O hit póstumo que definiu a psicodelia britânica dos anos 60, graças a Al Kooper
Foi em março de 1967 que o mundo dos Zombies desabou de vez… De volta de uma grande excursão pelas Filipinas, onde tocaram para mais de 30 mil fãs em uma única semana, a banda estava literalmente “quebrada”. Com poucas libras no bolso, os integrantes, completamente desiludidos, queriam saber de outros projetos… O vocalista Colin Blunstone, por exemplo, nem sequer dormia mais só de pensar de ter que voltar a tocar no circuito de pubs e Universidades em troca de cerveja e ainda ter que dirigir a van do grupo e dar uma de tour manager. Para ele, lugar de zumbi era enterrado debaixo da terra…
Quem também não via a hora de cair fora era o recém casado guitarrista Paul Atkinson, que precisava agora pagar as contas que surgiam com o matrimônio. Depois de uma reunião entre o grupo, na casa do baixista Chris White, ficou acertado que acabariam mesmo com tudo, mas antes gravariam mais um disco como despedida.
Durante três semanas do verão de 1967 a banda alugou um salão, onde ensaiaram com muito esmero o novo material. As gravações aconteceram em Abbey Road, com produção de Argent e White, cansados de sofrer na mão de produtores insensíveis. Num mar de azar e prejuízo os Zombies pelo menos tiveram sorte por gravar nas renomadas salas do Abbey Road, aliás eles foram a primeira banda que não era contratada da EMI a gravar no local. Isso ainda consequentemente refletiu num fundamental detalhe: quem seria o engenheiro de som dos rapazes era Geoff Emerick, o renomado engenheiro que trabalhava com os Beatles.
Apesar do clima desolador, as gravações do que viria a ser a obra-prima Odessey And Oracle aconteceram normalmente. Apenas numa das sessões aconteceu algo engraçado: o staff do estúdio sempre foi super rigoroso com os horários das gravações. O pessoal dos Zombies se excedeu em alguns minutos numa ocasião específica, mas isso não foi desculpa para alguns funcionários retirarem o piano do estúdio enquanto Rod Argent estava sentado no mesmo… Sendo um excelente grupo vocal, os Zombies continuaram fazendo música mesmo sem piano e com os funcionários desmontando tudo o que viam pela frente.
A última canção a ser composta para aquelas sessões de gravação foi “Time Of The Season”, um blend hipnótico e sexy repleto de vocais sussurrados, quebras de tempo, teclados jazzísticos e uma linha de baixo caliente. Segundo Rod Argent, a música é uma herança de outros temas como “She’s Not There” e “Summertime”. Já a letra reflete uma certa riqueza espiritual, ao invés da material. Influência direta de Beatles em “Baby You’re A Rich Man”.
“Time Of The Season” é a última faixa de Odessey And Oracle e seu terceiro single. Tanto o compacto como o álbum falharam miseravelmente na Inglaterra, tendo crítica e público tratando o grupo com completa indiferença. Nesse amargo panorama a banda encerrou suas atividades assim que o disco chegou às prateleiras. Rod Argent tratou de fazer audições com músicos para sua nova banda; Chris White de início também se animou com a idéia de Argent. Grundy e Atkinson sumiram completamente e Colin Blunstone foi ser corretor de seguros…
E a vida dos zumbis ia rolando nesse pique letárgico, até que, no início do ano seguinte (1968), Al Kooper estava de férias em Londres e lá comprou cerca de 40 LPs de grupos ingleses, em sua maioria, lançamentos que não chegavam ao outro lado do Atlântico. Dentre esse baú de LPs que cruzou o oceano estava Odessey And Oracle, e a faixa que deixou Kooper completamente ensandecido era “Time Of The Season”.
No primeiro dia em seu novo trabalho, Kooper, agora um staff producer da Columbia Records, chegou intimando seu chefe, o temível Clive Davis. Kooper sugeriu que o selo comprasse os direitos daquele disco e o lançasse nos EUA, pois tinha certeza que seria um sucesso estrondoso. Davis não estava colocando muita fé em seu novo funcionário e pensou em deixar tudo de lado num primeiro momento. Depois de mais pedidos insistentes de Kooper, Davis lançou o disco pela subsidiária Date Records, e pediu para que o próprio Kooper contasse a história de como achou tal álbum por suas andanças londrinas através de um texto estampado na contra-capa da edição ianque da bolacha. De início o lançamento não deu em nada, pois o selo não promoveu o disco e pra piorar lançou dois singles mal escolhidos. Só na terceira tacada é que seguiram o conselho de Kooper e lançaram “Time Of The Season” como single, um tremendo estouro em fevereiro de 1969, chegando na segunda colocação das paradas.
Fazia um ano que o grupo não existia mais e agora eles vendiam dois milhões de cópias mundo afora. Haja azar!
Promotores norte-americanos não quiseram nem saber e trataram de capitalizar pra cima do sucesso da banda britânica, colocando na estrada sem o menor pudor, músicos impostores e oportunistas usando o nome “The Zombies”. Isso rendeu muita confusão pelos EUA em 1969…
Já a banda original (menos Atkinson, que morreu) voltou em 2008 para tocar pela primeira vez Odessey And Oracle nos palcos e desfrutar um pouco do sucesso “póstumo” do álbum, que cada vez mais conquista ardorosos novos fãs. Um excelente DVD desse show também foi lançado.
Escrita por Rod Argent
Execução: Rod Argent,
Paul Atkinson, Colin Blunstone, Hugh Grundy e Chris White
Produção de Rod Argent e Chris White
Lançada como single em:
abril ‘68 / fevereiro ‘69
Uk chart: nenhum
US chart: #2
Disponível no disco:
Odessey And Oracle, Columbia
Artigo originalmente publicado na pZ 27
Clássico absoluto!
No Brasil começou a tocar, acho que, em 1970. Me lembro de ouvir no AM Rádio Excelcior, A Máquina do Som! Muita saudade!