Uma homenagem ao grande guitarrista do Spirit
Melrose Avenue, a famosa avenida de Los Angeles que começa na Santa Monica Boulevard e termina em Hoover Street, em Silver Lake, entre Beverly Hills e o West Hollywood… Foi ali que o nosso protagonista começou sua jornada musical. Randy California era filho de Robert Wolfe, um bem sucedido homem de negócios e de Bernice Pearl, uma cantora folk, daquelas que fazia questão de passar algumas lições no violão para o filho, então com apenas cinco anos de idade.
Bernice tinha um irmão chamado Ed Pearl e esse fundou o Ash Grove, um respeitadíssimo clube noturno localizado na Melrose Avenue, que trazia blues e folk como principal atração do menu. Ali, Ed Pearl, o tio de Randy California, oferecia não só uma cerveja gelada aos músicos que por lá passavam, mas também hospedagem e uma calorosa recepção pra lá de “caseira”. Assim o jovem Randy aprimorava os licks ensinados pela sua mãe, numa convivência quase que diária com lendas como John Lee Hooker e Mississippi John Hurt, figuras carimbadas da sala de estar da família Pearl. Esse aprendizado de Randy não poderia ter sido melhor, já que o garoto crescia e aprendia com a nata do folk, do jazz, e do blues; na cozinha de sua própria casa.
O baterista Ed Cassidy conheceu Bernice (mãe de Randy) quando tocava no Ash Grove, em 1965. Ela estava se separando do pai de Randy e foi Cassidy que acabou se tornando o padrasto do garoto, com quem montou o grupo Spirit, em 1967. Os dois tinham quase 30 anos de diferença entre si, mas o relacionamento entre ambos sempre foi bem amigável, sendo que a própria carreira do Spirit sempre se estruturou em função dessa robusta e duradoura amizade.
A primeira viagem psicodélica de Randy e do Spirit registrada em disco foi lançada em 22 de janeiro de 1968, e acabou se tornando um marco, chegando ao 31º posto das paradas, por onde permaneceu por oito meses.
Um segundo trabalho foi encomendado ainda naquele ano de 1968. O Spirit deixava claro que gostaria de mostrar um som mais pesado e cru, mais próximo talvez do que eles apresentavam nos shows e nos ensaios. The Family That Plays Together surgia então nessa vibração, com o pessoal mais empolgado do que nunca.
Lançar um terceiro disco na primeira metade de 1969 parecia loucura, mas foi o que aconteceu, com o grupo soltando outra pequena obra-prima, Clear, mais jazzy e instrumental que os demais, um dos favoritos dos fãs. Mesmo assim Clear não agradou nenhum integrante da banda – aquela “colcha de retalhos” em formato de álbum definitivamente não era o que os rapazes queriam para o grupo.
O próximo disco da banda foi o fantasmagórico e sublime Twelve Dreams of Dr. Sardonicus. Com composições certeiras e uma produção inventiva, o quarto disco do Spirit mesclava psicodelia com ficção científica, uma receita infalível que fez deste o mais bem conceituado álbum do grupo dentro da critica especializada. Apesar do status atual de clássico, na época, Dr. Sardonicus foi simplesmente arrasado numa resenha da Rolling Stone. Bastou para as vendas novamente não serem das melhores.
California começou então a se dedicar a uma carreira solo, deixando o Spirit para Cassidy, que lançou o pouco inspirado Feedback, em 1972, mais voltado para o country-rock. Dessa sua época solo, California lançou o essencial álbum Kapt. Kopter and the (Fabulous) Twirly Birds (1972), bem na onda do Experience de Hendrix, inclusive com canjas de Mitch Mitchell e Noel Redding. O Spirit voltou no ano seguinte como um trio, e passou um tempo na Inglaterra, onde Randy tentou se matar pulando de uma ponte num rio praticamente congelado! O guitarrista sobreviveu a toda essa loucura e lançou, com o Spirit, mais um disco genial, o duplo Spirit Of 76, um dos melhores trabalhos da banda e de toda sua conturbada carreira.
Em janeiro de 1997 pintou a triste notícia: o guitarrista Randy California estava desaparecido. Ele havia sido sugado pelo bravo mar havaiano enquanto surfava com seu filho de 12 anos de idade. O garoto (Quinn) sobreviveu, salvo pelo pai, mas Randy nunca mais foi encontrado.
Quando se fala da influência de Randy California e seu Spirit em outros grupos, o primeiro grande nome que vem a cabeça é o Led Zeppelin. A banda britânica costumava abrir shows da banda de Randy California em 1968, e como resultado disso, acabou assimilando algumas influências cruciais para a sua posterior sonoridade. Jimmy Page incluiu no repertório do Led (naqueles famosos medleys que encerravam os concertos do grupo) trechos de “Fresh Garbage”, canção do primeiro álbum do Spirit.
Foi na mão de Randy California que o velho Page gamou no Theremin, como o próprio declarou no livro Jimmy Page: Tangents Within a Framework, de Howard Mylett, “Lembro de ver o grupo Spirit usar um Theremin em seus shows…”. Outra associação do Led com o Spirit que já se tornou lendária é a semelhança da introdução de “Stairway To Heaven” (lançada em 1971) com “Taurus” (lançada em 1968), faixa-instrumental contida na estréia da banda norte-americana. Numa única ouvida já dá pra sacar a assustadora semelhança. Falando em semelhança, repare também na introdução da faixa “Spirit” (do primeiro álbum deles, 1968) com a introdução de “Gypsy” do Uriah Heep, lançada em 1970; e ainda na introdução de “Space Child” (de 1970) com o piano de “FM” do Steely Dan (de 1978).
Versões de sons do Spirit também pintaram por aí através dos anos. Podemos destacar a versão do Blackfoot para “I Got A Line On You”, lançada pela banda em 1979 no grande álbum Strikes (que também trazia covers de Blues Image e Free); Alice Cooper, Jeff Healey e Kim Mitchell (Max Webster) também fizeram as suas versões para o hit maior do Spirit. “So Little Time To Fly”, faixa do álbum Clear, foi regravada pelo Status Quo como “Time to Fly”. “Nature’s Way” recebeu novas roupagens em versões na voz de Christopher Cross e Victoria Williams; já a cantora pop, Pink, sampleou trechos de “Fresh Garbage”. E tem mais: a temática usada por California na canção “1984”, baseada no livro homônimo de George Orwell, também serviu para composições de David Bowie, New Model Army e outros.
Precisamos de um PoeiraZine com o Spirit na Capa!!!!
Concordo com o Alexandre!