Alone Again Or: do Love ao UFO

Repleta de brisas mediterrâneas e de uma letra tristonha, Alone Again Or contava com uma divina melodia e a voz tocante de Arthur Lee

por Bento Araujo     21 ago 2015

Love“Bryan começou a compor Alone Again Or como mais uma de suas simples canções Folk. Comecei a inserir toques de guitarra flamenca e enfeitar um pouco, foi daí que ela passou de um simples tema Follk para algo bem espanhol e ousado. Mudamos a cadência do andamento… Eu estava apenas brincando, tentando achar coisas diferentes para complementar o que Bryan havia criado. Alone Again Or tem esse clima espanhol, flamenco, e acabou se tornando a canção mais famosa do nosso álbum Forever Changes.”

Essa declaração é do guitarrista solo do Love, Johnny Echols, que magistralmente deu um molho todo especial na composição original do outro guitarrista da banda, Bryan MacLean.

Alone Again Or pode ser considerada um tipo de “música erudita dos anos 60”, aquele tipo de composição imortal, totalmente original e que não se parecia com nada mais que rolava no período. É exatamente ela que abre um dos discos definitivos daquela rica e inigualável década, Forever Changes, sem exagero, obra de mesmo quilate de discos como Revolver dos Beatles, Pet Sounds dos Beach Boys, Odessey And Oracle dos Zombies, Freak Out! do Mothers Of Invention, In The Court Of The Crimson King do King Crimson e Odessa dos Bee Gees. Alone Again Or foi também lançada como compacto no início de 1968 em diversos países, porém passou totalmente batida, alcançando uma decepcionante 99ª posição na parada da Billboard.

Repleta de brisas mediterrâneas e de uma letra tristonha, Alone Again Or contava com uma divina melodia e a voz tocante e doce do genial Arthur Lee, além de muitos violões, uma orquestração angelical e um imponente solo de trompete. Uma verdadeira obra de arte.

O arranjo e a orquestração sublime da canção foram de responsabilidade de David Angel, que ficou literalmente chapado com o clima flamenco da faixa, e a partir dessa exótica influência começou a trabalhar. David gosta de ressaltar que não se trata de uma influência de música mexicana, de mariachis; mas sim de algo típico de violentas e dramáticas touradas, uma música espanhola por natureza…

Curioso o fato de que a mais famosa canção do Love não seja de autoria de seu incontestável líder, Arthur Lee, que inclusive não participou efetivamente das sessões de gravação de Alone Again Or. Lee foi também sempre muito reticente quanto à mixagem original de Bruce Botnick, um dos produtores de confiança da Elektra, o selo do Love. Uma das maiores vontades do líder do Love sempre foi remixar Alone Again Or…

A melodia original de Alone Again Or era baseada também na trilha Lieutenant Kijé do compositor soviético Sergei Prokofiev, datada de 1934. Já a letra falava da espera do guitarrista Bryan MacLean por sua namorada da época. Foi exatamente esse nítido contraste de algo poderoso e marcial com algo mais ingênuo, triste e romântico, que chamou a atenção do pessoal do UFO, que regravou a canção dez anos depois, em 1977, para inclusão no impecável álbum Lights Out, um dos maiores clássicos do grupo britânico.

Pete Way e Phil Mogg gostavam do clima exótico da canção, sugerida pelo renomado produtor Ron Nevison, que trabalhava com o grupo no conceituado AIR Studios, de propriedade de George Martin. A versão do UFO ficou evidentemente mais pesada, mais moderna e adequada aos anos 70, mas mesmo assim mantendo a essência da versão original do Love, com os metais e orquestração característicos. A melodia do solo de trompete foi mantida, porém com Michael Schenker reproduzindo-o em sua Gibson Flying V, inclusive adicionando alguns overdubs com licks certeiros e dobrados. Curiosidades: coincidência ou não, Lights Out trazia outra referência ao grupo de Arthur Lee, já que a faixa de encerramento do álbum se chamava Love To Love. Lights Out é também o álbum favorito do VJ Eddie Trunk, um dos apresentadores do programa That Metal Show.

Vale lembrar também que Alone Again Or recebeu outras dezenas de versões através dos tempos via The Damned (1986), The Oblivians (1993), Sarah Brightman (1990), The Boo Radleys (1991), Chris Pérez Band (1999), Calexico (2004), Matthew Sweet and Susanna Hoffs (2006), Les Fradkin (2007), etc.

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