A famosa “capa do fogo” foi recolhida pela gravadora, mas mesmo assim ficou impossível não associar esse grande disco à tragédia atravessada por um grupo em plena ascendência criativa e musical
Com o lançamento do duplo One More For The Road, ficava claro que o Lynyrd Skynyrd era um dos melhores shows para se conferir naquele verão de 1976. Grandes estádios e festivais passaram a ser rotina para a banda.
O grupo sulista foi uma das atrações principais no mega-concerto para a campanha presidencial de Jimmy Carter, realizado no Gator Bowl Stadium. Na Inglaterra, deixaram uma imensa plateia de queixo caído ao se apresentarem no festival de Knebworth, que naquele ano tinha os Rolling Stones como headliners. A Europa literalmente caiu aos pés dos caipiras. Até no Japão o Lynyrd Skynyrd fazia muito sucesso; as tours por lá eram sempre um sucesso e com tanto prestígio mundo afora, o velho ônibus que a banda excursionava foi trocado por um avião particular.
A entrada do guitarrista Steve Gaines revigorou uma banda em aparente estagnação criativa. Todos passavam a ter boas ideias novamente e a vontade de gravar um novo disco de estúdio era imensa. As novas composições apareciam espontaneamente na estrada, em quartos de hotel, nas viagens, etc. Ronnie Van Zant se deu tão bem com Gaines que até abandonou a ideia de deixar a banda; o vocalista voltava a ter o mesmo tesão pelo palco do início de carreira.
Quando a banda já possuía material suficiente, se mandaram para o famoso Criteria Studios, na Flórida. Novamente ao lado de Tom Dowd, começaram a produção de um novo álbum. Quando tudo estava praticamente gravado, os músicos acabaram discutindo com Dowd e abandonaram o aconchegante estúdio, caindo na estrada e aproveitando a alta temporada de shows pela América (o verão de 1977). Quem assistiu algum desses concertos garante que o auge da banda era evidente, e o entrosamento, pra lá de absurdo.
Terminada a pequena tour e com um disco para ser finalizado, o Lynyrd voltou para o estúdio (sem Dowd, que relutou em voltar) e deu os toques finais em Street Survivors, que teve seu nome inspirado numa citação de Van Zant, onde ele afirmava que o Lynyrd Skynyrd era apenas um bando de gente que havia sobrevivido das ruas.
Steve Gaines, que aparecia timidamente no disco ao vivo, agora mostrava ao que veio, dominando Street Survivors com seu incrível talento. Gaines era o responsável por maravilhas como “I Know a Little”, “I Never Dreamed”, “You Got That Right” e “Ain’t No Good Life”, essa última contando com seus afiados vocais, que apareciam também num inusitado dueto com Van Zant em “You Got That Right”.
Outros destaques: a abertura com “What’s Yor Name”, “One More Time” (outra antiga canção da banda), a versão para “Honk Tonk Night Time Man”, original de Merle Haggard, e principalmente “That Smell”, um dos melhores trabalhos de três guitarras da história do rock.
Depois de uma fase difícil, de muitas críticas e decepções, o Lynyrd Skynyrd voltava com tudo aos estúdios e lançava seu clássico definitivo, o maior sucesso da banda até então. Basta lembrar que o álbum já era disco de ouro antes mesmo de ser lançado.
Três dias depois do lançamento ocorreu o acidente aéreo que matou Ronnie Van Zant, Steve e Cassie Gaines. A famosa “capa do fogo” foi recolhida pela gravadora, mas mesmo assim ficou impossível não associar esse grande disco à tragédia atravessada por um grupo em plena ascendência criativa e musical.