tu” (“Baby It’s You”, popular na época com a banda Smith), “Carmesi Y Trebol” (“Crimson & Glover”, de Tommy James) e “Baby” (de Carla Thomas).

VOLUMEN II (1970)
O segundo registro do Aguaturbia abre com o mesmo tema que tradicionalmente abre seus shows, “I Wonder Who” (Ray Charles), com um belo solo inventivo, de trás pra frente, de Carlos. “Heartbreaker”, de Mark Farner, vem em seguida, escolhida por ser um grande hino para os roqueiros chilenos, ávidos apreciadores de Grand Funk Railroad. Tirando as escorregadas na letra, a performance de Carlos, na guitarra, é acima da média. “Blues On The West Side” mantém acesa a chama blues do grupo, com uma boa atuação do baterista Willy Cevada. “Waterfall”, de autoria da banda, é um hard-funk a la Band Of Gypsys com os agudos letais de Denise. “Well An Right” (sic) nada mais é que uma versão cavernosa para “Well All Right”, de Buddy Holly, também coverizada pelo Blind Faith. A acústica faixa de encerramento trazia o nome do grupo e foi a primeira faixa gravada em espanhol pela banda, com clima bem folk e regional. Mas o maior destaque é a progressiva e furiosa “EVOL”, considerada a melhor e mais impactante composição registrada pela banda. Quase nove orgasmáticos minutos sonoros, intensos como a voz de Denise e as excursões psicodélicas de Corales – arrepiante.

Denise Corales e Bento Araujo, Santiago, 2012

Denise Corales e Bento Araujo, Santiago, 2012

Carlos Corales e Bento Araujo, Santiago, 2012

Carlos Corales e Bento Araujo, Santiago, 2012

13th Floor Elevators se reúnem após 45 anos

Única apresentação está programada para maio, em Austin, Texas

por Ricardo Alpendre    

13TH-FLOOR-ELEVATORSO semanário The Austin Chronicle, tabloide alternativo de Austin, Texas, publicou dias atrás que um dos orgulhos da cidade, a banda 13th Floor Elevators, fará uma reunião para se apresentar no Levitation Festival, que será realizado entre 8 e 10 de maio.

O evento, anteriormente chamado Austin Psych Fest, ocorre no Carson Creek Ranch, e em 2015 terá atrações de peso como Flaming Lips, Tame Impala, Jesus & Mary Chain, Spiritualized e Primal Scream, além dos Elevators, que fecharão o festival como banda principal do domingo dia 10.

O combo psicodélico texano se separou na virada das décadas de 1960 e 1970, e neste ano comemora o cinquentenário de sua formação.

Estarão nesse reencontro o vocalista e guitarrista Roky Erickson, o baixista Ronnie Leatherman, o baterista John Ike Walton e o curioso integrante Tommy Hall. Letrista principal, cientista e “visionário”, Hall é um caso à parte, tendo marcado o som dos Elevators com seu instrumento chamado electric jug; ou seja, mais ou menos uma versão eletrificada dos jarros ou moringas que caracterizavam as jug bands dos anos 1920.

Após ficar totalmente afastado da música durante esses 45 anos, ao contrário de seus colegas, Hall já está praticando o electric jug novamente, especialmente para o show.

Tanta é a importância dos 13th Floor Elevators para Austin que o Levitation Festival teve seu nome inspirado na música “I’ve Got Levitation”, presente no segundo disco do grupo, o clássico Easter Everywhere.

poeiraCast 221 – Vaias Históricas

Aquele momento tão temido por alguns artistas, mas que ajuda a solidificar a carreira de alguns. Neste episódio Mais

por Bento Araujo     18 fev 2015

Aquele momento tão temido por alguns artistas, mas que ajuda a solidificar a carreira de alguns. Neste episódio lembramos algumas vaias históricas no rock e na música pop.

Primeira fase do Thin Lizzy novamente em vinil

Selo Light In The Attic completa suas reedições dos três álbuns com o trio original

por Ricardo Alpendre    

Phil - Brian - EricBoa notícia para os fãs do Thin Lizzy, especialmente aqueles que gostam da primeira fase da carreira do grupo. O selo norte-americano Light In The Attic está relançando em LP de vinil 180g o segundo e o terceiro LPs da banda irlandesa: Shades Of A Blue Orphanage e Vagabonds Of The Western World, respectivamente.

Nos dois álbuns, assim como no que os precedera, o Thin Lizzy tinha Eric Bell na guitarra. Ao lado dele, os dois músicos que estariam em todos os grandes álbuns do grupo: Phil Lynott no baixo e vocal, e Brian Downey na bateria.

Shades, lançado originalmente em 1972, e Vagabonds, de 1973, são diferentes em estilo do Thin Lizzy que se tornaria mais famoso com Brian Robertson e Scott Gorham nas guitarras. Ao invés daquele hard-boogie melodioso dos trabalhos seguintes, o trio dessa primeira fase explorava sons folk e psicodélicos, com alguns desvios para o blues.

Bundle-2-675x507Na página do Thin Lizzy dentro do site da LITA (como o selo abrevia seu nome) são oferecidos os LPs individualmente a 18 dólares, ou os dois juntos a 32 dólares. Uma outra opção é comprar também o primeiro LP, Thin Lizzy, de 1971, no pacote com três LPs a 48 doletas. O álbum de estreia já havia sido relançado pela LITA em 2012, e também pode ser comprado separadamente.

Todos os álbuns, além da prensagem 180g e a alardeada remasterização, têm capa dupla com fotos pouco vistas antes e textos.

A página é http://lightintheattic.net/artists/420-thin-lizzy

poeiraCast 220 – Pop barroco

Cravos, cordas, floreios e influência da música erudita: neste episódio o assunto é o chamado “baroque pop”, que Mais

por Bento Araujo     11 fev 2015

Cravos, cordas, floreios e influência da música erudita: neste episódio o assunto é o chamado “baroque pop”, que floresceu no rock dos anos 1960 através de Left Banke, Sagittarius, Zombies, Love Sculpture, etc.

pZ 58

Aeroblus, The Nice, Zior, Trust, Graham Nash, Edy Star, Necro, Marvin Gaye, discos de jams etc.

por Bento Araujo     02 fev 2015

AEROBLUS
O único disco lançado pelo Aeroblus, em 1977, foi um marco do rock dos anos 70 – abrindo caminho para uma série de bandas pesadas do rock latino-americano. Foi também o elo entre o rock argentino e brasileiro do período, já que a banda contava com dois argentinos (Pappo e Alejandro Medina) e um brasileiro (Rolando Castello Junior). Junior e Medina nos ajudaram a contar a intensa e turbulenta trajetória do Aeroblus. Inclui fotos raras, memorabilia do período, detalhes sobre o novo disco da banda (recheado de raridades da época) e um artigo sobre as passagens do guitar hero argentino Pappo pelo Brasil.

THE NICE
A estreia do The Nice em vinil mostrou ao mundo um novo estilo de fazer rock, mesclando a música jovem do período com a erudição de seus integrantes, dentre eles o tecladista Keith Emerson, que anos depois fundaria o Emerson Lake & Palmer. Mas as primeiras sementes do que viria a ser o rock progressivo foram plantadas em 1967, com The Thoughts Of Emerlist Davjack.

NAPOLEON MURPHY BROCK
Ele atendeu a pZ pessoalmente para um longo e descontraído papo, numa chuvosa tarde de verão, em meio a uma feijoada e cerveja gelada. Napoleon veio ao Brasil fazer duas concorridas apresentações com a banda Let’s Zappalin’, liderada pelo guitarrista Rainer Tankred Pappon, ex-integrante da The Central Scrutinizer Band. O ex-vocalista, saxofonista, dançarino e divertidíssimo frontman dos Mothers (of Invention), de Frank Zappa, participou das gravações de discos emblemáticos como Roxy & Elsewhere, One Size Fits All, Bongo Fury, Apostrophe (‘), Zoot Allures, Sheik Yerbouti, Them or Us e Thing-Fish e contou histórias reveladoras nesta entrevista exclusiva.

ZIOR
De uns anos pra cá, os fãs de heavy metal passaram a buscar as origens de seu tão amado gênero de preferência. Riffs neolíticos, visual tenebroso e a famigerada temática satânica. Essa combinação tão festejada teve sua origem em finais dos anos 60 dentro do rock. Black Sabbath, Black Widow e Coven são nomes cultuados dentro dessa seara, mas os britânicos do Zior continuam, inexplicavelmente, fora desse culto. Aqui está a história completa da banda, incluindo um especial sobre o selo Nepentha, que lançou o Zior na época.

EDY STAR
Único integrante vivo da Sociedade da Grã-Ordem Kavernista, o glamouroso e indomável Edy Star atendeu a pZ para um memorável bate-papo. A partir deste encontro, passamos para o papel a trajetória do artista, que, em 1974, lançou seu clássico álbum Sweet Edy…

GRAHAM NASH
O nosso pZ Hero desta edição é um músico capaz de fazer parte do que de melhor existe no pop e rock inglês e americano, com identidade diversificada, mas sempre inconfundível em sua voz de tenor. Graham Nash é um desses artistas que mostram que o rock também pode ter sintonia fina.

TRUST
No universo do rock pesado, o Trust sempre foi mencionado graças a sua associação direta com três nomes: AC/DC, Iron Maiden e Anthrax. Servindo de parceria, ou influência, o Trust marcou quem viveu o rock do início dos anos 80. Nem a barreira da língua foi capaz de prevenir o sucesso do grupo francês em todo o mundo. No Brasil, por exemplo, as cópias importadas de seus elepês eram disputadas no braço. O artigo inclui discografia básica selecionada e fotos raras do período.

DISCOS DE JAMS
Dois nomes do rock norte-americano, Grateful Dead e Allman Brothers Band, lançaram o modelo para as futuras gerações de jam bands. Os discos de estúdio não eram lá tão festejados, mas os registros ao vivo viravam febre e uma espécie de culto passou a acontecer nas apresentações dessas duas bandas. Neste especial selecionamos dez álbuns contendo jams, lançados bem antes da explosão das jam bands dos anos 90, mas que serviram de cartilha para as gerações seguintes. Estrelando: Grateful Dead, Allman Brothers Band, Al Kooper, Moby Grape, Stones, Zappa, Area Code 615, Cosmic Travellers, Cosmic Jokers etc.

PÉROLAS ESCONDIDAS
Climax, The Unfolding, Cai, Burnin Red Ivanhoe, Country Weather e Perigeo.

E MAIS:
Joe Cocker, Necro, Vento Motivo, Bobby Keys, Ronnie Self, Demis Roussos, Os Depira, Edgar Froese, Lincoln Olivetti, Marvin Gaye, Kim Fowley, Gil & Gal, Radio Birdman, Gryphon, Patrulha do Espaço, The Standells etc.

The Sonics lançam novo álbum, o primeiro em 48 anos

Grupo proto-punk não gravava um LP de músicas originais desde 1967

por Ricardo Alpendre     26 jan 2015

sonicsApós aproximadamente 48 anos desde que o último LP foi lançado, os Sonics preparam seu primeiro álbum de inéditas desde 1967.

This Is The Sonics, como o álbum vai se chamar, tem lançamento agendado para 31 de março de 2015 pelo selo próprio, Revox, e foi gravado em Seattle, com três dos integrantes originais: Gerry Roslie (teclados e voz), Larry Parypa (guitarra e vocais) e Rob Lind (saxofone, gaita e vocais). Todos eles, que se reuniram em 2007, estavam na gravação dos três discos originais dos precursores do punk: Here Are The Sonics (1965), Boom (1966) e Introducing The Sonics (1967).

Nos dois primeiros (principalmente no álbum de estreia, gravado ainda em 1964), o grupo estabeleceu sua reputação como um dos mais sujos e pesados de todo o movimento do rock de garagem da época.

“The Witch”, o primeiro single daquelas sessões, lançado em 1964; “Psycho”, com o grito mais insano; “Strychnine”, com apologia ao gosto por uma bebida improvável; “Boss Hoss”, “Cinderella”, “He’s Waitin’”, e ainda versões cruas e frenéticas de sucessos do rhythm & blues… Aquele coquetel de irresponsabilidades eternizadas em vinil só poderia mesmo ficar às margens das paradas de sucessos, tornando-se, contudo, item obrigatório em qualquer coleção de rock que pretenda conter sons proto-punk.

Formada em Tacoma, Washington, a banda tem uma história muito ligada a Seattle, onde o novo This Is The Sonics foi gravado com produção de Jim Diamond.

O primeiro single confirmado do álbum é “Bad Betty”, um rock ‘n’ roll puro tocado no estilo inconfundível dos Sonics. No ano passado, a música apareceu, em outra versão, no compacto que o grupo dividiu com o Mudhoney para venda exclusiva no Record Store Day.

“Último desejo” bizarro de Kim Fowley?

Site TMZ diz que o influente produtor queria garotas violando seu cadáver.

por Ricardo Alpendre     23 jan 2015

Kim-Fowley-fuck-youKim Fowley deixou o mundo do rock mais triste e menos safado em janeiro de 2015, com sua morte aos 75 anos. Mas não menos bizarro. Ao menos se for verdade a notícia veiculada pelo site norte-americano TMZ – o mesmo que, em 2009, noticiou em primeira mão a morte de Michael Jackson.

Segundo o site, O produtor que trabalhou com Kiss, Runaways e Alice Cooper teria combinado com o editor da revista Girls and Corpses (Garotas e Cadáveres) que fossem feitas fotos de seu corpo sendo violado por garotas nuas. Esse teria sido seu último desejo. A revista é exatamente o que diz em seu título: uma publicação de fotos de mulheres jovens em poses “sensuais” com zumbis, cadáveres e afins.

De acordo com o TMZ, o produtor, considerado um dos mais geniais e polêmicos do rock, trocou e-mails com o editor e uma fotógrafa da revista em 2012, expressando suas intenções quanto ao ensaio fotográfico, que teria sua então namorada Snow e as amigas dela, fetichistas, mutilando o corpo de Fowley, deixando o sangue rolar, e até ateando fogo no sangue e em ossos. Fowley ainda teria proposto que ele mesmo custeasse o ensaio, se necessário.

O editor, apesar de rejeitar a parte mais sangrenta, teria concordado em fazer a sessão de fotos com as garotas nuas.

Entre o tempo do acordo e o de sua morte, Fowley trocou de namorada e se casou, e a viúva, Kara Wright, é quem tinha o controle do corpo. Segundo o TMZ, no dia 19 de janeiro, Kara não podia ser encontrada para liberar o ensaio. Mas ao que parece ele não chegou a ocorrer, porque o funeral ocorreu na tarde do dia 22, inclusive com as presenças de Joan Jett e do influente disc jockey Rodney Bingenheimer.

poeiraCast 218 – Retrospectiva 2014

No último programa do ano, repassamos o que rolou de melhor e pior em 2014: shows, discos, relançamentos, Mais

por Bento Araujo     17 dez 2014

No último programa do ano, repassamos o que rolou de melhor e pior em 2014: shows, discos, relançamentos, livros e, claro, a perda de vários de nossos ídolos.

ATENÇÃO: o poeiraCast entrou em férias e volta com força total em fevereiro de 2015.

poeiraCast 217 – Os grandes discos de 1984

Sim, 1984 foi também um grande ano para o rock! Com grandes produções no heavy metal, no hard Mais

por Bento Araujo     10 dez 2014

Sim, 1984 foi também um grande ano para o rock! Com grandes produções no heavy metal, no hard rock, no pop inglês e na cena pós-punk, assim como na nossa MPB, a música que completou 30 anos em 2014 é assunto de primeiríssima para nós.

Ian McLagan morre aos 69 anos

Pianista dos Faces e Small Faces também tocou com os Rolling Stones.

por Ricardo Alpendre     05 dez 2014

ianmclaganSe 2014 já vinha sendo marcado pelas mortes de músicos importantes, este final de ano se mostra um pouco exagerado.

Apenas um dia após a morte do saxofonista Bobby Keys, na última quarta, 3/12, foi a vez do pianista e tecladista Ian McLagan, que tem seu lugar na história principalmente como integrante dos Small Faces e dos Faces.

McLagan morreu aos 69 anos, vítima de um derrame, em um hospital de Austin, Texas, cidade em que morava.

Nascido na Inglaterra em 1945, McLagan começou a carreira na primeira metade da década de 1960, e em 1965 entrou para os Small Faces, que se tornaram Faces após a saída de Steve Marriott e a entrada de Ron Wood e Rod Stewart em 1969.

Quando Wood foi integrar os Rolling Stones em 1975, após o fim dos Faces, ele levou McLagan para tocar como sideman da banda, e o pianista fez gravações e shows acompanhando o quinteto. Ele toca, por exemplo, o piano elétrico que é marca registrada do hit “Miss You”. Ainda ao lado de Wood participou do New Barbarians, projeto que também contava com Keith Richards, Bobby Keys, Stanley Clarke e Joseph Zigaboo Modeliste.

Em 1972, ao lado do baterista Kenney Jones, também dos Faces, McLagan tocou no clássico LP The London Chuck Berry Sessions, na porção de estúdio do álbum, em que o cantor e guitarrista apresentou músicas inéditas.

Durante a longa carreira, ele também acompanhou ídolos como Bob Dylan e Bruce Springsteen, e recentemente excursionou com Nick Lowe, outra figura heroica do rock britânico.

Desde 2012, com os Faces e Small Faces, ele faz parte do Rock and Roll Hall of Fame.

Seu álbum mais recente, United States, é relacionado por nosso editor, Bento Araujo, entre os melhores de 2014 na retrospectiva do ano no poeiraCast, episódio que estará aqui no site da pZ a partir de 17 de dezembro.

poeiraCast 216 – A bateria eletrônica no rock

Tá aí um assunto polêmico entre os roqueiros mais “ortodoxos”: bateria eletrônica. Neste episódio conversamos sobre os sons Mais

por Bento Araujo     03 dez 2014

Tá aí um assunto polêmico entre os roqueiros mais “ortodoxos”: bateria eletrônica. Neste episódio conversamos sobre os sons sintéticos de bateria, sejam programados ou tocados com baquetas.

Radio Moscow volta ao Brasil

Além dos shows no País, grupo vai ao Chile, Uruguai e Argentina

por Ricardo Alpendre     28 nov 2014

Radio MoscowMais uma excursão brasileira da banda Radio Moscow se aproxima. Os norte-americanos Parker Griggs (guitarra e voz), Anthony Meier (baixo) e Paul Marrone (bateria) têm sete shows marcados no Brasil, além de outros quatro para os hermanos angentinos, chilenos e uruguaios. Será a segunda vez em que o grupo, um dos melhores da atualidade no rock setentista, visitará a América do Sul, apenas dois meses depois da bem-sucedida primeira passagem.

Na ativa desde 2003, o Radio Moscow tem cinco álbuns, sendo o mais recente Magical Dirt, lançado em 2014. O primeiro, chamado simplesmente Radio Moscow, de 2007, foi produzido por Dan Auerbach, dos Black Keys.

As datas, confirmadas oficialmente pela banda, são as seguintes:

5/12 – Groove Pub – Uberlândia, MG

6/12 – Goiânia Noise Festival – Goiânia, GO

7/12 – Pub Handte – Panambi, RS

11/12 – Lechiguana – Gravataí, RS

12/12 – Inferno Club – São Paulo, SP

13/12 – Lapa Café – Rio de Janeiro, RJ

14/12 – Gypsy Bar – Petrópolis, RJ

16/12 – Santiago, Chile

17/12 – Montevidéu, Uruguai

18/12 – Buenos Aires, Argentina

19/12 – Córdoba, Argentina

RADIOMOSCOW

 

Napoleon Murphy Brock toca Zappa em São Paulo

Ao lado da banda Let’s Zappalin, músico fará dois shows em dezembro.

por Ricardo Alpendre    

napoleonOverdose de música para fãs de Frank Zappa na capital paulista!

O guitarrista Rainer Pappon e seu grupo Let’s Zappalin farão duas apresentações em dezembro. O norte-americano Napoleon Murphy Brock, cantor, saxofonista e flautista de Zappa e dos Mothers of Invention em uma das melhores fases da carreira do artista entre 1973 e 1975, é o convidado da banda brasileira nos shows, que serão realizados no fim de semana que antecede o Natal.

O primeiro deles será no sábado, 20 de dezembro, às 19h, no Centro Cultural São Paulo (Rua Vergueiro, 1.000, ao lado do Metrô Vergueiro), com ingressos a R$ 20,00.

Já o segundo, domingo, dia 21, às 21h, será dividido em duas entradas e terá a performance do álbum Roxy & Elsewhere, no Café Piu Piu (Rua Treze de Maio, 134 – Bela Vista), com couvert artístico de R$ 40,00.

Também fazem parte do Let’s Zappalin os músicos Fred Barley, Jimmy Pappon e Érico Jônis.

Moto Rock Fest

Festival terá músicos do Terço, Som Nosso e Secos & Molhados neste sábado.

por Ricardo Alpendre     26 nov 2014

Moto Rock FestNão é tão comum ver o motociclismo associado ao rock progressivo, mas levando-se em conta que no Brasil dos anos 1970 o prog se misturava ao rock mais básico com tamanha naturalidade, fica até confortável o mote “Festival de Rock Progressivo” abaixo do título Moto Rock Fest.

O evento, que ocorre em São Paulo neste sábado (dia 29), terá como headliner um show indispensável para fãs da banda O Terço. O nome do show pode parecer confuso, mas, para o público da banda, não deixa dúvidas: Sérgio Hinds toca “O Terço” Lado B. Após apresentar o espetáculo no Rio e em Belo Horizonte, Hinds receberá no palco paulistano o músico Cezar de Mercês, ex-integrante do grupo e autor de boa parte das composições clássicas.

“Esse projeto, por coincidência, já estava na minha cabeça há algum tempo”, disse Cezar, que justifica a iniciativa oportuna: “Por motivos óbvios, resgatar as músicas que ficaram fora dos shows ‘oficiais’ do retorno do Terço e que contam a história da banda de forma mais abrangente”. Com a soma das duas iniciativas, a reunião dessas forças criativas foi um caminho tão natural quanto aguardado. Além de Cezar, também haverá a participação de Roberto Lazzarini, do Terreno Baldio.

Outro show que promete ser inesquecível é o do Pedro Baldanza Trio. Baldanza, o “Pedrão” do Som Nosso de Cada Dia, também fará parte do show da banda 70 de Novo, projeto que revive grandes momentos da década progressiva, encabeçado por Zé Brasil, do Apokalypsis, com Silvia Helena, Gerson Conrad (do Secos & Molhados) e o já mencionado Cezar de Mercês. E o Apokalypsis ainda aproveita a ocasião para fazer o show de lançamento de seu novo CD, 40 Anos.

Tudo isso será realizado a partir das 18h do sábado no palco do Via Marquês, na Barra Funda, com ingressos a R$ 30,00 (entradas de camarote com open bar custam R$ 120,00). A organização informa que haverá feira de discos de vinil e exposição de carros e motos. E, como a temática é o motociclismo, será lançada a campanha “Se beber não pilote”.

O Via Marquês fica na Av. Marquês de São Vicente, 1589.

Os ingressos estão à venda no site www.ticketbrasil.com.br e nas lojas Aqualung e Moshi Moshi, da Galeria do Rock.

poeiraCast 215 – Os grandes discos de 1974

Simplesmente uma conversa sobre o que de melhor aconteceu no mercado fonográfico há 40 anos. E foi muita Mais

por Bento Araujo    

Simplesmente uma conversa sobre o que de melhor aconteceu no mercado fonográfico há 40 anos. E foi muita coisa…

poeiraCast 214 – O Fim

A exemplo do Allman Brothers, que decretou seu fim recentemente, que outros grupos deveriam colocar a mão na Mais

por Bento Araujo     19 nov 2014

A exemplo do Allman Brothers, que decretou seu fim recentemente, que outros grupos deveriam colocar a mão na consciência e tomar a mesma atitude?
Esse é o tema de discussão do poeiraCast desta semana.

poeiraCast 213 – Os grandes discos e singles de 1964

O ano em que a beatlemania chacoalhou o mundo, e em que a bossa nova e o rock Mais

por Bento Araujo     12 nov 2014

O ano em que a beatlemania chacoalhou o mundo, e em que a bossa nova e o rock britânico invadiram os Estados Unidos, que respondeu com a revolução da soul music. Tudo isso e mais neste episódio do poeiraCast!

poeiraCast 212 – Automóveis e rock ‘n’ roll

Impulsionados pela paixão de sujeitos como Jeff Beck e Billy Gibbons pelas suas guitarras e seus carros, resolvemos Mais

por Bento Araujo     05 nov 2014

Impulsionados pela paixão de sujeitos como Jeff Beck e Billy Gibbons pelas suas guitarras e seus carros, resolvemos conversar sobre a importância dos automóveis na história do rock. Relembramos sons que abordam essa paixão e ressaltamos a devoção de músicos de rock pela velocidade.

Entrevista com Lenny Kaye

Este bate-papo com o guitarrista do Patti Smith Group e curador da compilação Nuggets aconteceu em Amsterdã, no camarim do Paradiso

por Bento Araujo     14 out 2014

Lenny & Patti“Agora eu entendo a razão de você querer me entrevistar…”.
Lenny Kaye está folheando a poeira Zine com um sorriso estampado no rosto. Estamos no camarim do Paradiso, em Amsterdã, onde dentro de algumas horas ele fará a primeira de duas apresentações completamente sold out do Patti Smith Group.

O fato de Lenny Kaye ser um verdadeiro herói para este que vos escreve não é meramente musical, ou melhor, claro que é. Seja tocando guitarra, compondo e produzindo, seja compilando bandas de garagem obscuras dos anos 60 e lançando tendências, seja escrevendo nas mais conceituadas publicações de música do mundo; Lenny é “o” cara.

Em 2010, assistir ele cantar e tocar uma versão de “Pushin’ Too Hard”, dos Seeds, ao lado de Peter Buck (num show do Patti Smith Group em New Orleans) foi algo revelador, um momento de epifania garageira. Comento isso com Lenny, que apenas ri, com cara de satisfação. Estamos falando do cara que escreveu nos primeiros e mais importantes fanzines de rock dos EUA, que criou um novo filão na indústria fonográfica com Nuggets: Original Artyfacts from the First Psychedelic Era, 1965–1968 e que é o fiel escudeiro de Patti Smith há mais de quatro décadas.

Estou na frente do Paradiso, em Amsterdã, na hora marcada da nossa entrevista e ele passa por mim com uma sacola da loja de discos situada no outro lado da rua. Somos apresentados pelo tour manager e Lenny me leva para uma visita pelas entranhas da histórica igreja convertida pelos hippies em templo do rock n´ roll.

“Saca só o que eu comprei”, ele me diz em tom de pura descontração de quem é rato de sebos de discos. É um EP de Maria Callas, interpretando “Medea”: “em qualquer loja do mundo que eu vá os caras sempre me mostram compactos de bandas locais, de garage rock. Eu não aguento mais, é tudo igual”, ele confessa dando gargalhadas. Mostro também a ele as minhas recentes aquisições daquela tarde do verão holandês: Xit, Q65, The Motions. Troca de informações musicais com o mestre, que barato. Nosso bate-papo está a seguir, na íntegra…


poeira Zine – Originalmente você começou tocando acordeom, enquanto crescia na região do Queens e do Brooklyn, em NYC. Lá pelo final dos anos 50 você decidiu abandonar o instrumento e começou a colecionar discos. Fale um pouco sobre o início de sua coleção e seu interesse em garimpar discos.

Lenny Kaye – Eu tive a honra e o prazer de crescer junto do rock n’ roll. Uma de minhas primeiras lembranças de garoto é a de escutar Little Richard no rádio, com “Tutti Frutti”. Era muito engraçado, pois eu e minha irmã rolávamos no chão quando escutávamos aquilo. Vivíamos no Brooklyn (NYC) naquela época, onde acontecia uma efervescente cena de doo-woop, então eu sempre presenciava uns garotos mais velhos parados numa esquina, cantando, ensaiando melodias vocais. Foi um dos primeiros gêneros musicais que eu caí de amores. Como todo garoto, eu escutava também o que tocava no rádio. Os primeiros discos que comprei foram “The Purple People Eater” com Sheb Wooley e “It’s Only Make Believe” com Conway Twitty, os hits da época. Por volta de 1958 eu estava ganhando discos de presente de Natal e minha coleção começou.

pZ – Quando a guitarra entrou na sua vida?

LK – Eu sempre amei música. Meu pai tocava piano e acordeom, meu avô tocou bateria durante toda a sua vida, fato que, obviamente, eu só descobri depois que ele morreu. Sempre fui cercado por músicos e música. Nos mudamos para New Jersey e o acordeom não combinava muito com o tipo de música que eu escutava. Quando eu entrei para a High School, há exatos 50 anos, eu comecei a tocar guitarra e aprendi três acordes básicos. Logo os Beatles apareceram e eu pensei: “agora o jogo começou pra valer, não preciso mais ser apenas um cantor folk de fundo de quintal” (risos). No fim daquele ano eu montei a minha primeira banda, The Vandals. Tocávamos em bailes, nas repúblicas estudantis e em festas do colégio.

pZ – Mas isso foi antes ou depois de você lançar o seu primeiro compacto, como Link Cromwell?

LK – Os Vandals começaram em novembro de 1964, então isso foi antes do compacto. Um ano depois, o meu tio, Larry Kusik, que era compositor e escreveu “A Time For Us” do filme Romeo e Julieta e “Speak Softly Love”, do Poderoso Chefão, estava trabalhando com Ritchie Adams, dos Fireflies. Eles estavam envolvidos naquela cena folk e juntos escreveram uma canção de protesto. Logo estavam em busca de alguém para cantá-la e meu tio disse: “Hey, meu sobrinho canta, ele tem uma banda e está deixando o seu cabelo crescer” (risos). Então fui lá e cantei em duas canções: “Crazy Like A Fox” e “Shock Me”. Foi a primeira vez que entrei num estúdio de gravação. Longe de ser um hit, o compacto foi muito importante pra mim, pois me deu a confiança e a certeza que eu poderia ser um músico, mesmo com o meu nome verdadeiro não aparecendo no selo, já que gravei sob o pseudônimo de Link Cromwell.

pZ – E o The Zoo?

LK – O Zoo foi a minha primeira banda pop, onde tocávamos covers de sucessos da época. Fazíamos shows com, no mínimo, quatro horas de duração, festa após festa. Tocávamos muito soul e R&B, como Sam & Dave, Otis Redding, Four Tops, coisas da Motown etc. Naturalmente fomos progredindo com a cena musical e logo estávamos tocando material de bandas psicodélicas. De 1964 a 1968 eu estava no The Zoo, e foram esses os anos “Nuggets”. Com isso, vivenciei aquela música em primeira mão, escutando, tirando e tocando aquele material. Infelizmente não chegamos a gravar, pois não escrevemos muito material próprio.

pZ – Depois de ter se mudado para New Jersey você se tornou membro de fã clubes de ficção científica e, aos 15 anos, começou a escrever, publicando o seu próprio fanzine, Obelisk. Sobre o que você escrevia nessa época?

(Nesse instante Lenny me interrompe e, com cara de espantado, diz: “Belo trabalho de pesquisa o seu” – eu falei que sou fã do cara desde o início, nem vem).

LK – O mundo dos apreciadores de ficção científica do período fazia parte de uma estranha subcultura. Era compreendido por pessoas esquisitas e alienadas, que talvez não fossem populares o suficiente, socialmente falando. Nos fã clubes de ficção científica essas pessoas se encontravam. Era um bom cenário para aprender como escrever, como visualizar uma revista e como interagir com pessoas. Tem também o fato da ficção científica ser também, por si só, algo que expande a mente através de uma consciência universal, como vinha acontecendo com o LSD e a psicodelia. Era também um cenário onde boêmios poderiam curtir algo juntos e se encontrar. Foi muito bom ter tido contato com aquele pessoal, pois eu era também alienado no sentido de não ser um super aluno exemplar, ou um aluno esportista, como muitos dos meus amigos de colégio. Eu era apenas mais um garoto esperando se tornar um beatnik algum dia (risos).

pZ – Você chegou a conhecer o grande Greg Shaw, fundador do histórico fanzine Mojo Navigator?

LK – (empolgado) Fui conhecer Greg somente bem mais tarde, quando já éramos jornalistas escrevendo sobre rock nas grandes revistas. Foi legal porque acabamos comentando sobre as nossas similares raízes nos fanzines de ficção científica. Naturalmente, os fanzines sobre rock surgiram dentro daquele mundo dos zines de ficção. Paul Williams (nota: fundador da Crawdaddy e gigante escriba do rock, falecido no ano passado) também veio desse universo. Eram cenas muito similares. Quando comecei a trabalhar em lojas de discos, eu conheci muitas pessoas cuja única atividade social era a de adquirir e colecionar discos. Ás vezes você fica somente dentro deste mundo, mas, em outras ocasiões, você se aventura por fora dele, que foi o meu caso. Tive sorte de ser capaz de transformar a minha paixão em algo além, nunca me tornei um escritor de ficção, porém me tornei um músico que vai a lojas de discos, comprar compactos. Que loucura este mundo (muitos risos)…

pZ – Então você passou a resenhar discos na revista Jazz and Pop. Qual foi o seu primeiro grande artigo publicado?

LK – A minha primeira resenha foi sobre Ogdens’ Nut Gone Flake, do Small Faces. Lembro da primeira frase: “Como você descreve uma experiência excêntrica?” (risos). Eu era muito pretencioso. Era muito excitante trabalhar para a Jazz and Pop – eles me davam o disco de graça e ainda me pagavam 25 dólares pela resenha. Trabalhei lá por um ano e lembro de escrever um artigo interessante chamado The Best Of A Capella, sobre uma pequena cena musical que acontecia em três estados que rodeavam New YorK: New Jersey, Philadelphia e Connecticut. Eram como os grupos de doo-woop que ensaiavam nas ruas, sem instrumentos, apenas voz. As lojas de discos prensavam os LPs desses grupos que cantavam a capella, e esses discos só poderiam ser adquiridos nas regiões onde aquelas bandas atuavam. Eu gosto muito desses discos e os coleciono até hoje. Como eu era um dos poucos jornalistas cientes daquela cena tão pequena e modesta, me senti na obrigação de escrever sobre aquilo.

pZ – E essa matéria mudou a sua vida, certo?

LK – Absolutamente. The Best Of A Capella foi publicada na Jazz and Pop e foi por causa dessa matéria que uma garota chamada Patti Smith me ligou dizendo: “Eu li o seu artigo. Eu também gosto bastante desse tipo de música e o que você escreveu me tocou”. Convidei Patti então para vir até a loja de discos em que eu trabalhava, no Village (nota: a Village Oldies, que depois mudou de nome para Bleecker Street Records, fechada recentemente). Jogamos muito papo fora, colocávamos os nossos discos favoritos e dançamos muito por lá. Se não fosse isso, eu não estaria sentado com você aqui neste instante. Um dia ela me contou que estava lendo poesias em sessões abertas ao público e que gostaria de agitar um pouco as coisas ao acrescentar uma guitarra elétrica ao fundo das poesias. Como eu tocava guitarra, me ofereci, então fui visitá-la e começamos a trabalhar juntos. Na época, Patti morava com o fotógrafo Robert Mapplethorpe. Foi o começo de nossa banda.

pZ – Depois você passou a escrever em publicações maiores, como Fusion, Crawdaddy, Rolling Stone, Melody Maker e Creem; e também foi editor da Rock Scene e da Hit Parader. Quais são as lembranças mais bacanas dessa época?

LK – No começo dos anos 70 existia uma pequena, mas assídua, comunidade de escritores de rock em New York. Evidentemente eu estava feliz o bastante por fazer parte daquela comunidade. Era possível ir a festas e encontros de imprensa e conhecer muitos outros jornalistas e escritores. Assim, era possível também escrever para diversas publicações simultaneamente. Cheguei a escrever usando três nomes diferentes. Ou você levava aquilo muito a sério, ou se divertia à beça. Para mim, a parte mais importante de escrever é ter certeza de que você é tão musical quanto aquilo que está escrevendo. Sua missão é transmitir ao leitor a impressão de como é a música, e não apenas os fatos “secos”. Você quer trazer a música para o mundo. Escrever sobre música é uma arte. Aprendi muito com caras que eu lia, como Paul Williams, Sandy Pearlman e Richie Meltzer; figuras que sentiram-se na obrigação de levar a escrita rock além do jornalismo, utilizando uma abordagem/linguagem artística em relação à música. É algo que eu sempro tento alcançar, até hoje. Ainda escrevo bastante e mantenho um diário de turnê no meu site. Gosto de voltar das excursões, algo bem social e público, e me trancar no porão da minha casa, com ninguém me dizendo onde devo ir (risos). Acredito que as palavras podem ser como música. Quando você escreve um grande parágrafo, existe melodia e ritmo ali.

pZ – É possível traçar um paralelo entre o Lenny Kaye escritor e o Lenny Kaye músico?

LK – Bom, eu sempre curti muito escrever. Ao contrário de uma performance musical, escrever é algo que você pode fazer com calma, ou seja, pode pensar a respeito da sua relação pessoal com a música. Tenho alma de historiador, portanto eu aprecio escrever sobre a história da música. Parte do meu cérebro é de um escritor: posso analisar e pensar sobre o assunto; e parte do meu cérebro é de um músico. Não sou um sujeito com erudição musical, mas meu verdadeiro talento é o de sentir a música. Quando estou tocando, não estou pensando em notas musicais, escalas etc. Apenas estou lá com a música, sentindo-a como ondas em movimento. É assim que eu me comunico com Patti no palco. Não combinamos muita coisa antes do show, apenas sentimos a presença do outro.

pZ – Quando você produziu o compacto de estreia de Patti Smith (“Hey Joe” / “Piss Factory”), foi como comprar o bilhete de um selvagem passeio de montanha russa ou foi apenas mais um dia de trabalho?

LK – Nós definitivamente sabíamos que tínhamos um público. Não éramos uma banda de rock. Somente nós dois e um pianista. Tocávamos em locais estranhos, abrindo para artistas folk. A questão era como captar em disco aquele tipo de performance artística que vínhamos executando. Ir até o estúdio e registrar uma versão de “Hey Joe” foi realmente um experimento pra gente. Depois de gravar “Hey Joe” tivemos apenas 15 minutos para matar “Piss Factory”, antes que nossa sessão de três horas de estúdio acabasse. Apenas tocamos e estávamos muito excitados em ter um single. Creio que ainda é algo que represente o que a gente estava fazendo naquela época. Não pensávamos em ser uma banda de rock. Em retrocesso, é óbvio que estávamos evoluindo para isso acontecer, mas estávamos tão fora do mainstream que não tínhamos ideias fixas sobre como apresentar o nosso trabalho a um maior público. Demorou ainda um tempo para outros instrumentos serem adicionados e tudo ficar integrado. Foi um período de conhecimento e aprendizado, inclusive emocional e pessoal. Claro que Patti é tão carismática e poderosa como performer que foi somente uma questão de ter certeza que a porta estava aberta para ela passar com tudo e ampliar cada vez mais o seu público.

Kaye com David Johansen e Dee Dee RamonepZ – Horses (1975), Radio Ethiopia (1976), Easter (1978) e Wave (1979). Fale um pouco sobre cada um desses álbuns da primeira fase…

LK – Eu costumo alegar que esses quatro discos formam a nossa primeira encarnação como Patti Smith Group. Eles estão amarrados de alguma forma, um ao lado do outro. Cada um deles carrega um senso de localização, de onde estávamos, mas também de movimento, de onde queríamos chegar. Horses tenta retratar exatamente como a gente era ao vivo: ingênuos e ansiosos. Foi um experimento muito interessante, como um drama psicótico, mas que não representava totalmente a nossa força e poder de fogo, que mostrávamos no palco. Radio Ethiopia parecia mostrar que tudo havia mudado, depois de um ano de shows e tours, sabíamos como nos portar como um grupo de rock, com volume e atitude. O teor experimental ainda foi mantido, na medida do possível.

pZ – Os diferentes produtores que vocês trabalharam nesses discos influenciaram o resultado final de cada um deles, não é?

LK – Exatamente, a escolha dos produtores reflete todas essas diferenças entre esses trabalhos. Em Horses, John Cale estava muito preocupado em manter a nossa arte intacta, ele entendia o nosso intuito, artisticamente falando. Jack Douglas, que produziu Radio Ethiopia, apesar de também entender isso, desejava apenas deixar o nosso som poderoso como sentíamos que ele realmente era. Depois que Radio Ethiopia saiu, Patti caiu do palco e sofreu graves lesões, então tivemos mais tempo de preparar o álbum seguinte. Em Easter, trabalhamos arduamente com Jimmy Iovine. Foi uma ressureição, algo como voltar a nossa forma original. O objetivo era apresentar um retrato fiel do que éramos. Num certo sentido é o nosso disco mais direto. Em Wave, Todd Rundgren tratou de buscar um desejo da banda, que era o de mostrar o nosso lado mais feminino, sensível e frágil, que refletia a dúvida de Patti na época, convencida de que havia conquistado tudo o que era possível com sua figura de rock n’ roller da década de 70. O disco tinha um ar de que “essa é a nossa despedida”, mas não muito. Era mais como uma mudança de um plano para outro.

pZ – E o que “amarra” todos esses álbuns?

LK – Pra mim, todos esses discos estão amarrados porque Patti começa Horses declarando “Jesus morreu pelos pecados dos outros, não pelos meus” e passa por todas aquelas questões nos trabalhos seguintes até alcançar a sua resposta na última faixa de Wave, onde ela está caminhando pela praia, conversando com o Papa. Foi uma bela jornada. Se tudo tivesse acabado ali, eu estaria feliz. Foi como um filme perfeito. Começamos tocando para 200 pessoas numa igreja, em NYC, em 1971, e terminamos em Firenze, em 1979, tocando para 70 mil. Não é possível criar um roteiro mais épico que este. Após aquilo, o tempo foi propício para mudanças: Patti estava indo para Detroit com Fred “Sonic” Smith e eu queria explorar outros caminhos. Nossa sensação era a de que havíamos cumprido a nossa missão nos anos 70.

pZ – E quase dez anos depois, quando todos menos esperavam, Patti voltou à ativa, mas com Fred “Sonic” Smith na guitarra, em Dream of Life (1988). Após a morte de Fred, você voltou como guitarrista e produtor em Gone Again (1996). Você encara isso como uma espécie de sobrevida da parceria musical entre você e Patti?

LK – Já faz quase 20 anos que atravessamos essa “segunda vida” e está sendo extraordinário para mim. Eu nunca esperava que isso fosse acontecer, mas estou muito feliz em poder excursionar pelo mundo e continuar a criar música com Patti. É algo muito gratificante e belo. Penso que não perdemos nada de nossos ideais e compromissos pelo caminho. Ainda somos aquela mesma banda dos anos 70 que se erguia e “balançava a bandeira” em prol do que acreditava.

pZ – A coletânea Nuggets marcou o surgimento de uma nova maneira de compilar pérolas musicais esquecidas do passado e foi ainda uma espécie de nascimento do movimento garage-punk, em forma de revival. Seu texto no encarte continha também um dos primeiros usos do termo “punk rock”. Você sentiu que estava fazendo história, ou você simplesmente não sabia o que viria a acontecer?

LK – Se eu soubesse que estava fazendo história eu tinha fudido completamente com tudo, simples assim. Eu estava apenas reunindo as minhas músicas favoritas, e, ao mesmo tempo, contando um pouco sobre o meu crescimento musical. Sob um certo ponto de vista, aquelas músicas eram ainda recentes, muitas delas haviam sido lançadas originalmente há quatro ou cinco anos, então eu não tinha ainda um conceito histórico sobre elas para me apoiar. Na minha opinião, aquelas músicas eram muito diferentes entre si. The Knickerbockers são totalmente distintos do Sagittarius, que é diferente do The Magic Mushrooms e do The Nazz (risos). É errado categorizar tudo aquilo como garage rock, um rótulo que só veio surgir depois. Evidentemente que existem traços de garage rock naquelas canções e que muitas delas eram bandas de garagem mesmo. Eu não usei essa definição “garage” no encarte, optei por usar “punk” simplesmente por questões de atitude, como ao categorizar um garoto arruaceiro e não um novo gênero musical. Algo do tipo “é isso mesmo, cara, nós temos esses três acordes e vamos dominar o mundo”. Aquilo tinha exclusiva relação com o acreditar em si mesmo, uma atitude que eu aprendi tocando em bandas, nos anos 60. O tempo passa e claro que hoje eu consigo visualizar o quão específico e importante foi aquela coletânea. Esteticamente, esse meu trabalho está por todo o lugar, mas não fui eu quem descobriu aquele tipo de música. Eu inclusive não sei tanto sobre aquelas bandas como o dono da loja de discos do outro lado da rua (risos). Cedo ou tarde, aquela música seria redescoberta. Graças à Elektra Records, eu apenas tive a oportunidade de reunir algumas das minhas escolhas pessoais em Nuggets. Eu sempre tento me certificar de que atrás de um simples conceito, ou rótulo, existem grandes canções e gravações.

pZ – Penso que para Jac Holzman, o chefão da Elektra, foi um verdadeiro pesadelo localizar quem eram os proprietários daquelas canções que acabaram entrando em Nuggets…

LK – Com certeza. Você deve imaginar como as coisas funcionavam naquela era pré-Rhino Records, ou seja: naqueles tempos antes da criação de selos especializados em reedições caprichadas. Muitos dos detentores dos direitos originais daquelas músicas eram completamente malucos, ou achavam que aquela era a chance definitiva de voltarem ao showbusiness. O primeiro passo de Jac foi contratar um bom advogado para a missão de renegociar tudo aquilo. Fico espantado como Nuggets, essencialmente uma compilação de oldies, é ainda lembrada com carinho ao redor do mundo. O que mantém Nuggets vivo são as bandas de garagem que sempre surgem por aí. O espírito que essas bandas carregam é o mais importante, o mais bonito e essencial legado daquilo tudo. Sou muito grato por ter feito parte disso.

Entrevista originalmente publicada na edição 52 da poeira Zine

Bento Araujo e Lenny Kaye, Amsterdam 2013

poeira Zine Fest

Festa de lançamento da nova edição da pZ, com shows tributo ao Thin Lizzy e ao Grand Funk Railroad

por Radames Junqueira     18 ago 2014

pZ Fest Blackmore

Nesta próxima sexta-feira acontece em São Paulo mais uma edição da pZ Fest, desta vez no Blackmore Rock Bar, em Moema.

A data marca o lançamento da nova edição da pZ (#55) e os 45 anos do lançamento de On Time, primeiro álbum do Grand Funk Railroad. No palco estarão as bandas On Time (um tributo ao Grand Funk Railroad que conta com a presença do nosso editor, Bento Araujo, no baixo) e Thin Lizzy Tributo.

Esperamos todos vocês para uma noitada de muito rock ‘n’ roll e bom papo.

Blackmore Rock Bar
Alameda dos Maracatins, 1317 – Moema – São Paulo
11 3804-5678
Reserva de mesas: contato@blackmore.com.br
Mais informações: blackmore.com.br
 
poeiraCast 200 – Capas de Discos

Chegamos ao poeiraCast 200! Para celebrar a marca, gravamos excepcionalmente esta edição em vídeo. A conversa é sobre Mais

por Bento Araujo     13 ago 2014

Chegamos ao poeiraCast 200! Para celebrar a marca, gravamos excepcionalmente esta edição em vídeo. A conversa é sobre grandes capas de discos.

Editado por Marcelo Bueno.

Bye Bye Johnny

Um tributo pessoal ao mestre da slide guitar

por Bento Araujo     03 ago 2014

pZ55Vocês não vão acreditar, mas irei contar assim mesmo.

Durante uma bela tarde de inverno, interrompemos o trabalho aqui na redação da pZ para o obrigatório café. Estou conversando com meu amigo Ricardo Alpendre e ele me pergunta quem será a capa da nova edição. Dentre muitas opções, disse a ele que eu gostaria muito de fazer uma capa com o Johnny Winter.

Na minha cabeça seria bacana fazer uma capa com um ícone da guitarra, do rock e do blues, que completou 70 anos de idade este ano. Apesar dos seus problemas de saúde, na minha cabeça seria importante homenagear Winter ainda em vida.

Mas não deu tempo. Duas semanas se passaram daquela tarde e no dia 16 de julho veio a notícia: Johnny Winter havia morrido.

Como todo sangue bom do blues, morreu literalmente na estrada, em seu quarto de hotel, em Zurique, enquanto fazia sua enésima turnê europeia.

Para muitos de seus amigos e fãs, o fato de ter conseguido chegar aos 70 já foi um milagre. Por diversas vezes, Winter quase morreu de overdose, ou de alguma doença relacionada ao seu uso de drogas pesadas, como a heroína. Boatos de sua morte também rondavam a imprensa musical com certa frequência.

Sua presença num palco brasileiro foi anunciada diversas vezes dos anos 80 pra cá, mas ele veio mesmo somente uma vez, em 2010, quando tocou por diversas cidades brasileiras. Quando pintou a notícia de sua morte, o guitarrista tinha shows marcados para o mês de outubro pelo país.

Johnny Winter ao vivo em Memphis, 2012Tive a oportunidade de assistir Winter novamente ao vivo em 2012, no Beale Street Music Festival, em Memphis. Ele foi o headliner do “palco blues” do evento e foi recebido como um tesouro da música norte-americana, o que na minha opinião de fato ele é. Neste show. mostrou a destreza de sempre no slide (pra mim Winter, Duane Allman e Jesse Ed Davis são os melhores “não negros” neste quesito), com sua inseparável Firebird no colo. Apesar dos evidentes sinais da idade e da saúde abalada, conseguiu tocar uma música inteira de pé, quando eu tirei esta foto ao lado. Foi ali, na beira do Rio Mississipi, olhando para Winter e para as águas do Rio que percebi o quanto aquele sujeito pertencia a tradição do blues. Quando me aproximei do palco, vi que debaixo daquele chapéu estava um senhor tocando em perfeito estado de transe, com seus olhos quase “virados”, como se estivesse possuído por um velho bluesman.

“Para mim, o blues é uma necessidade”, alegou Winter, que apesar de flertar constantemente com o hard rock e o boogie, nunca abandonou sua verdadeira paixão. Um de seus maiores sonhos foi realizado ao produzir, tocar e trazer de volta ao cenário o seu grande ídolo, Muddy Waters, na segunda metade da década de 70.

A contracapa de Captured LiveMeu primeiro contato com os discos de Johnny Winter foi visual, babando naquela contracapa de Captured Live!. Aquele gigantesco estádio abarrotado, Winter e banda de costas encarando a multidão em plena luz do Sol… É o tipo de foto que resume uma era do rock de estádio norte-americano da década de 70.

Depois de horas no saudoso Museu do Disco olhando aquele álbum, tomei a decisão de comprar Live Johnny Winter And, que na época era um lançamento exclusivo do Museu, vendido lacradinho e a preço de banana. Na mesma leva de exclusividades do Museu do Disco, peguei o álbum de estreia de outro guitarrista texano da pesada, Stevie Ray Vaughan, um súdito de Winter, tão súdito que compartilhou até o mesmo baixista de Johnny: Tommy Shannon.

O próximo passo foi comprar a estreia dele, The Progressive Blues Experiment, na primeira loja de discos que trabalhei, a Garage Discos, na minha querida Pompeia. Ali pegava também as maiores boiadas, numa época onde o CD apareceu e estava em alta, com gente largando suas coleções de LPs literalmente no poste, para algum catador de lixo levar. Assim adquiri Second Winter, duplo e importado, com todo o charme dos três lados gravados e um em branco e aquele calibre da prensagem da Columbia, de selo vermelho e tudo mais.

Recentemente havia sido lançado um box de quatro CDs do guitarrista, True to the Blues: The Johnny Winter Story, que indiquei inclusive numa das últimas edições da pZ. Winter se foi, mas deixou um novo disco de estúdio terminado: Step Back, que sai mês que vem e conta com participações de bambas como Eric Clapton, Billy Gibbons, Joe Perry e outros.

Abaixo uma playlist com os meus sons favoritos do bom e velho Winter.

Bye Bye Johnny

A pZ homenageia Johnny Winter em sua nova edição, com um longo artigo especial contando toda a sua turbulenta trajetória e uma discografia selecionada comentada.

Record Store Day em Nova York

Um sábado inesquecível: Record Store Day

por Bento Araujo     15 jul 2014

RSD

 

Já pensou sair um dia para comemorar “o dia da loja de disco?” Sim, sabe aquela loja que você tanto adora, que fica perto (ou não) da sua casa, ou do seu trabalho; aquela que sempre te salva num dia triste, quando você brigou com a namorada ou com a sua mãe? Então já pensou em dedicar um dia a essa loja e a tantas outras que bravamente seguram as pontas em plena era da pirataria e dos downloads desenfreados? É isso que tem acontecido lá fora, desde a criação de um grande evento chamado Record Store Day. Tive o prazer de passar o Record Store Day numa cidade que é sinônimo de lojas independentes sensacionais de LPs, Nova York, e abaixo vou descrever um pouco o feeling do lance todo…

O RSD foi criado por um sujeito chamado Chris Brown. Ele e mais alguns amigos resolveram fundar um site (www.recordstoreday.com) e celebrar uma vez por ano a cultura que envolve as cerca de 700 lojas independentes de discos dos EUA. O lance cresceu tão rapidamente que lojas inglesas, e também de toda a Europa, aderiram à comemoração, e hoje a data é festejada por colecionadores e lojistas do mundo todo, sempre no terceiro sábado do mês de abril. A primeira edição aconteceu em 2008 e foi oficialmente aberta pelo Metallica, dentro da Rasputin Records, uma loja de discos de São Francisco.

Lojistas, clientes, músicos e selos se unem para celebrar a arte de comprar e vender discos, tudo de forma independente. Shows intimistas acontecem gratuitamente dentro das lojas, promoções relâmpago são promovidas, DJs assumem suas pick-ups, e ainda rolam meet and greet com artistas, tardes de autógrafos, performances acústicas, body painting, paradas, concursos, e muito mais. Os próprios músicos incentivam totalmente o RSD e a cereja do bolo da festa são os lançamentos exclusivos, lançados de forma limitada para serem comercializados somente no RSD e nas lojas independentes participantes do evento. Segundo o site oficial do RSD, só são aceitas na festividade, lojas independentes, reais e “vivas”. Sites, grandes cadeias, livrarias e demais gigantes corporativos não são aceitos e muito menos bem vindos.

Record Store Day em NYCOs itens exclusivos do RSD movimentam uma quantia considerável nas lojas, e são geralmente compactos e EPs em vinil, numerados e exclusivos para o dia festivo. No sábado, as bolachinhas são disputadas a tapa nas lojas, e no domingo, muitos deles já estão no eBay a preços exorbitantes, sendo leiloados por colecionadores do mundo todo. Detalhe: cada cliente só pode comprar uma unidade de cada item, justamente para “evitar o inevitável”, ou seja, esse tipo de superfaturamento no eBay.

Dentre os lançamentos exclusivos do ano de 2010 (veja lista mais abaixo) o do John Lennon foi o mais disputado, sendo que por volta do meio dia do sábado o item já havia se esgotado em todas as lojas de Manhattan. Consegui uma cópia com muito sufoco…

Para conseguir meu Singles Bag do Lennon, cheguei cedo, às 10 horas da manhã numa loja do Village, a Rebel Rebel, que ficava próximo do meu hotel (o legendário Chelsea). Cheguei em frente a vitrine da Rebel Rebel e o proprietário estava abrindo seu estabelecimento. Seu funcionário colocava na calçada as caixas de plástico repletas de LPs de um dólar; enquanto isso um grupo de cerca de seis pessoas se acotovelava na frente da vitrine para tentar pescar algum peixinho exclusivo do RSD.

Com a luz da loja ainda apagada, com tudo escuro lá dentro, o pessoal começou a entrar e o dono avisou que os discos exclusivos do RSD estavam em duas caixas de papelão, bem no meio do corredor. Consegui colocar debaixo do braço um EP do Jimi Hendrix ao vivo e estava buscando principalmente o Singles Bag do Lennon e o compacto de 7” do Them Crooked Vultures.

Os itens iam evaporando na escuridão: Springsteen, Morrissey, REM, Lennon, Neil Young e Lady Gaga eram os mais disputados. Nisso, avisto um Singles Bag num mostruário atrás do balcão, e parto em direção a ele; faltava poucos segundos para a minha comemoração, quando, simplesmente do nada, chega uma moça falando no celular e com um carrinho de bebê…

Ela esbarrou no meu pé, me deu um tranco de leve, um sorrisinho amarelo e pediu para o lojista a última cópia do bag do Beatle… “Amor, acabei de achar aquele do Lennon que você me pediu hoje no café da manhã!”, era o que ela falava com o sortudo do marido pilantra…

Cheguei a desconfiar: “Será que aquela garota estava carregando um boneco no carrinho, só para ter preferência na hora de fisgar os discos nas pequenas e apertadas lojas?” Você sabe do que estou falando, nessas horas o racional nos abandona por completo…

Bleecker Street RecordsPaguei o meu Hendrix e rumei para a próxima loja, caminhando pelo agradável West Village (e pensando que ali andavam Hendrix, Dylan, Al Kooper e muitos outros).

A próxima parada foi na excelente Generation Records. Maior e bem mais organizada do que a Rebel Rebel, ali eles tinham um quadro de avisos branco com todos os lançamentos exclusivos do dia.

Para o meu desespero, muitos já estavam “riscados,” ou seja, já haviam esgotado, e olha que era ainda antes do meio dia. Mesmo assim consegui pegar alguns itens pra minha coleção, como o compacto dos Stones com “Plundered My Soul” (uma inédita das sessões de Exile On Main Street!); e um compacto picture do Coheed and Cambria. A Generation Records é sensacional; maior moçada descolada conversando dentro e fora da loja; no primeiro andar, CDs e DVDs; no andar subterrâneo, vinil, compactos e camisetas transadíssimas. Ali embaixo também iriam rolar shows exclusivos de músicos “habituês” do local. Pra melhorar ainda mais, a loja tinha dois caixas, um na parte inferior e outro na parte superior. O da parte superior era infinitamente melhor, com uma garota maravilhosa toda tatuada e mal encarada, trajando uma camiseta vintage do Nuclear Assault e ouvindo Celtic Frost no volume 11. A beldade atende pelo nome de “Rusty” e no site da loja ela dá umas dicas dentro do menu “Staff Picks”. Quando eu olhei, as dicas dela eram Kreator e Witchcraft, sem contar que o avatar dela no site é a “Moranguinho”.

Várias lojas bacanas estão no Village, algumas delas na Bleecker Street. A própria Bleecker Records é parada obrigatória, com uma vitrine que já faz você arrancar seus cabelos. Mesmo esquema da Generation: CDs e DVDs na parte de cima e LPs e compactos na de baixo. Tudo impecável, organizado e limpo. Mais aquisições do RSD: compactos dos Doors, Neil Young, Elvis e um duplo do Rodriguez, compositor cult de Detroit que recentemente foi redescoberto. Mas faltava ainda o maldito Singles Bag do Lennon…

Rodei por mais algumas lojas: Village Music World, Record Runner, Rock and Soul Records, Bleeckerbobs, Gimme Gimme Records e Other Music. Várias aquisições bacanas: Spirit, Beacon Street Union, Sly And The Family Stone, Idris Muhammad, Savoy Brown, Holy Moses, The Fugs, etc. Tudo num preço excelente.

O evento bizarro do dia aconteceu na loja Kim’s Video & Music. Lá estava eu comprando algumas revistas e alguns CDs quando de repente acontece algo cinematográfico: o dono do estabelecimento sai do balcão e começa a quebrar boa parte da sua própria loja, e na frente dos clientes!

Protegi tudo debaixo do braço (como todo bom “bolha”, vai que ele quebra o que eu estou querendo comprar…), e só fiquei sacando… O cara teve um acesso de fúria e jogou tudo o que estava no balcão no chão. O barulho foi alto e todo mundo parou e ficou olhando para o cara, sem entender o que estava acontecendo. O clima ficou péssimo, aguardei um pouco e fui pagar. O cara estava resmungando, olhando pro chão e xingando sem parar um de seus funcionários. O carinha do caixa, suava em bicas e fazia de tudo para cobrar os meus itens o mais rápido possível. Saí dando risada, pois tinha participado, ao vivo e a cores, de um episódio “alta fidelidade” total. Coisa de louco.

Physical Graffiti - NYC

Saí da loja e com várias sacolas debaixo do braço parti para outro point obrigatório de Nova York, o antigo prédio na St. Marks Place onde foi clicada a foto que ilustra Physical Graffitti do Led Zeppelin. O prédio está mal cuidado, mas continua idêntico ao da foto, e tem até um brechó com o nome do disco na parte de baixo… Ficar alguns minutos olhando o prédio do outro lado da rua é um programa bem interessante. Parece que você está olhando para a capa do elepê.

Minha aventura terminou na J&R, um complexo de várias lojas que toma conta de um quarteirão inteiro na parte Sul da ilha de Manhattan. Por incrível que pareça, a loja (que também vendia discos) fazia parte do RSD, e adivinhe o que eu achei lá? Meu tão procurado Singles Bag do John Lennon…

Você pode dizer que eu sou um bolha, mas como Lennon dizia: “I’m not the only one”…

Principais lançamentos do RSD (18/04/2010)

Jimi Hendrix – Live At Clark University (cinco faixas gravadas ao vivo em 1968, vinil colorido de 12”). 5000 cópias.

The Rolling Stones – Plundered My Soul (compacto de 7” numerado, contend no Lado A um tema inédito das sessões de gravação de Exile On Main Street). 10.000 cópias.

John Lennon – Singles Bjohn lennon singles bag RSDag (o item mais cobiçado do RSD deste ano: três compactos, três postais, um pôster e um adaptador de vitrola exclusivo para tocar 45 rotações, tudo acondicionado num bag de papelão numerado). 5000 unidades foram prensadas.

Elvis Presley – That’s Alright Mama/Blue Moon Of Kentucky (réplica do primeiro compacto do mestre pela Sun Records, inclui download gratuito). 2000 cópias.

Flaming Lips – Dark Side Of The Moon (a banda recriando o clássico do Floyd, num vinil verde de 12”). 5000 cópias.

The Doors – People Are Strange/Crystal Ship (compacto de 7” em comemoração ao lançamento do novo filme da banda). 2500 cópias.

Moby Grape – Rounder/Sitting By The Window (compacto de 7” com duas faixas ao vivo registradas em 1967 e 1969). 2000 cópias.

Roky Erickson – True Love Cast Out All Evil (um advanced em elepê de 12” do novo disco do mestre). 1000 cópias.

E mais: Ramones, Blur, The Rationals, Sonic Youth, REM, Mastodon, Jeff Beck, Muse, Pantera, Neil Young, Fela Kuti, Weezer, Buddy Guy, Wilco, Drive By Truckers etc.

Steely Dan ao vivo na Escócia

As aventuras do editor da pZ pelo Reino Unido

por Bento Araujo    

Steely Dan
Playhouse, Edimburgo, Escócia (28/06/2009)

Bento Araujo na porta do show do Steely DanDepois de cinco noites londrinas seguidas de muitos shows, parti para a Escócia de trem, numa belíssima e bucólica viagem que durou quatro horas. Cheguei na belíssima e medieval Edimburgo, a capital da Escócia, e logo fui me preparando para assistir uma das minhas bandas favoritas, o Steely Dan.

O Playhouse de Edimburgo era originalmente um cinema, construído com base no Roxy Theatre de Nova Iorque, em 1929. Nos anos 70 deixou de ser um cinema e quase foi demolido. Chegando nas mãos do proprietário certo, o magnífico e charmoso Playhouse se tornou uma das casas mais conceituadas de toda a Grã-Bretanha. A acústica do lugar é perfeita e ninguém melhor do que o Steely Dan para tirar o melhor proveito disso. Antes deles, tivemos um aquecimento com o jazz do Toon Roos Quartet.

Hoje em dia é um privilégio poder assistir uma banda com 37 anos de estrada que ainda conta com seus protagonistas, neste caso Donald Fagen e Walter Becker, “o” Steely Dan propriamente dito. Além da dupla, o Playhouse recebeu uma banda de apoio de dez integrantes, com naipe de metais, backing vocals, o tecladista Jim Beard, o baixista Freddie Washington, o espetacular batera Keith Carlock e o genial guitarrista Jon Herington. Essa turma subiu no palco e fez um apropriado aquecimento bem jazzy e cool, que serviu como pano de fundo para a estrondosa entrada de Fagen e Becker no palco.

Assistir Donald Fagen reger essa imensa banda e Walter Becker tocar sua guitarra com uma seriedade e concentração absurda foi apenas um pequeno detalhe dentro das exatas duas horas de um show impecável em todos os sentidos.

Becker e Fagen ao vivo na Escócia

A escolha do repertório foi perfeita: “Josie”, “Two Against Nature”, “I Got The News”, “Daddy Don’t Live In that New York City No More”, “Aja”, “Black Cow”, “Kid Charlemagne”, “Hey Nineteen”, “Green Earrings”, “My Old School”, “Black Friday”, “Bad Sneakers”, “Show Biz Kids”, “Peg”, “Babylon Sisters”, “Kid Charlemagne”, “Boston Rag” e outras. Até o calado Walter Becker entrou no clima despojado da apresentação e disse pra platéia num certo ponto do concerto: “O que pode ser mais legal do que tocar um domingo a noite aqui na bela Edimburgo?”.

Um ou outro fã pode ter saído do Playhouse com reclamações do tipo: “Eles não tocaram ‘Do It Again’ e ‘Rikki Don’t Lose That Number’…”, mas eu realmente não estava nem aí pra isso. O show foi perfeito, seguindo a risca todas as minuciosas e prováveis exigências dos perfeccionistas Fagen e Becker. Numa única noite você tem um pouco de tudo do que é bom na vida: free jazz, be-bop, ritmos latinos, pop e virtuosismo na medida, temas de trilhas sonoras e funk pesado. Literalmente um desbunde.

Essa foi a terceira apresentação (também sold out) da Left Bank Holiday’ 09, uma tour européia de 12 datas que além do Reino Unido passou pela Itália, Holanda, Bélgica, Suíça e França. Como diz um amigo inglês: “How Cool Is That”…

cartaz do show do Steely Dan na Escócia

Gov’t Mule ao vivo em New Orleans

As aventuras do editor da pZ em New Orleans

por Bento Araujo     13 jul 2014

Gov’t Mule – Mahalia Jackson Theater, New Orleans (30/04/2010)

Texto e fotos de Bento Araujo

Govt Mule ao vivo em New Orleans

O show extra dos shows extras. Confesso que não pude conter a euforia assim que tomei conhecimento do fato que o Gov’t Mule iria se apresentar num teatro durante o Jazz Fest. Além que assistir a banda no Festival eu ainda teria a possibilidade de conferir o (longo) show completo dos caras, com as tradicionais jams, covers, canjas e tudo mais… Além disso, o show extra da banda durante o Jazz Fest em New Orleans é uma tradição que já dura cerca de dez anos, e foi exatamente numa dessas ocasiões que o grupo registrou seu CD/DVD The Deepest End, com diversos baixistas convidados, em 2003. Como todo bom fã eu costumo acessar com bastante frequência o excelente site da banda, então esse foi outro show que garanti com antecedência.

O Mahalia Jackson Theater foi o primeiro teatro da cidade a reabrir após a devastação do furacão Katrina e é considerado pela banda e pelos die hard fans como um dos três locais preferidos para os longos shows promovidos por eles pelo país.

Chegando no local, passamos na inevitável banca de merchandising, para adquirir camisetas e principalmente o pôster oficial (e psicodélico) do evento daquela noite, numerado e assinado pelo autor (agora ele está na sala de casa, é claro). Enquanto isso, corremos para os nossos assentos, pois no palco estavam os 7 Walkers, banda que conta com Bill Kreutzmann (ex-Grateful Dead) e Papa Mali, além de apresentar letras fresquinhas de Robert Hunter (o letrista oficial do Dead). Para essa “perna” da tour deles, um convidado muito especial no baixo: George Porter Jr. (The Funky Meters).

Depois de um breve intervalo o Gov’t Mule subiu ao palco e ouvimos os primeiros acordes de “Railroad Boy”, uma das faixas mais legais do disco novo da banda. Em seguida, tivemos uma versão irretocável de “Gameface”, do álbum Dose. Foram mais de dez minutos de arregaço, pra já ir deixando todo mundo no clima e a par do que estaria por vir… A terceira faixa da noite foi o que podemos dizer como algo surpreendente: “Since I’ve Been Loving You”, do Led Zeppelin, o melhor blues branco já cunhado nesse planeta chamado Terra. O cover do Led foi seguido por “No Need To Suffer”, do injustiçado grande álbum Life Before Insanity.

Três do disco novo (“Frozen Fear”, “Steppin’ Lightly”, “Any Open Window”), a belíssima “Banks of The Deep End” e “Kind of Bird” encerraram a primeira parte do show. Essa última é um original de Warren Haynes e Dickey Betts que apareceu pela primeira vez no álbum Shades Of Two Worlds, do ABB. Ela também está no Live at Roseland Ballroom do Mule e nessa noite recebeu uma de suas mais inspiradas versões, com 14 minutos de muito improviso.

O som estava perfeito, com Warren Haynes e Matt Abts brilhando como de costume, assim como Danny Louis nos teclados e até guitarra base e Jorgen Carlsson no baixo, que claro, não é nem uma fagulha do que foi Allen Woody, mas segura a onda numa boa. Depois daquela intensidade toda, Warren avisou que teríamos um intervalo antes da “segunda entrada” da banda, tempo de ir ao banheiro e pegar mais uma cerveja…

Para a segunda parte, fizemos uma pequena loucura (principalmente em se tratando de um show no primeiro mundo). Descemos pelo corredor do teatro até encostar a mão no palco e ali permanecemos na maior cara de pau, porém sem atrapalhar ninguém, há apenas alguns metros de Warren e Abts. Logo o pessoal mais freak começou a se juntar ali também, para dançar e curtir o show mais intensamente. Para nossa sorte, nenhum segurança veio nos tirar daquele posto privilegiado. Era uma loucura, drogas por todo lado e uma garota que estava “ficando” com pelo menos três caras diferentes ao mesmo tempo! Free love total, sixties a beça…

Cartaz do show do Govt Mule em New OrleansNesse pique levamos uma bordoada nos sentidos, uma versão de 17 minutos para “When The Music’s Over” dos Doors. Quando Warren gritou “We want the world and we want it…Noooooowwww” parecia que mais um Katrina estava passando pelo Mahalia Jackson Theater… Tinha um coroa que estava tão stoned, que enquanto o som rolava ele deitava e abraçava o palco! Surreal!

A agitada e animada “Slackjaw Jezebel” foi a segunda faixa da segunda entrada, logo emendada na grande balada “Fallen Down”. Em “The Other One Jam”, Warren ecoou versos de “Gimme Shelter” dos Stones, antes de partir para uma versão com um novo e agradável arranjo para “The Shape I’m In”, clássico da The Band.

Foi a deixa para o fabuloso solo de bateria de Matt Abts, bem na pegada Bonham, com ele abusando de viradas clássicas do mestre, “trocando os braços” no ar e abandonando as baquetas para tocar com as mãos. A noção de ritmo de Abts é algo de outro mundo e ele ainda teve a manha de começar seu solo com uma levada jazz que muitos poucos bateristas de rock sabem fazer e terminou tudo detonando no djembê, instrumento de percussão africano.

A próxima da noite foi a instrumental “Sco-Mule” com canja de Eric Krasno (olha ele aí de novo!) na guitarra. Brian Stoltz (ex-guitarrista dos Meters) subiu ao palco para “Feel Like Breaking Up Somebodies Home”. Ali ele permaneceu para a canção seguinte, “32/20 Blues”, que também contou com Ivan Neville nos teclados. A última da noite foi “Broke Down On The Brazos”, a primeira do disco mais recente deles, e que em sua versão de estúdio conta com a guitarra de Billy Gibbons do ZZ Top.

Estava terminado, foram exatas três horas de show! Um exemplo perfeito do que é um tradicional show do Gov’t Mule… Deu vontade de largar tudo e virar roadie dos caras, apenas pra assistir mais shows desses pelos EUA. Será que eles estão precisando de um roadie? Alguém aí quer assumir a pZ?