In Hearing Of… chegou às lojas em agosto de 1971, via o pequeno selo Pegasus. Foi recebido com entusiasmo pelos fãs, que o colocaram de imediato na 4ª posição das paradas britânicas
1971 parecia ser o ano do Atomic Rooster. Em janeiro eles emplacaram o primeiro sucesso nas paradas britânicas com o single “Tomorrow Night”, que alcançou a 12ª posição. Apareceram no Top Of The Pops e abandonaram o circuito de pubs e clubes para se apresentar em arenas.
A partir do mês de abril o líder do grupo, o tecladista (e ocasional vocalista) Vincent Crane, começou a ser pressionado pelo seu selo e empresário. Todos queriam um novo álbum e mais um single nas paradas. Para tanto, Crane sentiu necessidade de reformular completamente sua banda, até então um trio, com ele nos teclados, John Cann (depois Du Cann) na guitarra e vocal, e Paul Hammond na bateria. E que trio, pois com essa formação haviam registrado no ano anterior o álbum Death Walks Behind You, um marco do som pesado da época, disco que colocava o Atomic Rooster na frente da cena hard-prog. Um autêntico galo de briga.
As primeiras sessões do então novo álbum começaram a acontecer no estúdio londrino Trident, ainda com Crane, Cann e Hammond. O primeiro fruto é um hit em potencial, “Devil’s Answer”, um hard-pop cativante, repleto de ritmo e metais. Lançado imediatamente como compacto, foi ainda melhor nas paradas que o single anterior, pois chegou ao 10º posto.
Tudo parecia que ia decolar de vez, mas algo importunava Crane em demasia, os fracos e pouco potentes vocais de John Cann. O tecladista declarou então que precisava achar um vocalista de verdade para a sua banda, já que Cann estava naquele posto apenas improvisando temporariamente. Foi assim que Crane chegou ao excelente Pete French, um vocalista poderoso que estava se lançando ao mundo da música através de sua banda, chamada Leafhound, cujo álbum Growers Of Mushroom seria lançado em outubro daquele ano pela Decca.
French até hoje se lembra com clareza de quando chegou ao Trident, à convite de Crane: “Assim que cheguei ao estúdio eu saquei que iria substituir todos os vocais que John Cann havia gravado. Foi uma situação meio bizarra, pois algumas partes da guitarra de Cann também seriam limadas…”
Apesar das desavenças entre Crane e Cann, o clima no estúdio era propício, já que French sabia que estava prestes a gravar um dos registros definitivos de sua carreira como vocalista.
In Hearing Of… traz o Atomic Rooster como um quarteto e contém momentos progressivos, como nos solos de Hammond sempre inspirados de Crane, nas épicas instrumentais “A Spoonful Of Bromide Helps The Medicine Go Down” e “The Rock”, na delicada e melódica “Decision/Indecision”, e na climática “Black Snake”. Podemos dizer que aqui a faceta prog de Crane torna-se mais saliente. A pauleira hard também rola solta em “Head In The Sky”, “The Price” e “Break The Ice”; mas não se trata daquele hard reto e sem tempero. O Rooster tem balanço e pegada funky, basta conferir a abertura do disco, com a clássica “Breakthrough”. Tudo isso embalado numa curiosa e divertida capa rabiscada pelo lendário Roger Dean, uma arte gráfica que se não estaria depois entre as suas mais conceituadas, pelo menos já oferecia indícios de seu inimitável estilo.
In Hearing Of… chegou às lojas em agosto de 1971, via o pequeno selo Pegasus. Foi recebido com entusiasmo pelos fãs, que o colocaram de imediato na 4ª posição das paradas britânicas.
O mesmo entusiasmo não foi compartilhado pela imprensa. Numa resenha publicada em 21 de agosto, a Melody Maker escreveu: “Em termos de valor musical este álbum não significa nada, absolutamente nada. Riffs ‘espertos’ de guitarra são expandidos ao seu limite, até tornarem-se monótonos. Tudo gravado por um grupo que soa sem alma e mal ensaiado, mesmo podendo se gabar em gravar em oito canais.”
O grupo por sua vez, principalmente o problemático Vincent Crane, não soube aproveitar a chance e a projeção nas paradas. A banda deveria estar mais unida do que nunca e assim cair na estrada para promover In Hearing Of… com toda suas forças. Foi exatamente neste precioso momento que Crane demitiu John Cann. Paul Hammond resolveu tomar as dores do amigo e também se mandou. Crane ficou somente com French e com uma demanda enorme de apresentações e aparições em rádios e TVs, e uma iminente excursão pelos EUA.
Crane corre como um louco e às pressas convoca o guitarrista Steve Bolton e o baterista Ric Parnell. Partem para a América e abrem shows de Yes, Alice Cooper Group e Cactus. Foi aí que Carmine Appice e Tim Bogert fisgaram Pete French, que trocou o Atomic Rooster pelo Cactus, fazendo com que Crane apelasse para os ofícios de um grande amigo e lenda do rock britânico dos anos 60, Chris Farlowe.