A meteórica ascensão do Cheap Trick na terra do sol nascente
“Fomos para o Japão no rabo do avião e voltamos de primeira classe”. É assim que o guitarrista Rick Nielsen resumiu a meteórica ascensão de sua banda na terra do sol nascente.
Em 1978 o Cheap Trick era mais famoso pelos shows energéticos do que pelos álbuns. Fazendo uma média de 300 apresentações por ano, a banda de Rockford, Illinois, abria shows de nomes como Kiss, Be Bop Deluxe, Kansas e Santana, mas seus álbuns até então eram um verdadeiro fracasso de vendas: Cheap Trick (1977), In Colour (1977) e Heaven Tonight (1978). Curiosamente no Japão a história era diferente; ali esses álbuns vinham se mostrando um grande sucesso…
Foi aí que em abril de 1978 o Cheap Trick se mandou para a primeira tour pelo país do Sushi, sem na verdade saber o que esperar dos fãs. Na chegada, 5.000 jovens enlouquecidos esperavam o grupo no aeroporto, dando à tônica do que estava por vir pela frente, algo somente comparável à mesma histeria nipônica causada pelos Beatles 12 anos antes, quando passaram pelo Japão em sua derradeira turnê internacional.
Os fãs seguiam o Cheap Trick por todo o lado e faziam verdadeiras loucuras para chegar mais próximo de seus ídolos. Ficava difícil dos músicos se locomoverem pela cidade, ou sequer sair do hotel, pois do nada alguma adolescente enlouquecida poderia pular na frente de um trem ou correr por um cruzamento movimentado em busca de um contato maior com a banda. Toda essa receptividade calorosa explodiu durante o show de Osaka e os dois de Tóquio, realizados no sagrado Budokan Hall e registrados magistralmente em rolo.
Curioso que a CBS/Sony japonesa tinha uma norma contratual: toda banda internacional do selo que se apresentasse no Japão era obrigada a deixar seu show ser registrado e lançado no acirrado mercado fonográfico local, como um produto único e exclusivo para os fãs japoneses.
A gravadora japonesa também insistiu para que as canções mais comerciais da banda estivessem no álbum: “Come On Come On”, “I Want You To Want Me”, “Surrender” e “Clock Strikes Ten”. Já pauladas, que também marcaram presença nos shows, como “ELO Kiddies”, “Speak Now Or Forever Hold Your Peace” (original do mestre Terry Reid) e “Auf Wiedersehen” (que falava sobre suicídio) ficaram de fora, fazendo com que o projeto original de um disco duplo fosse abandonado no último instante. Mesmo assim, a qualidade do material, a energia das versões, a atuação irrepreensível de Robin Zander, Rick Nielsen, Tom Petersson e Bun E. Carlos, e a insanidade do público adolescente feminino japonês, acabaram fazendo de Cheap Trick At Budokan um dos grandes álbuns ao vivo da história do rock.
A triunfante jornada nipônica do grupo rendeu um artigo na Rolling Stone norte-americana, que exaltava o fato daqueles desconhecidos ianques serem motivo de idolatria no outro lado do mundo. O que aconteceu foi que as lojas norte-americanas tiveram que começar a importar o disco do Japão, transformando-o no álbum importado mais vendido na América. A Epic aproveitou e lançou então um sampler exclusivo para as rádios (From Tokyo To You), que começaram a tocar exaustivamente o material. O próximo passo foi lançar o disco no mundo todo.
Pronto, o Cheap Trick praticamente “ganhava na loteria” e alcançava assim o tão buscado sucesso em seu país natal, além de instaurar uma moda na indústria do disco: os lançamentos batizados como “Live At Budokan”, seguido à risca por nomes tão distintos como Ozzy Osbourne, Blur, Dream Theater, Bryan Adams, Mr. Big, SOD (uma gozação) e Avril Lavigne.