Um marco da psicodelia surrealista dos anos 60, da Itália para o mundo
Na metade da década de 1960, Mario Schifano era uma espécie de Andy Warhol italiano. Pintor, colagista, agitador, diretor de cinema e músico amador nas horas vagas, o prolífico e exuberante pós-modernista acompanhava apaixonadamente a pop art de Warhol.
Assim como o artista multimídia norte-americano, que adentrou ao submundo do rock ao mais que apadrinhar o Velvet Underground, Schifano fez algo parecido ao criar o projeto Le Stelle Di Mario Schifano, ou seja, suas estrelas – nada mais que quatro talentosos músicos desconhecidos.
Influenciados pelo próprio Velvet e pelo Mothers Of Invention, passaram a tocar com frequência em clubes do underground romano. Improvisos, happenings, orgias e exibições de arte e cinema. Tudo era pretexto para o grupo fornecer seu ousado pano musical. Com algumas linhas de improviso na cabeça, partiram para Turim para gravar seu primeiro disco.
Dedicato A… surgiu em 1967 ,e assim como Freak Out!, do Mothers, continha uma lista de agradecimentos quilométrica (daí a inspiração para o nome do disco). Se Zappa acabou concentrando-se em honrar nomes mais vanguardistas em seu LP de estreia, Schifano foi agradecendo que apreciava, gente como Antonioni, Keith Richards, Beatles, Dylan, Che Guevara, Brian Jones, Godard, Fellini, Elvis, Ginsberg, Clapton, Warhol, Nico, e claro, Zappa e os Velvets. A capa do disco, também estelar, inovou por seu tom minimalista e sua coloração prata e rosa. Dedicato A… acabou se tornando um marco da psicodelia ingênua surrealista do período.
O disco fez tanto a cabeça de Marianne Faithfull, que ela resolveu até ter um caso com Mario Schifano, por volta de 1969. O artista, por sua vez, faleceu em 1998, depois de ter carregado por décadas um vício em drogas pesadas e por isso o apelido de “maledetto”.
Texto de originalmente publicado na pZ 51.